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Ainda dá tempo de se capacitar e correr atrás de um emprego permanente ou temporário em Brasília para trabalhar durante a Copa

;Resolvi mudar de vida e também vi a Copa como uma oportunidade. Aprendi inglês instrumental, mas usei pouco ainda. Acho que o mundial vai ser o momento de praticar com os hóspedes de fora;
Verônica Soares,camareira


A pouco mais de dois meses do início da Copa do Mundo, os brasilienses têm as últimas chances de se preparar para conseguir um emprego durante o evento. De acordo com o Ministério do Turismo, Brasília receberá cerca de 600 mil turistas, sendo 400 mil de outros estados e 200 mil estrangeiros. Todo esse contingente extra de visitantes ajudará a movimentar a economia da capital. Segundo estudos da Secretaria de Trabalho do Distrito Federal (Setrab), o crescimento será maior nos setores de comércio, de serviços e na indústria de transformação, seguidos pela construção civil e reparação de veículos automotores e motocicletas. A expectativa da Setrab é de que os índices de desemprego sejam os mais baixos já registrados no período no mundial.

Desde 2011, o programa do Governo do Distrito Federal Qualificopa promove cursos para preparar mão de obra com o objetivo de atuar no evento. As formações são nas áreas de vendas e de telemarketing e também para garçom e operador de caixa. Mais de 8,3 mil pessoas já foram capacitadas, e a meta do governo é atender outras 6 mil até o mundial. O secretário do Trabalho do DF, Bispo Renato Andrade, afirma que a capacitação não servirá apenas para a Copa do Mundo, mas também para todos os grandes eventos que Brasília tem capacidade de atrair. ;Durante a época da Copa, a expectativa é de que tenhamos o menor índice de desemprego da história do DF e, o que é ainda melhor, mão de obra que saiba atender bem os turistas do exterior, de outras partes do Brasil e os moradores locais também;, completa. No programa, os profissionais são treinados principalmente para trabalhar na rede hoteleira, em bares, restaurantes e farmácias, e têm aulas de inglês, espanhol e libras, em cursos que duram, em média, 350 horas.

Rede hoteleira
Na rede hoteleira, a capital teve aumento de 30% da capacidade de atendimento a hóspedes, com oito novos hotéis construídos, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (ABIH-DF). Até o momento, sete estão prontos e, segundo o presidente da associação, Helder Carneiro, serão 2,5 mil novos quartos até a Copa. Ele diz que a maior carência de mão de obra qualificada é na área de alimentos e bebidas. ;As contratações para essa nova demanda serão de mil a 1,2 mil novos postos de emprego. Não tivemos problemas com profissionais como camareiras e recepcionistas, mas é muito difícil encontrar cozinheiros e garçons qualificados, por exemplo.; Carneiro diz que é preciso pensar no futuro e teme pelo aumento do mercado motivado pelos 30 dias de Copa do Mundo. ;Em dias normais, o movimento nos hotéis da cidade é somente na segunda, na terça e na quarta. Se o governo não começar a incentivar o turismo, investir em publicidade fora do estado e na captação de grandes eventos, serão mais 2,5 mil quartos sem clientes;, alerta.

Verônica Soares, 26 anos, era empregada doméstica quando recebeu indicação de uma amiga sobre um curso profissionalizante para camareira. Na formação, ela aprendeu a parte teórica e prática da nova profissão e, hoje, está empregada em um hotel de Brasília. ;Resolvi mudar de vida e também vi a Copa como uma oportunidade. Aprendi inglês instrumental, mas usei pouco ainda. Acho que o mundial vai ser o momento de praticar com os hóspedes de fora;, afirma.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no DF (Abrasel-DF) se prepara desde 2010 para atender a demanda da Copa. A entidade oferece, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no DF (Sebrae-DF), cursos para formação de garçom, bartender e gerente. ;O segmento tem carência de 20% de mão de obra qualificada (4 mil profissionais), mas, em três anos, já formamos cerca de 1,2 mil. Até o início do evento, serão mais 320;, diz o presidente da Abrasel-DF, Jaime Recena.

Além desses cursos profissionalizantes, a associação conta com o programa Learning for Life, em parceria com a fabricante de bebidas alcóolicas Diageo, que oferece cursos para jovens desempregados de 18 a 35 anos. ;São 180 horas divididas em 45 dias e é totalmente gratuito. Ao fim do curso de bartender, por exemplo, a média de contratação é de 70%;, diz Recena. Atuar no ramo exige cuidado com a higiene pessoal e habilidade para lidar com o público.

Para todos os gostos

As oportunidades estão aí não apenas para quem estará trabalhando diretamente com os jogos ou no setor hoteleiro e de alimentação: o ramo de beleza também espera se beneficiar com o evento. O cabelereiro Claudin Mercier, 27 anos, veio do Haiti para Brasília com o objetivo de conseguir uma oportunidade de emprego durante a Copa do Mundo. ;Eu já tinha alguns amigos que moravam aqui e me disseram que tinha trabalho. Vim e não demorou muito para conseguir um emprego;, diz. O haitiano foi selecionado pelo salão de beleza Universo Masculino, e sua habilidade em idiomas contribuiu para conseguir a vaga ; ele fala inglês, francês, espanhol e, agora, português.

Naiara Borges, dona do salão, diz que será preciso ter profissionais especializados na área e com facilidade de se comunicar com os diversos públicos que vão atender. ;Desde que abri o salão, sempre tive um funcionário bilíngue, pelo fato de ter muitos clientes de embaixadas, mas, com a Copa, essa demanda aumentou e tive que contratar mais trabalhadores com esse perfil;, conta.

A previsão do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) é de que serão criados ao menos 1,5 mil empregos temporários por causa dos sete jogos que ocorrerão em Brasília. O setor reúne 30 mil lojas de rua e de shoppings, e os segmentos com maior número de vagas serão o de confecção ; que vende material esportivo, como chuteiras, tênis, camisas das seleções e bolas ; e o de souvenirs. O presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, diz que o comércio nas imediações do estádio Mané Garrincha será bem movimentado nos dias de jogos, principalmente em 23 de junho, quando o Brasil enfrentará Camarões. Para ele, os shoppings que ficam na área central da cidade, próximos à arena, serão beneficiados com o fluxo de torcedores. ;Será uma excelente janela turística, vista por inúmeros países e por milhões de pessoas.;

Ao todo, a Fifa abriu 15 mil vagas nas 12 capitais que serão sedes da competição para trabalhar nas áreas de alimentos e bebidas e de hospitalidade nos estádios. Para Brasília, a campanha Quero vestir a camisa oferece 400 vagas nas áreas de alimentos e bebidas e mil na de hospitalidade. As inscrições vão até 11 de abril, e o processo de seleção seguirá até o fim do mês (veja o quadro). Segundo Juliana Nascimento, diretora de negócios da CSM Brasil, empresa responsável por oferecer treinamento específico para o desempenho de cada função, com ênfase no atendimento ao cliente, manuseio e transporte de alimentos e operação dos bares. ;O processo seletivo já está acontecendo para quem se inscreveu, mas ainda dá tempo de participar. Estamos buscando pessoas carismáticas e proativas. Quem se candidatar para a área de hospitalidade também deve ter inglês fluente, pois vai orientar torcedores de toda parte do mundo;, completa.

;É uma oportunidade única para tratar com diversos tipos de público. Hoje, estamos na era do potencial humano, e toda empresa depende muito dos funcionários. Queremos pessoas engajadas, que saibam tomar decisões imediatas, onde buscar o conhecimento e, no caso dos líderes, que tenham capacidade de direcionar bem o time;, diz Dorival Kulicheski, gerente da unidade de Trade Marketing da empresa de recrutamento, gestão e contratação ManpowerGroup Brasil, que vai recrutar 2 mil pessoas que queiram trabalhar nos estádios em caráter temporário. Para Brasília, são 180 vagas.

Demanda antiga

O presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) Júlio Miragaya diz que a demanda por reformas e empregos já existia, e que a Copa foi apenas o estopim para que os investimentos fossem feitos. Ele cita o exemplo do Expresso DF Sul ; eixo que liga Santa Maria e Gama ao Plano Piloto e que já funciona em fase de testes. ;Outra obra de grande importância para o turismo e até mesmo para atender o público local é a expansão do Aeroporto Internacional de Brasília, que era necessária há bastante tempo;, explica. Em relação aos riscos que a economia local pode sofrer, Miragaya aponta o possível mau desempenho da seleção brasileira. ;Se o Brasil for eliminado na primeira fase, ou nas oitavas de final, além da diminuição de pessoas nos estádios, as reuniões para assistir aos jogos e a movimentação em bares, por exemplo, não terão mais sentido. Esse pode ser um fator de desaquecimento no comércio;, afirma.

Durante a época da Copa, a expectativa é de que tenhamos o menor índice de desemprego da história do DF;
Bispo Renato Andrade, secretário de Trabalho do DF