O secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marco Antonio de Oliveira, explica que o objetivo do governo é estender as experiências bem-sucedidas do Pronatec e do Fies. ;Com instituições particulares participando, teremos mais estrutura física e laboratórios;, destaca. De acordo com o secretário, as medidas vão ajudar a sanar a demanda por profissionais de nível técnico no mercado. ;Uma de nossas metas é abrir 8 milhões de vagas até 2014 só com o Pronatec;, afirma Oliveira.
Para o diretor do Centro Tecnológico Positivo, o especialista em formação técnica Ronaldo Casagrande, o governo acertou em editar essas portarias. Segundo ele, o Brasil tem tradição em cursos voltados à teoria, sem qualificar profissionais para o trabalho braçal. ;Nunca houve, no país, a valorização do ensino voltado ao trabalho, que sempre foi tratado pelos governos com o objetivo de sanar problemas sociais, como o desemprego;, explica.
As medidas anunciadas pelo MEC não contemplam as formações tecnológicas, de nível superior. Casagrande afirma que a demanda por profissionais de educação média ou básica nas empresas brasileiras é bem maior que a de profissionais graduados. ;Na pirâmide da oferta de vagas técnicas, quanto mais básica a formação, maior a procura;, comenta. Dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) mostram que a indústria brasileira precisará de 7,2 milhões de técnicos de média qualificação até 2015. Desse número, 1,1 milhão vão preencher novas vagas (veja o gráfico).
A orientadora pedagógica do Senai/DF em Taguatinga, Milla Ribeiro, também considera que a falta de profissionais com conhecimentos práticos levou o governo a adotar a medida. ;Temos até mesmo pessoas graduadas em ensino superior procurando nossos cursos por causa das ofertas de trabalho;, conta. Milla não acredita que haverá perda na qualidade do ensino com o provável aumento de instituições participantes do Pronatec. ;Só vamos precisar de mais tempo para contratar e qualificar instrutores;, explica. ;O número de cursos vem crescendo e deve aumentar ainda mais, mas imagino que isso seja positivo para o mercado de trabalho se for feito de forma organizada;, acrescenta.
Obter sucesso em uma área que os agrada é o objetivo de Hugo Lima, 19 anos, e Douglas Nascimento, 18. Os dois são alunos da turma de manutenção automotiva no Senai/DF, um curso de dois anos, e são apaixonados por carros. ;Sempre gostei de saber mexer em veículos, desde criança;, diz Hugo. Ambos faziam o terceiro ano do ensino médio em colégio público no ano passado e entraram para o Pronatec depois de verem anúncios sobre o programa na escola. ;Vi a oportunidade, fiz a inscrição e esperei ser sorteado;, relembra Douglas. No curso, eles aprendem, de forma integrada, noções de mecânica, física e matemática e têm aulas de português. Até os sonhos dos dois alunos mudaram com a educação técnica. ;Antes de entrar, queria prestar concurso público. Agora, penso em fazer faculdade de engenharia mecânica;, comenta Hugo. Douglas descobriu o espírito empreendedor. ;Penso em abrir um negócio próprio;, afirma.
De olho no mercado
Novas instituições começaram a aparecer no embalo das transformações do mercado. O Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) anunciou que abrirá, em 8 de abril, a Escola Profissionalizante de Brasília (ESPB), no câmpus de Ceilândia. ;Criamos o projeto pela falta de mão de obra técnica qualificada aqui em Brasília;, explica o professor Murilo Pereira, coordenador da ESPB. A instituição oferecerá cursos técnicos de cozinha, informática, enfermagem e estética. ;Escolhemos essas áreas de acordo com a necessidade do Distrito Federal. Há deficit sério de profissionais de enfermagem na rede hospitalar brasiliense, por exemplo;, explica.
A promotora de eventos Kelly Faria, 32 anos, sabe como um curso técnico pode ajudar na carreira. Há sete anos no ramo, em 2012 ela decidiu cursar organização de eventos na unidade Riacho Fundo do Instituto Federal de Brasília (IFB), pelo Pronatec. ;Queria me qualificar melhor para aproveitar as oportunidades que virão com a Copa do Mundo;, conta. O curso de duração rápida, apenas três meses, ofereceu não só uma base prática a Kelly, como também alavancou sua empresa de eventos e viagens, que ela toca há dois anos. ;Tive aulas até com um professor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que me ajudou a gerenciar o negócio;, relembra. Kelly já se prepara para novos projetos. Em abril, ela se mudará para Palmas (TO) e vai procurar novos mercados. ;Ainda tenho muito o que crescer com a minha empresa;, conta, esperançosa.
Saiba mais
Por dentro das mudanças
A partir de agora, o Pronatec passa a atender instituições particulares, que poderão criar turmas de acordo com as áreas previstas no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos para cursos subsequentes. A escola participante precisa ser aprovada em análises e visitas de especialistas. Instituições de ensino superior também podem participar do programa, desde que tenham nota maior ou igual a 3 no índice geral de cursos (IGC) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). A medida prevê que os alunos sejam escolhidos por meio de seleção única, em modelo semelhante ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As inscrições devem ocorrer entre abril e maio deste ano.
A outra portaria determina a expansão do Fies, antes voltado apenas à educação superior. Agora, estudantes que quiserem cursar o ensino técnico em instituições particulares poderão pagar o financiamento do curso com 18 meses de carência. O interessado deve fazer a inscrição no instituto onde deseja estudar para, em seguida, pedir o financiamento. Além disso, as empresas poderão custear a qualificação de funcionários em cursos técnicos, com 30 a 42 meses de prazo para o pagamento. As companhias participantes devem fazer cadastro no sistema informatizado do Fies (SisFies) para solicitar inscrição em uma das 350 escolas técnicas habilitadas.