Segundo ela, o segredo para o sucesso da academia, além da experiência e da tradição, é a honestidade do trabalho. Norma prima pela disciplina do corpo e da mente e ensina aos bailarinos e bailarinas não só a técnica da dança, mas também a ter uma postura diante da vida. Por isso, ela mantém o grau de exigência elevado: cabelos cuidadosamente presos, roupas e sapatilhas impecáveis e organização. Para sair ou entrar na sala de aula, meninos e meninas devem formar filas, inclusive se for apenas para beber água.
Outro ponto importante é a formação dos professores. Todos passam por capacitação oferecida pela própria academia. Norma afirma que não é possível dar aulas sem ter essa qualificação específica, mesmo se o candidato já tiver completado os estudos de balé. Um dos pontos de destaque do curso, por exemplo, é anatomia aplicada à dança. Esse conhecimento garante que os movimentos não prejudiquem o desenvolvimento físico da criança ou do adolescente. ;O balé é delicado, porém, pede do corpo uma energia muito grande;, diz Norma.
A academia chegou inclusive a oferecer, por um período, curso profissionalizante de 4 anos, reconhecido pelo Ministério da Educação. ;Uma coisa é você dançar, outra coisa é dar aula. Você tem que ter a pedagogia e a metodologia para dar aula. Fora os oito anos que você aprendeu de técnica, são mais cinco para aprender o bê-á-bá de como ensinar, desde o momento em que criancinha entra na sala de aula.;
Norma conta que o que a levou a ser professora e abrir a academia foi justamente a vinda para Brasília. Ela nasceu em Goiânia e começou a dançar e a montar coreografias aos 3 anos de idade. Tamanho talento impressionou o país e logo foi convidada para morar no Rio de Janeiro, onde completou os estudos de balé aos 13 anos na escola de dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro ; quatro anos mais cedo do que a trajetória normal de uma bailarina. Com a transferência do pai para a capital federal, nos primeiros anos após a inauguração da cidade, ela se viu morando em uma região praticamente deserta e, para continuar a dançar, a única alternativa era tornar-se professora.
A primeira turma foi formada em 1963 e as aulas eram dadas em uma sala no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Dez anos depois, a família comprou o espaço onde funcionava uma cozinha que produzia comida para os operários que trabalharam na construção de Brasília e reformaram o local. É lá, na 308 Sul, que está instalada até hoje a academia, que conta ainda com uma unidade no Sudoeste.
Atualmente, são cerca de 600 alunos matriculados e algumas personalidades marcaram a história da escola. A bailarina Ana Botafogo já dançou em apresentação da Norma Lillia, e a atriz Françoise Forton guarda com carinho as lembranças da época em que estudou balé na academia (leia o depoimento). Para manter o legado, e em razão da paixão pela dança, Norma trabalha de domingo a domingo. Quando não está em sala de aula, ensinando, prepara coreografias de óperas e balés. ;Minha mãe dizia que eu já nasci dançando;, brinca.
Depoimento
;Ela é uma lutadora, uma empreendedora;
;Quando conheci a Norma eu era uma menina, tinha 8 anos de idade. Eu tenho uma grande admiração por ela como professora, como pessoa, e ficamos muito amigas. Eu comecei a fazer balé em Brasília com ela, quando ela estava começando a formar a academia. Era a primeira turma, funcionava ainda no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Foram 12 anos, e foi maravilhoso na minha vida e na minha carreira. O balé sempre o foi o meu grande exercício de alma. Hoje, eu voltei a fazer balé, depois de um tempo parada, para a minha alma, e isso eu aprendi com a Norma. Além da técnica, ela tem um coração aberto e ocupado pela arte. Não tem uma vez que eu vá a Brasília e não visite a academia. Essa trajetória realmente faz parte da minha vida, tenho amigas de infância que fiz nesse momento. Muito cedo, eu aprendi com a Norma que o nosso ofício tem um prazer, uma dedicação e uma disciplina muito grandes. Essa disciplina que eu aprendi no balé eu levei para a minha vida. Foi assim que eu entendi a minha vocação, entendi o que é vocação: é essa disciplina não ser um peso, ser um prazer, um passo para você chegar aonde quer. Eu acho a Norma uma pioneira, uma desbravadora, uma artista, com uma vida dedicada a essa vocação. Ela é uma lutadora, uma empreendedora, sempre arriscando novos projetos e novos cursos. A história da academia está absolutamente ligada à história de Brasília ; e aí eu tenho muito orgulho de me incluir, porque sou brasiliense de alma ; e me orgulho também ao ver quantas pessoas a Norma ajudou a formar, não necessariamente como bailarinas, mas como seres humanos. Parabéns, mil vezes, Norma Lillia, e parabéns, brasilienses, por terem essa parceira. Norma, eu te amo!”
Françoise Forton, atriz e bailarina