;Percebemos que muitos optam por carreiras sem sequer saber como o curso ou a profissão escolhida funcionam, e se baseiam em estereótipos. Por isso, acabam seguindo opções mais tradicionais, e não exatamente aquelas para as quais têm realmente talento;, explica Luciano Romano, coordenador da pesquisa. Para o estudioso, escolas e famílias precisam se preparar melhor para apoiar o estudante nesse momento de decisão. ;É um período de muito estresse. Sem informação e segurança, o jovem pode acabar fazendo a escolha errada;, alerta.
Nas escolas públicas, o nível de decisão precoce é ainda maior. Na opinião de Romano, essa diferença se explica porque, nas faculdades, há ainda menos opções reais para os alunos da rede pública, o que reduz as possibilidades de escolha. ;Por uma questão de acesso, esse grupo tende a investir em cursos baratos e generalistas para serem incorporados rapidamente pelo mercado. O mesmo acontece com as meninas, que, culturalmente, de maneira geral, ainda precisam confirmar escolhas profissionais limitadas a um estereótipo de gênero, o que também diminui o leque de opções.;
Hora da verdade
Natália Kaori, 17 anos, é aluna de um colégio público em Brasília e escolheu a profissão muito antes da maioria dos colegas. Ela se dedica a estudar engenharia química desde o fim do 2; ano do ensino médio. ;No meu caso, escolhi cedo porque sempre gostei da área, apesar de nunca ter tido contato real com algum profissional do ramo;, afirma. A jovem considera que, entre os colegas, as dificuldades e a pressão são maiores em comparação aos alunos de escolas privadas. ;Normalmente, não temos muito tempo para ficar decidindo. Não dá para tentar muitos vestibulares nem desistir do curso se não der certo. Isso demanda tempo e acaba saindo muito caro.;
Mesmo assim, para Matheus Silvério, 17 anos, aluno no mesmo colégio de Natália, a decisão vai ficar para um pouco mais tarde. O estudante já esteve em dúvida sobre cursar matemática, física, arquitetura e até música. Agora, acredita que o mercado para os engenheiros está mais favorável, e deve escolher algo no ramo. ;Ainda estou avaliando o que é melhor para mim. Estou conversando com profissionais formados, fazendo alguns testes vocacionais, e planejo conhecer melhor o câmpus da universidade em que pretendo estudar;, afirma. Um dos motivos para adiar a escolha é conciliar a própria vontade com a opinião dos pais. ;Não quero escolher um curso que minha mãe não aprove. Ela esperava que eu fizesse medicina, mas isso não tem muito a ver comigo;, argumenta.
Mistura equilibrada
O levantamento da Anhembi Morumbi mostra que a opinião dos familiares é um dos fatores que o estudante mais leva em consideração na hora de decidir pela carreira. Para Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas, optar por uma carreira só para satisfazê-los pode ser arriscado. Na avaliação do especialista, se a escolha equivocada costuma sair caro para o estudante, pode ser ainda mais prejudicial para o mercado de trabalho. ;Se você odeia o que faz, vai se tornar um profissional medíocre. Ter um funcionário que está insatisfeito com a função que exerce gera baixa produtividade para a empresa e muito estresse para o indivíduo. O reflexo da escolha errada é facilmente constatável: percebo que mais da metade das pessoas trabalham numa área diferente daquela em que se formaram;, explica.
Se não há saída para que essa decisão seja tomada mais tarde, a sugestão de Ferraz para escapar da armadilha da imaturidade é procurar informação sobre as carreiras pretendidas. Testes vocacionais, conversas com especialistas e contato com profissionais em exercício ajudam, mas, nesse momento, ficar preocupado demais com o mercado atrapalha. O ideal é conseguir aliar bons salários com o prazer pelo trabalho, mas ele avisa que isso nem sempre é possível. ;O jovem precisa considerar os pontos positivos e negativos de cada profissão. A primeira pergunta que se deve fazer é se a pessoa tem as aptidões mínimas para exercê-la;, sugere.
E se, mesmo assim, tudo der errado e, no meio do caminho, o jovem descobrir que nasceu para trabalhar em outro ramo, ter coragem para seguir um plano B pode ser uma vantagem. ;Quando se está infeliz com o que se faz, nunca é tarde para se mudar de carreira;, recomenda.