Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

A educação que transforma

"Há um mês, um jovem me procurou. Disse que estava formado e que um conselho meu era a razão para o sucesso profissional dele" Cida Lima, coordenadora do programa ViraVida


Cida Lima é um exemplo de dedicação ao próximo. Filha mais velha de quatro irmãos, a moradora de Taguatinga, teve como exemplo do pai, um caminhoneiro analfabeto, a importância de investir em educação. ;Ele sempre falava sobre o sonho de ter um filho formado. Eu, graças a Deus, consegui virar pedagoga;, orgulha-se a coordenadora do ViraVida. Iniciativa do Serviço Social da Indústria (Sesi), o programa acolhe jovens de 14 a 24 anos, moradores de periferias de grandes centros, que foram marcados por experiências relacionadas à violência física e psicológica, gravidez precoce e dependência química.

Antes do contato com garotos e garotas marginalizados, Cida trabalhou no Sesi de Ceilândia como orientadora vocacional, convite recebido logo após concluir uma pós-graduação em recursos humanos. ;Com o passar do tempo, porém, não estava mais me encontrando, já que trabalhava mais com a área da gestão da escola;, lembra. O contato direto com jovens começou em 2003, quando ela foi trabalhar no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). ;As turmas que eu coordenava tinham resultados diferentes dos habituais. Fui vendo que eu tinha alguma coisa com os jovens, e eles comigo, que a gente construía juntos;, conta.

No mesmo período, a pedagoga iniciou a segunda graduação, em educação profissional. Paralelo ao trabalho, também ajudava jovens marginalizados por meio de projetos da igreja que frequentava. Cinco anos depois, voltou ao Sesi para coordenar o ViraVida. ;No mês em que entrei no programa, fui fazer uma especialização em terapia comunitária para atuar com populações vulneráveis;, conta. No curso, ela descobriu que sua vocação era, de fato, ajudar jovens marginalizados.

Descoberta feita, a lei do retorno evidenciou-se: quanto mais Cida se doava aos participantes do programa, mais recebia em troca e se sentia completa. ;Hoje, penso que proporciono a eles alternativas aos males que foram impostos ao longo da vida. O programa promove uma coisa que considero uma das mais maravilhosas: o renascimento. Eles chegam desacreditados de si e dos outros. Já ouvi de meninas que Deus havia esquecido delas porque quem deveria amá-las, na verdade, as agredia;, diz.

Segundo Cida, por meio de tratamentos médicos e odontológicos, orientação jurídica e atendimentos psicossociais, aqueles que fazem parte do programa conseguem recuperar a autoestima, se interessar pelo autoconhecimento e readquirir a possibilidade de sonhar. ;Há um mês, um jovem me procurou. Disse que estava formado e que um conselho meu era a razão para o sucesso profissional dele. Na verdade, veio agradecer e perguntar como poderia nos ajudar;, conta, emocionada.