Para a especialista em endomarketing Analisa de Medeiros Brum, isso ocorre quando os funcionários não entendem os objetivos das organizações e se o profissional fica o tempo todo reclamando, dificilmente será visto com bons olhos. ;As empresas estão focadas em planejamento estratégico, no resultado. Elas desejam ter na equipe pessoas focadas, que estejam olhando na mesma direção. Essas pessoas é que serão promovidas;, destaca. Ela lembra que, diante das oportunidades oferecidas no mercado, o trabalhador não é obrigado a ficar no emprego e pode buscar espaço em uma companhia que se adeque melhor às expectativas dele.
No entanto, Analisa argumenta que, muitas vezes, a culpa é da própria empresa, que não sabe dialogar com o funcionário e não forneceu as informações necessárias para que ele se sinta parte do ambiente organizacional. Essa é a hora de agir e pensar em estratégias para tornar o trabalho mais atraente. Uma das soluções, de acordo com a especialista, é colocar o líder na posição de intermediário do canal de comunicação entre a organização e os funcionários. ;A empresa precisa preparar os líderes para serem próximos das pessoas, permitir que elas tenham abertura para falar com o gestor;, acrescenta. Criar canais na intranet e uma ouvidoria para receber as reclamações também pode ser uma saída.
Liderança
Uma rede de restaurantes italianos encontrou a maneira de solucionar o problema. Por meio do Projeto Multiplicador, um dos integrantes de cada franquia, normalmente o gerente, participa de um curso de capacitação e repassa o conhecimento aos demais funcionários. ;O encontro serve para eles se sentirem valorizados e para trocarem ideias e falarem sobre o que aconteceu na loja durante o mês;, explica a coordenadora regional da empresa, Viviane Barros. Também são promovidas reuniões mensais com os funcionários de cada unidade. Esse é o momento de ouvir as reclamações deles e criar um plano de ação para resolvê-las. A execução desse plano é controlada e precisa ser cumprida. Em Brasília, o programa ganhou força em 2012 e, como resultado, nenhum gerente deixou a empresa nesse ano. ;Faz toda a diferença, além de o funcionário ficar mais qualificado;, comemora a coordenadora.
Várias lojas da rede no DF também registraram redução no número de saída de atendentes. A que Reginaldo Ramalho Ferreira, 28 anos, gerencia a rotatividade diminui de 120% para 20%. Ele conta que, agora, o quadro de funcionários é fixo, eles faltam menos, o atendimento melhorou e as vendas aumentaram. ;É uma coisa que você carrega para sempre, leva como experiência profissional;, comenta. O gerente concorda que o profissional que reclama demais tem menos chances de promoção e até prejudica o desempenho da equipe. ;O trabalho não é o mesmo e acaba influenciando na empresa, que pode ter um resultado negativo.;
Diálogo
O consultor em gestão de projetos Ricardo Barbosa sugere que as empresas estabeleçam um processo de feedback. ;A cada seis meses é mais comum, mas eu considero um tempo muito longo. É preciso ter um processo contínuo também;, explica. O encontro pode ser semanal e devem ser discutidos tanto os pontos fortes quanto os pontos fracos do trabalho. Dessa maneira, o funcionário terá um espaço para colocar a opinião, e a equipe se sentirá comprometida e motivada a alcançar as metas propostas. O resultado dessas colocações deve ser controlado e disponibilizado ao grupo, se não a empresa acaba caindo em descrédito.
O funcionário também precisa saber a melhor forma de levar a reclamação ao chefe, sem passar a impressão de falta de compromisso. ;As reclamações podem ser feitas, mas depende da maneira. É preciso evitar uma forma muito agressiva. Quando um funcionário reclama para uma melhoria dentro da empresa mostra que está comprometido;, garante Barbosa.
E não faltam motivos para se queixar. Segundo pesquisa feita pela empresa de serviços profissionais Towers Watson, apenas 28% dos profissionais brasileiros estão altamente engajados no trabalho. O outros 72% estão desengajados, sentem-se sem suporte ou estão desvinculado da companhia. Na opinião do especialista em estratégia e desenvolvimento organizacional Moisés Fry Sznifer, o principal erro das companhias é ter o funcionário apenas como um meio para obter resultados. Quando são tratadas assim, as pessoas não veem sentido para aquilo que fazem.
Sznifer, que é professor dos programas de mestrado e de doutorado da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita ser preciso discutir com os profissionais as competências que eles têm e o que eles esperam da empresa. Reunir a equipe para uma conversa durante 15 minutos a cada dia é uma das dicas. O setor de Recursos Humanos também pode ajudar, segundo o professor, desenvolvendo a capacidade dos líderes de interagir com as pessoas, por meio de seminários e palestras, por exemplo. Quanto à conversa sobre os problemas, ele sugere sinceridade. Além disso, é sempre bom apresentar uma solução. ;A melhor forma é ir direto ao assunto e ser assertivo: saber se posicionar sem agredir nem se submeter.;
Três perguntas para
Juliana Bertoletti, psicóloga e diretora de uma empresa de desenvolvimento de pessoas
Que problemas pode causar um funcionário que reclama durante o trabalho?
Traz problemas de relacionamento para o funcionário, pois a tendência natural é de que o grupo acabe excluindo ele das atividades em conjunto. Em casos extremos, pode até mesmo acarretar situações de assédio moral, em que o funcionário é vítima de discriminação e de perseguição no ambiente de trabalho. Assim, ele corre o risco de isolamento social. É importante entender que o comportamento de queixa é um sintoma, uma expressão do descontentamento do funcionário com aspectos relacionados à organização do trabalho, ao seu contexto ou ao tipo de atividade exercida. A presença de um funcionário que reclama demais ainda pode contaminar o trabalho em equipe, prejudicando o desempenho do grupo e a cooperação entre os membros.
O que pode causar esse excesso de reclamação?
A reclamação pode ter diversas causas, como a falta de identificação com os valores da empresa, o descontentamento com o ambiente ou o processo de trabalho, dificuldades de relacionamento interpessoal, entre outros. O importante é que o funcionário saiba detectar a causa desse descontentamento para poder mudá-lo.
Como a empresa e o funcionário podem solucionar o problema?
Para a empresa, é importante, antes de tudo, fazer um diagnóstico organizacional para entender o que está acontecendo, se a queixa é somente de uma pessoa, de uma equipe ou de todos os funcionários. É preciso saber qual o motivo da reclamação para poder intervir e melhorar a condição de trabalho que está ocasionando a insatisfação. Já o funcionário deve avaliar se a condição ; organização, contexto e tipo de atividade exercida ; de trabalho que o incomoda pode ser solucionada ou aprimorada. Se sim, vale uma conversa com o chefe. Esclarecer o que incomoda melhora a comunicação e a transparência entre os membros da equipe e sempre facilita o andamento do trabalho. Mas se a causa da reclamação estiver relacionada a uma falta de identificação com os valores da empresa ou com a atividade profissional exercida, é melhor o funcionário reavaliar suas escolhas e procurar um trabalho que lhe traga mais satisfação profissional.