Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Meu primeiro emprego

Depois da colação de grau, o desafio dos formandos é garantir a vaga no mercado de trabalho. Mais de 2,3 milhões de brasileiros conseguiram uma em 2012

Pose para a foto de formatura da turma de desenho industrial. Clic! Formados, mas desempregados: Samuel Amorim, 26 anos, acabou de conseguir o diploma e vai continuar fazendo trabalhos como freelancer enquanto se especializa. Após cinco anos na faculdade, Isadora Tupinambá, 22, pretende viajar para o exterior antes de abrir o próprio negócio de estamparia em superfícies. Já a colega Cibele Varão, 23, não vê a hora de dar o grito de independência e conquistar o primeiro emprego formal. ;Não tenho a menor ideia do que vai acontecer daqui para frente;, assume.

Com o número crescente de faculdades em todo o país e as mudanças nos critérios nacionais de avaliação do ensino, a quantidade e a qualidade dos candidatos em algumas áreas aumentaram. O mercado está aquecido também para os brasileiros formados pelo ensino técnico. ;Tem muita gente boa por aí. Destacar-se da maioria está cada vez mais difícil;, analisa Cibele, a mais nova desempregada. ;Já entreguei um monte de currículos. Agora, estou esperando o retorno. Vamos ver no que vai dar.;

Preparação

Para evitar problemas na hora de se candidatar pela primeira vez a uma vaga de trabalho, a recomendação de Lúcia Garcia, coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego (Sistema Ped) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), é ter planejamento. ;O importante é se preparar o quanto antes e valorizar a formação e o ensino na idade certa;, ela destaca. Na avaliação de Lúcia, o Brasil mantém um ambiente propício para a contratação de quem sai da universidade ou conclui uma formação técnica. ;Basta fazer uma escolha consciente da área e se preparar para o mercado.;

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que mais de 2,3 milhões de brasileiros conquistaram o primeiro emprego com carteira assinada em 2012. Segundo o levantamento, os setores mais oportunos para candidatos sem experiência formal são os de serviços, de comércio e, em terceiro lugar, de indústria e transformação. ;Não adianta o jovem escolher uma atividade cuja demanda profissional seja limitada;, explica Lúcia. A área industrial, por exemplo, é considerada estratégica para o desenvolvimento do país e, por isso, o mercado de trabalho vem oferecendo melhores chances aos técnicos e bacharéis em atividades ligadas a tecnologia e a produção.

Outra forma de não sofrer com a procura pelo primeiro emprego é estabelecer bons contatos durante os estudos. ;O jovem precisa se arriscar, distribuir currículos, participar de muitos processos de seleção. Não há o que temer;, garante a coordenadora do Sistema Ped. De acordo com ela, a etapa é essencial para o amadurecimento profissional do candidato, que deve aprender a lidar com a frustração.

Uma vez contratado, a dica da especialista é permanecer no emprego por, no mínimo, um ano. Ela argumenta que a ansiedade do recém-selecionado em alcançar uma remuneração cada vez maior pode ser prejudicial. ;Muitos jovens que acabaram de ser contratados desistem da oportunidade porque recebem propostas em outros lugares com salários apenas um pouco maiores. Isso demonstra falta de maturidade e revela que o candidato busca dinheiro, e não experiência. O ideal é conciliar os dois desejos;, opina Lúcia.

Teoria e prática
A estudante de psicologia Yarla Carneiro é estagiária de uma empresa de administração de cartões de crédito há 10 meses e conta que aproveitou o período para ouvir as dicas dos colegas mais experientes. Além disso, aprendeu a conviver com os perfis diferentes em prol dos bons resultados para a companhia. ;Aqui, estagiário trabalha como funcionário. Ninguém fica servindo cafezinho. A experiência também serviu para eu mostrar o meu talento.;

Deu certo: aos 22 anos e às vésperas da formatura, Yarla acaba de receber a notícia de que será efetivada. ;Não foi fácil conciliar com a faculdade, mas, no fim, valeu a pena. Não passei pela angústia que a maioria passa;, ela confirma.

Para a supervisora de Processos Seletivos Especiais do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), Noely David, na disputa pelo primeiro emprego, ganham vantagem os candidatos que mais conseguiram acumular vivências profissionais complementares aos estudos. ;Os estágios são fundamentais nessa hora;, afirma. Para a maioria das empresas, o período de treinamento prático preenche a exigência da experiência anterior, além de ajudar o candidato a conhecer melhor o mercado. ;Quem relaciona teoria e prática aumenta as chances de contratação rápida;, sugere a especialista.

Camila Almeida decidiu seguir à risca essa receita antes mesmo de concluir o ensino médio. Aos 19 anos, ela concilia os estudos em uma escola pública de Samambaia à primeira experiência profissional como jovem aprendiz na mesma empresa onde Yarla acaba de ser contratada. ;O que aprendi no trabalho não tem preço. Eu me sinto muito mais preparada que os meus colegas do colégio que ainda não trabalham;, compara a estudante.

Experiência
O jovem aprendiz precisa ter entre 14 e 24 anos e estar matriculado em um Programa de Aprendizagem numa Organização Não Governamental, escola técnica ou Sistema S. É diferente do estagiário porque a contratação deles é obrigatória às médias e grandes empresas. Já o estagiário não cria vínculo empregatício com a companhia, pode receber bolsa-auxílio ou outra forma de compensação que venha a ser acordada, e a prática nesse cargo deve ser compatível com a formação e horário escolares.