Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Sabor caseiro

Empreendedora abriu negócio de doces e salgados que completa um ano com agenda cheia de encomendas

Depois de dar aulas de inglês, vender madeira e objetos antigos, trabalhar em aeroporto e num escritório de advocacia, Carolina Cunha Tonelli, 34 anos, decidiu que era hora de abrir o próprio negócio. ;Eu já estava casada e formada e pensei: ;Preciso fazer uma coisa que me faça feliz;;, conta. Com o apoio do marido, deixou o emprego e começou a testar as receitas que fazia eventualmente, para amigos e família. O sabor de comida caseira encantou os primeiros clientes, que passaram a fazer cada vez mais encomendas pelas redes sociais, o que ajudou o empreendimento a deslanchar. Pela internet, ela recebe 90% dos pedidos, que não são poucos: 150 por mês. Todos os dias ; de segunda a domingo ; Carolina tem entregas agendadas, que ela faz questão de cumprir pessoalmente.

A Dacuia tem a cara das pequenas coisas que viveu e das influências que teve nesse caminho: a torta de morango da tia, a tarte au citron australiana, a mãe nordestina, o pai mineiro, o curso de design de moda, os dois anos interrompidos da graduação em psicologia e até o pato com tucupi, prato preferido da época em que morou em Porto Velho, aos 8 anos. É por isso, inclusive, que faz questão de usar os dois sobrenomes, que carregam o lado artístico dos Cunhas e o dom para a cozinha dos Tonelli. Também é esse o motivo pelo qual ela valoriza a simplicidade dos produtos que vende. ;Não tem nada gourmet, é tudo muito simples;, observa.

Carolina cozinha em casa. Pertinho do lago, ela tem como inspiração uma varanda com rede e um quintal repleto de árvores, flores e frutos que, volta e meia, quando a estação do ano permite, são incorporados às receitas. ;Financeiramente estou muito feliz, estou fazendo o que eu gosto e existe reconhecimento dos meus clientes;, enumera. Em agosto, o negócio completou um ano e a página no Facebook tem mais de 800 amigos.

O cardápio inclui bolos caseiros, quiches, tortas e cheesecake. Tudo dentro da proposta inicial do negócio, a sustentabilidade. As embalagens são feitas com formas de papelão trançadas com barbante colorido e o cartão de apresentação da loja é de papel reciclado. Como designer, Carolina é exigente com a estética do produto. A identidade da marca foi bem resolvida desde o início, com a ajuda do marido, Renato, que é web designer. ;Não tenho vontade de abrir uma loja física. Talvez ir para uma casa maior, onde eu possa manter essa proposta;, relata.

Liberdade e valorização
Hoje, Carolina cuida de cada detalhe da produção, desde a compra do alimento até a entrega. Ela acredita ser essencial o contato com o cliente, o único elemento em comum de todos os empregos pelos quais passou. O retorno sobre o trabalho é um dos fatores que mais valoriza e que nunca tinha vivido plenamente nas outras funções que desempenhou. ;Parece que a valorização é artigo de luxo hoje. Se a pessoa falar bem de você é como se ela tivesse que te promover e te pagar muito mais. Isso é absurdo, porque você está fazendo o seu melhor. Eu sempre fui assim, sempre trabalhei dando o meu melhor, mas nunca achei que existia uma valorização;, critica.

Essa foi uma das razões pelas quais abriu negócio próprio. ;Sempre quis ter alguma coisa que fosse minha, eu não me adequo facilmente ao que é padrão;, diz. Carolina tem vontade de abrir um bistrô, que possa unir todas as paixões: a moda, as comidinhas e o atendimento ao público, mas prioriza a felicidade e aquilo que ela sabe ser o segredo do sucesso: ;Quem cuida sou eu, é isso. Para dar certo até hoje esse é o motivo;.