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Corre de um lado para o outro, cozinha, conversa com clientes, negocia com fornecedores, orienta garçons, cuida da contabilidade e ainda arruma tempo para dar atenção aos três filhos ; de 15, 7 e 6 anos ; que ficam no restaurante com ela quando não estão na escola. Essa é a rotina apertada de Rosângela Araújo, 40 anos, que comanda o Acarajé da Rosa, na 210 Norte, há mais de 15 anos. De sorriso fácil, adora uma boa conversa. Não é a toa que, para muitos fregueses, não basta sentar e comer: eles fazem questão de bater papo com a proprietária.
O espaço de 36m; recebe cerca de 150 pessoas diariamente de segunda a sexta-feira e em torno de 400 clientes a cada dia nos fins de semana. A proposta é oferecer culinária com tempero original baiano de preço acessível ; fórmula que deu certo. O local serve refeições e petiscos de carne, peixe e crustáceos, além de pastéis, omeletes, sarapatéis, beijus e cocadas. ;O acarajé, as casquinhas e as moquecas são os carros-chefes daqui;, conta a empresária.
O segredo do acarajé, segundo ela, é uma massa de feijão de boa qualidade. Alimentos frescos também fazem a diferença. ;Compramos muita coisa da Seasa. Os frutos do mar vêm direito da praia. O camarão, por exemplo, é de um fornecedor de confiança de Alagoas.; Moradora da Candangolândia, a baiana quase não descansa. ;Até na segunda-feira, em que o lugar fica fechado, resolvo coisas até meia-noite.;
Em Brasília, Rosa trabalha com nove garçons, com o marido, que coordena o atendimento, e com um de seus irmãos, que fica no caixa. A parceria familiar já foi maior. ;Sou a segunda de sete filhos. Todos os meus irmãos vieram morar aqui para trabalhar comigo. Depois, cada um tomou seu rumo;, diz. Trabalhar em família, segundo Rosa, é bom, mas difícil. ;Volta e meia tem briga porque somos estourados. Mas baiano é um povo tranquilo: não guarda raiva e, rapidinho, fica tudo bem.;
Rosa deve aos laços de sangue muito mais que a parceria: acostumada a fazer e a vender acarajés desde os 12 anos, Rosa aprendeu tudo que sabe fazer com a mãe, que ainda está no ramo. ;Até hoje ela faz e vende acarajés na praia de Itapuã, em Salvador. Minha comida é tão boa quanto a dela;, garante. Apesar de já ter feito cursos de cozinha em locais como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para se aprimorar, a cozinheira não abre mão das raízes e do tempero baiano.
Questionada sobre os clientes daqui, Rosa diz que eles não têm estômago forte. ;Brasiliense também gosta de acarajé, mas come menos. Baiano é acostumado a comer acarajé até de manhã, aguenta o azeite de dendê;, compara. Mesmo assim, desde que chegou ao DF, as delícias preparadas por ela a guiaram até a abertura do próprio negócio. ;Vim para Brasília aos 23 anos para ter uma vida melhor. Comecei vendendo nas ruas e em restaurantes até conseguir o próprio ponto na 210 Norte. O mais difícil foi arrumar verba para abrir o negócio, ; lembra.
O apelido de Rosa foi dado pelos clientes. ;O pessoal sempre vinha perguntando pelo ;acarajé da Rosa;. Fiquei conhecida e foi assim que batizei o meu negócio;, conta. O segredo do sucesso está em dois pontos principais. ;Além da comida de qualidade, com tempero baiano, o contato direito com os clientes faz diferença. Mesmo atarefada, não posso deixar de dar atenção à clientela;, relata.
Na correria do dia a dia, Rosa só lamenta ter pouco tempo para os filhos. ;É um trabalho estressante. Não dá para tirar férias todo ano. Faz sete anos que não vou à Bahia.; Apesar disso, compensa. ;Gosto de cozinhar e gosto do que faço. Não dá para ficar rica, mas levo com alegria.;
Tropeços
Depois de estabelecer o negócio na Asa Norte, o Acarajé da Rosa chegou à 204 Sul ; onde ficou por nove anos ; e a um shopping no Setor de Clubes Sul ; onde esteve por cinco anos. A falta de profissionais capacitados e outros problemas levaram ao fechamento das duas unidades. ;Eu cozinhava para os três estabelecimentos. A rotatividade de garçons é muito alta. No shopping, quando o proprietário viu que eu estava crescendo, passou a aumentar o valor do aluguel de 3 em 3 meses: comecei pagando R$ 1,6 mil e, no fim, estava pagando R$ 7 mil. Por isso, resolvi fechar. Não dava para aguentar;, lembra. A empresária não pensa mais em expandir. ;Eu perdi muito dinheiro. É melhor manter um só lugar com qualidade do que vários pontos sem ter condições;, finaliza.