Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Setor em alta

Mesmo com a crise, área de petróleo e gás continua a oferecer salários atraentes e precisa de profissionais qualificados. Remuneração média no Brasil é de R$ 18 mil

Mesmo com as baixas na produtividade e as crises econômicas na Europa em 2012, a remuneração de quem atua no setor de petróleo e gás ainda é atraente. Dados do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Combustíveis (IBP) mostram que a produção dessas commodities e de derivados teve queda entre 2011 e 2012. No entanto, segundo pesquisa feita pela empresa de consultoria em recrutamento Hays, os salários na área aumentaram em 8,5% no ano passado no mundo inteiro. Para o Brasil, as notícias não foram tão boas: houve retração de 7,2% na média salarial de profissionais locais em contrapartida ao aumento de 23% nos vencimentos dos estrangeiros. Ainda assim, esse valor ultrapassa os 26 salários mínimos e especialistas acreditam que o grande potencial de exploração do pré-sal deve reverter esse quadro em breve.

Hoje, o Brasil é a oitava nação que melhor paga funcionários locais que atuam na área. De acordo com a pesquisa, a remuneração média em 2013 no setor para profissionais brasileiros é de US$ 110 mil por ano, o equivalente a cerca de R$ 18 mil mensais. Enquanto isso, o salário da mão de obra estrangeira no país está na 16; posição, com ganhos anuais médios em US$ 131,4 mil, ou aproximadamente R$ 21,5 mil por mês (veja o mapa). Segundo o gerente de Petróleo e Gás da Hays, Keith Jones, a queda nos salários de petróleo e gás no país é reflexo do atraso nas licitações para exploração do pré-sal, recém-descoberto. Ele acredita que a situação será logo revertida. ;A atividade no mercado crescerá quando essas contratações acontecerem. Então, a remuneração voltará a subir;, afirma.

Gratificante e rentável

Momentos difíceis para petróleo e gás não devem desanimar profissionais da área, segundo afirma o professor de engenharia mecânica da Universidade de Brasília (UnB) Eugênio Fortaleza, pós-doutor em estruturas navais e oceânicas. Para ele, a situação econômica brasileira para o setor foi atípica no ano passado e reforça que a tendência a médio prazo é que a baixa nas contratações e nos salários termine, por causa das novas licitações e dos investimentos. ;A Petrobras sem caixa com a manutenção no preço dos combustíveis, somada à ausência de licitações, contribuiu para a estagnação na área;, explica. Mesmo assim, a estatal ocupa o 20; lugar no ranking das maiores empresas do mundo da revista Forbes.

O engenheiro de campo da Petrobras Rogério Tavares, 35 anos, é formado em engenharia de automação e controle pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e atua como fiscal de sonda em Santos (SP). ;Comecei a me interessar por petróleo ainda na graduação, quando estagiei na Petrobras, e o mestrado na área me levou a trabalhar para a empresa;, conta. Concursado, o engenheiro passa até duas semanas seguidas na plataforma em alto-mar e atua na construção de poços no pré-sal. ;Ficar longe da família por semanas seguidas é a parte difícil, mas os longos períodos de folga compensam;, comenta.

Rogério também acredita que a baixa produtividade no setor não vá dificultar as contratações. ;Não deve afetar muito a situação, porque a produção é um processo lento;, afirma. ;A área como um todo vive um momento de expansão no Brasil, que ainda está carente de mão de obra especializada;, completa. Para ele, o crescimento no número de profissionais de óleo e gás vai ajudar o país a apresentar melhores índices de produtividade. ;Teremos competição, o que vai se refletir em avanços no futuro.;

O coordenador do Laboratório de Petróleo da Universidade Federal do Espírito Santo (LabPetro/Ufes), professor Eustáquio de Castro, acredita que, até 2015, o Brasil vai passar por um momento favorável às contratações na área. ;O país estará a pleno vapor, com institutos estrangeiros montando centros aqui, além de novas multinacionais que virão trabalhar na exploração do pré-sal;, afirma. ;Ainda há petróleo a ser explorado por, pelo menos, 50 anos e a tendência é que o consumo diminua com as novas fontes de energia;, completa.

Futuro promissor

O estudo da Hays também aponta as áreas de atuação dentro do setor de petróleo e gás mais bem pagas pelas empresas. Entre graduados em nível superior, funcionários que atuam em comissionamento, construção e instalação e geociências são os que recebem remunerações mais altas. ;Percebemos uma demanda muito alta também por profissionais especializados em perfuração, que apresentam o maior salário entre aqueles com posição intermediária e superior na empresa;, explica Keith Jones.

A busca por salários altos em um setor que pode se mostrar mais produtivo no futuro chama a atenção de jovens estudantes. Priscila Sousa, 22 anos, e Álvaro Xavier, 20, estão próximos da formatura em geologia pela Universidade de Brasília (UnB) e pretendem atuar na exploração de petróleo e gás. Priscila pensa em ser concursada na área e pretende alcançar estabilidade financeira com qualidade de vida. ;A remuneração foi algo que me atraiu, além da ideia de conviver próximo ao mar;, diz. Já Álvaro, que também quer fazer concurso público, ingressou no curso com a ideia de trabalhar no setor. ;Quando entrei, o assunto era um dos mais abordados pela mídia, e isso me influenciou na escolha da graduação;, conta.
Mesmo com o mercado em alta, os dois estudantes reclamam da falta de formação específica em petróleo e gás em Brasília. Por aqui, o foco dos cursos está em prospecção mineral, diferentemente de outras cidades, como o Rio de Janeiro. ;Não temos, por exemplo, uma disciplina específica de perfuração;, comenta Priscila. ;Quem quer trabalhar na área precisa buscar matérias optativas;, complementa Álvaro.

Sem formação específica, departamentos da UnB oferecem projetos opcionais para estudantes de graduação e de pós que procuram especialização em petróleo e gás. O professor Eugênio Fortaleza faz parte do Programa de Formação de Recursos Humanos em Automação Offshore, que prepara alunos para o mercado petrolífero. ;Vale a pena ao interessado insistir na carreira e em especializações. As grandes empresas procuram, principalmente, profissionais pós-graduados em óleo e gás;, afirma.