Sheila acredita que o projeto estimulará o profissionalismo |
O Projeto de Lei n; 512/2013, do senador Mário Couto (PSDB-PA) está pronto para ser votado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. A proposta reconhece como profissão as atividades de mestre de cerimônia e recebeu parecer favorável do relator Cícero Lucena (PSDB-PB), que adicionou emenda ao projeto para garantir que a ocupação não seja apenas reconhecida, mas também regulamentada. Segundo a emenda, seria necessário concluir o ensino médio e um curso profissionalizante com pelo menos 60 horas de duração para exercer a profissão.
Marcada por competências específicas, a profissão exige conhecimento dos diversos protocolos ligados a eventos governamentais, empresariais ou sociais e demanda que o profissional conduza a cerimônia com etiqueta e formalidade para representar a organização contratante. Segundo Lícia Egger-Moellwald, autora de livros na área, o mestre de cerimônias tem que cumprir protocolos, ou seja, os conjuntos de normas que formalizam a hierarquia e a deferência entre as autoridades presentes. ;Esse profissional está na linha de frente dos acontecimentos. Não no papel principal, mas na função de receber e orientar as pessoas que são foco do evento;, esclarece.
Reconhecimento
Sheila Borges, 55 anos, conhece de perto esse desafio. Ela trabalha como mestre de cerimônias desde a década de 1990 e conduziu cerimônias de empresas e de órgãos governamentais. Para Sheila, o reconhecimento é fundamental para valorizar a categoria e garantir que a função seja exercida por profissionais qualificados. ;Muita gente sem capacitação para ser mestre de cerimônias se coloca como tal porque acha que tem uma voz bonita e acaba atrapalhando todo o trabalho de um órgão público ou de uma empresa, além de prejudicar a imagem de quem é mestre de cerimônias e estuda realmente para isso;, enfatiza.
Outra dificuldade é a insegurança sobre o pagamento e outros compromissos por parte do contratante. Mesmo com vasta experiência na área e tendo conduzido mais de 300 cerimônias, Carlos Brant Júnior, 31 anos, dirigente da Câmara Nacional de Mestres de Cerimônias do Sindicato dos Cerimonialistas e Mestres de Cerimônia do Brasil (SINCMC), passa por esse problema. ;Muita empresa dá calote ou atrasa. Eu já levei seis meses para receber um pagamento. Com o reconhecimento, o sindicato pode agir se o contratante não pagar, não respeitar o horário ou não definir hora extra, por exemplo.;
Mais horas de estudo
O presidente do SINCMC, Marcelo Pinheiro, se preocupa com a possível desorganização do mercado e a descaracterização da profissão caso a regulamentação não seja aprimorada. ;Há mais de 20 mil mestres de cerimônia em todo o país, que não podem ser confundidos com outros profissionais da voz, como locutores e apresentadores, que não estão qualificados para exercer a profissão;, avalia.
De acordo com o professor Jailson Guimarães Pinheiro, que ministra cursos na área de oratória e cerimonial no Instituto Sólida, as condições propostas pelo PL para exercer a profissão são insuficientes. ;O ideal seria exigir do profissional, no mínimo, 240 horas de curso técnico. Com 60 horas, dá para fazer apenas um curso de oratória;, explica.
Que mico!
Marcelo Pinheiro, presidente do Sindicato dos Cerimonialistas e Mestres de Cerimônia do Brasil (SINCMC), recorda algumas gafes famosas cometidas por pessoas que não tinham capacitação técnica na área de cerimonial.
Veta, Dilma
A solenidade de entrega de título de doutor honoris causa, no Rio de Janeiro, ao ex-presidente Lula, em maio de 2012, foi conduzida pela atriz Camila Pitanga. À época, o novo código florestal brasileiro seria apreciado pela presidente Dilma Rousseff. Antes de introduzir a fala da presidente, a atriz tomou a liberdade de fazer um pedido: ;Veta, Dilma!”. Um mestre de cerimônias nunca toma a liberdade de se dirigir dessa forma a uma chefe de estado.
Levantem-se
Durante jogos da Copa do Mundo de 2014, o profissional que conduzia os eventos pedia que as pessoas se levantassem no momento da execução dos hinos nacionais. ;Estamos na era da acessibilidade, e p essoas com deficiência não podem se levantar, mas podem ter uma atitude de respeito sem passar por esse constrangimento;, esclarece Marcelo Pinheiro.