Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Capacitação a distância

Aulas não presenciais são opção para profissionais que buscam incrementar o currículo. Instituições renomadas oferecem cursos de graduação e de pós-graduação

Phelippe Kauã Maia, 25 anos, se formou em administração de empresas na Universidade de Brasília (UnB) e desejava deixar o currículo mais competitivo com uma pós-graduação. A instituição escolhida, a Universidade de São Paulo (USP), está entre as mais conceituadas do Brasil e foi a opção de Kauã devido à oferta de cursos não presenciais, já que mora em Brasília e trabalha como analista de projetos. O administrador de empresas iniciou a especialização há três semanas e se surpreendeu com a seriedade das atividades on-line. ;Eu tinha um pé atrás com a educação a distância, mas, já na primeira aula, interagi bastante com os professores e com os outros 50 alunos. Não encontraria em Brasília um curso tão interessante e com professores tão bons;, afirma.

Entre 2011 e 2012, as matrículas em cursos de graduação e de pós-graduação presenciais tiveram aumento de apenas 3%, enquanto as opções de formação superior a distância tiveram 12% de matrículas a mais, de acordo com o Censo da Educação Superior, divulgado na última semana. Os cursos a distância já concentram 15% dos universitários brasileiros, o que equivale a mais de 1 milhão de alunos. Desse total, 83,7% estudavam em instituições de ensino particulares em 2012.

Há quem ache que cursos dessa modalidade são mais fáceis, mas Kauã já percebeu que não é bem assim. ;Não tem moleza, não dá para enrolar. O número de atividades é grande, e o tutor acompanha tudo o que você faz. Além de duas horas de aula ao vivo, ainda tenho que estudar, pelo menos, cinco horas por semana.; Iran Junqueira, diretor de ensino de graduação a distância da UnB, alerta que se inscrever num curso mediado por tecnologia com a expectativa de se esforçar menos pode gerar frustrações. ;A percepção de que cursos a distância são mais ;leves; é totalmente errada. Não se pode abrir mão das competências que o aluno precisa aprimorar. Nessa modalidade, o estudante precisa se mostrar independente do professor e também autodidata, desenvolver hábitos de estudo e se esforçar ainda mais;, esclarece Junqueira.

Mais disciplina

Nina Claudia de Assunção, mestre em educação e professora da Universidade Católica de Brasília Virtual (UCB Virtual), atribui boa parte da responsabilidade por uma formação de qualidade ao interesse do aluno. ;É possível fazer um curso, presencial ou virtual, de curta duração e com poucas exigências e aprender muito, assim como é possível fazer um curso de pós-graduação de forma medíocre;, exemplifica. Francisco Botelho, doutor em informática na educação e superintende-geral de educação a distância do Centro Universitário Iesb, ressalta que a credibilidade é outro fator primordial para a realização de um bom curso a distância. ;O aluno não faz o curso sozinho: ele precisa do suporte de um estabelecimento de qualidade. Por isso, é importante verificar como a instituição escolhida é avaliada pelo Ministério da Educação.;

Segundo Botelho, parte dos empregadores vê com bons olhos candidatos que fizeram algum curso não presencial. ;Os contratantes, cada vez mais, não fazem distinção entre os alunos das duas modalidades (presencial e a distância). Inclusive, alguns chefes preferem alunos de cursos on-line porque sabem que eles desenvolvem autonomia e conseguem fazer uma melhor gestão do tempo disponível;, diz. O técnico administrativo Lucas Rocha, 26 anos, confia nas habilidades que está aperfeiçoando no curso de turismo da UCB Virtual e acredita que não terá dificuldade para se encaixar no mercado de trabalho. ;Não há discriminação por parte das empresas, ainda mais porque escolhi uma instituição renomada;, presume.

Lucas resolveu cursar a primeira graduação motivado pelas facilidades da modalidade a distância, como a flexibilidade de horários. ;A disponibilidade de tempo foi um fator crucial, porque eu posso estudar no momento em que desejar e, assim, concilio faculdade e trabalho. O preço da mensalidade também é mais em conta em comparação a uma formação presencial;, afirma. Apesar das facilidades, ele detecta desafios na modalidade eleita. ;No curso on-line, você depende apenas de você. É preciso se organizar muito bem e não deixar as atividades se acumularem, porque, depois, não dá para recuperar o tempo perdido. É preciso estudar de verdade, pois as provas são presenciais.;

Solução corporativa


A secretária executiva da Fundação Milton Campos, Ellen Caroline Konrad, aproveitou a oferta de um curso a distância no local de trabalho para se qualificar com outros funcionários. ;Fiz um curso de políticas públicas de 120 horas e me aperfeiçoei bastante na área de prestação de contas, que é muito importante para a minha função. Meu desempenho ficou bem melhor depois disso;, conta. Ellen tem duas filhas e acredita que aulas não presenciais permitem a capacitação de pessoas com pouco tempo disponível. A senadora Ana Amélia, presidente da Fundação Milton Campos ; voltada para pesquisas e estudos políticos ;, avalia que a opção é muito prática para o ambiente corporativo. ;Ficou claro que as capacitações a distância melhoram o desempenho do funcionário, e todo o esforço pode levar até a um aumento de salário;, destaca.

É comum que empresas contratem serviços de educação a distância para capacitar os empregados com cursos personalizados. O publicitário Ricardo Murolo é dono de uma rede de serviços on-line, a GSB pontocom, e há um ano aposta nesse nicho de mercado. A GSB é contratada para gravar e editar vídeos para aulas não presenciais, além de disponibilizar atividades e provas por meio de um programa de computador. Ele garante que, mesmo on-line, o funcionário é avaliado com rigidez. ;Tudo que a pessoa faz é registrado e, como é um programa de computador, não é possível fazer o curso enquanto se navega na internet.;

Potencial

O norte-americano Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e professor emérito da Escola de Comunicação e Artes da USP, acredita que os cursos a distância podem suprir a carência de mão de obra qualificada. ;Enquanto, no Brasil, apenas 15% dos jovens estão na universidade, na Argentina, no Chile e na Bolívia, o percentual sobe para 30%. No Canadá e nos Estados Unidos, o índice é de 75%. Na Coreia, então, é de 85%. Como podemos competir com isso?;, questiona. O professor acredita conhecer a solução: ;O Brasil nunca vai alcançar o sonho de ser uma potência se não contar com jovens qualificados, mas não há professores suficientes nem dinheiro para construir tantos câmpus. Os cursos a distância são capazes de preencher essa lacuna, com qualidade e baixo custo;.

Perfil dos estudantes
Trinta anos é a idade mais frequente entre os alunos de EAD, sendo que 25% deles têm mais de 39 anos. O aluno típico da educação a distância é do sexo feminino, cursa licenciatura e está vinculado a uma instituição privada. Entre os alunos de cursos presenciais, a idade mais comum é 21 anos e 25% deles têm mais de 29 anos. O aluno típico da graduação presencial é mulher, e cursa bacharelado à noite em faculdade particular.