;Hoje, a atividade policial se fundamenta basicamente no conhecimento, não existe nenhuma barreira de gênero;, relata a superintendente regional da Polícia Federal, Silvana Borges, 51 anos. Ela conheceu e se aprofundou na atividade de investigação durante os cinco anos que trabalhou como delegada da Polícia Civil de Goiás. Em 1995, tomou posse na Polícia Federal e conta que, nessa época, havia pouquíssimas mulheres na carreira. Ela acredita que a instituição evoluiu com a sociedade e, por isso, a profissão tornou-se mais atrativa também para as mulheres. Em todo o país, existem 182 delegadas que ocupam cargos de chefia na PF e 39 delas estão lotadas no DF. ;Aquela imagem de que o policial tem que ser uma pessoa truculenta não tem nada a ver com a realidade. O policial precisa ser educado, polido, inteligente. Estamos aqui para prestar um serviço à sociedade;, explica.
Fernanda Costa de Oliveira, 34 anos, faz parte do grupo de delegadas da Polícia Federal que foram aprovadas no concurso de 2004. Desde pequena, ela teve contato com a carreira, pois o pai era policial. No início da graduação, já tinha escolhido a profissão que seguiria. Hoje, ela é chefe de delegacia e investiga crimes de desvio de recursos públicos. ;O que mais me atrai na profissão é que é possível fazer ações que gerem benefícios reais e notórios para a sociedade. O resultado é imediato;, ressalta. Para Fernanda, diferentemente do que ocorre no poder Judiciário, a percepção de justiça no trabalho policial é mais rápida, pois não há tanta burocracia.
Naturalidade
Na Polícia Civil do DF, há 92 delegadas em atuação. Jane Klebia do Nascimento, 37 anos, é delegada-chefe adjunta da 6; Delegacia de Polícia, localizada no Paranoá. ;Dentro da polícia, nós encaramos com muita naturalidade, mas as pessoas de fora ainda se impressionam ao ver uma mulher delegada, por causa de todo o estereótipo que foi criado em torno do cargo;, conta. Antes de chefiar uma delegacia, ela trabalhou na área de saúde, foi professora de geografia e ocupou o cargo de agente de polícia. Segundo Jane, a experiência em diversas áreas ajuda a exercer a profissão, assim como a formação complementar que buscou. Além de ser bacharel em direito, requisito mínimo para ingressar na carreira, ela tem duas pós-graduações, uma delas na área de polícia judiciária.
Jane entrou para a corporação há sete anos e recebeu na 6; DP o reforço de duas delegadas cartorárias ; que encaminham inquéritos. Bruna Eiras Xavier, 28 anos, entrou para a corporação em 2010, e Isabela Ribeiro, 27, em 2011. ;Mesmo quando vestimos a roupa operacional, estamos sempre com brinco, com batom;, relata Bruna. No entanto, elas priorizam o conforto e evitam usar salto muito alto, por exemplo, pois o trabalho é imprevisível. ;Às vezes você precisa sair e ir a um local de crime;, lembra.
O dinamismo da profissão e a possibilidade de usar a inteligência nas investigações são algumas das características que mais atraem a delegada Isabela, que não tem dúvidas de que escolheu a carreira certa. Ela conta que se surpreendeu ao ver a quantidade de pessoas mais jovens na polícia. ;Cada vez mais, a carreira está despertando o interesse das pessoas;, afirma.
A participação das mulheres em especial, chama a atenção de Bruna. ;Aos poucos, estamos conquistando o nosso espaço, porque, na verdade, o maior poder do delegado é a caneta, para isso, é necessário capacidade intelectual e não força física. Acho que estamos quebrando paradigmas e preconceitos;, completa. Um dos atrativos da profissão é o salário. A remuneração bruta inicial é de R$ 14.037,11, e chega a R$ 20.684,81 no último nível da carreira.
Garantidores de direitos
;Eu sempre gostei de direito penal, desde o início da faculdade. A facilidade com o tema me fez entrar na polícia;, relata Anie Rampon Barretto, 34 anos, delegada cartorária da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) 1, na Asa Norte. Além da afinidade técnica com a carreira, Anie destaca que a ideia de uma polícia comunitária, e não repressora, faz com que ela se sinta realizada na profissão. Para as tarefas do dia a dia ela gosta de estar sempre arrumada. ;É parte de mim, eu não deixaria isso de lado em nenhum trabalho. Uma boa apresentação é essencial em qualquer profissão.; Uma malinha com o uniforme operacional fica sempre no carro dela para alguma emergência.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Distrito Federal (Sindepo), Benito Augusto Galiani Tiezzi, a imagem de uma mulher masculinizada à frente das delegacias é um estereótipo folclórico apenas. A profissão exige conhecimento jurídico e vocação, pois trata-se de um trabalho difícil. As etapas do concurso para ocupar o cargo deixam claro o grau de exigência. Os candidatos fazem provas objetiva, subjetiva e oral, exame psicológico, exame médico e teste físico. Depois disso, ainda passam de três a seis meses na academia de polícia. No fim do curso, fazem duas provas, uma teórica e outra de aptidão física.
O presidente ressalta que o delegado de polícia é a primeira pessoa que analisa e garante o direito do cidadão. É ele quem vai verificar a legalidade de uma voz de prisão que foi conferida, por exemplo. Além disso, ele tem uma atribuição social importante, porque muitos dos atendimentos feitos na delegacia são encaminhamentos para a Defensoria Pública, para hospitais ou para os órgãos responsáveis. ;É um dos únicos pontos no estado que está aberto 24 horas por dia. Quando o cidadão se sente lesado recorre à delegacia de polícia;, reforça.
Silvana Borges, Superitendente Regional da Polícia Federal