Sociólogos divergiram, nesta terça-feira, sobre a criação de Conselho Federal de Ciências Sociais. Enquanto a Federação Nacional dos Sociólogos defende um órgão único para acompanhar o exercício profissional de sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, alguns sindicatos discordaram da necessidade de um conselho interdisciplinar. O tema foi discutido em audiência pública na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.
Para o presidente da federação dos sociólogos, Ricardo Antunes, a luta por um conselho voltado às Ciências Sociais tem mais força política do que um eventual encaminhamento por categoria. Antunes argumenta que a criação de um órgão único poderia auxiliar, inclusive, a regulamentação das profissões de antropólogo e cientista político. Hoje apenas os sociólogos têm o exercício profissional regulamentado e, mesmo assim, enfrentam problemas, segundo Antunes.
"Com a criação do nosso conselho, a gente quer a garantia e ampliação do nosso mercado de trabalho;, disse Ricardo Antunes. ;Existe muito trabalho hoje de pesquisa e diagnóstico que está sendo feito por outros profissionais, que não têm a competência, que não estudaram as disciplinas que orientam nosso curso e que nos permitem coletar dados, analisar informação, criar indicadores sociais."
Identidade profissional Mas o presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado do Rio de Janeiro, Nilton de Souza Neto, discorda. Ele avalia que a criação de um Conselho Federal de Ciências Sociais diluiria a identidade profissional de cada categoria.
"A área de Ciências Sociais é uma área temática do conhecimento dentro da universidade. Não está identificada como profissão;, argumenta Nilton de Souza Neto. Segundo ele, na atualidade, ;a Sociologia está se consolidando como profissão no meio privado e estatal e não meramente universitário;.
Ele ressalta que, nesse momento de consolidação, ;que seria uma oportunidade de discutir uma proposta de criação de seu próprio conselho, vem uma proposta sem base de discussão ampliada, em que se pode prejudicar e diluir a identidade da Sociologia para uma abstração chamada Ciências Sociais, que nem a Antropologia e, acredito, tampouco a Ciência Política se veem representadas nessa proposta."
As associações brasileiras de Ciências Políticas e de Antropologia foram convidadas para o debate, mas não mandaram representantes.
Construção de consenso O presidente da Comissão de Trabalho, deputado Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), informou que o colegiado tentará ajudar na construção de um consenso entre sociólogos, antropólogos e cientistas políticos. Ele avalia que a criação de conselhos não apenas fortalece as profissões como traz benefícios à sociedade, ao fiscalizar e cobrar o correto exercício profissional. "Tanto a regulamentação das profissões quanto a criação do conselho são fundamentais, porque o conselho, embora seja um órgão mais normativo, fiscalizador, ele dá as diretrizes e faz a defesa da categoria também;, disse Bala Rocha. ;O cidadão fica protegido quando você tem um conselho forte e atuante."
Interdisciplinaridade A criação de um conselho profissional multidisciplinar para as Ciências Sociais conta com o apoio do também sociólogo Luiz Curi, representante do Conselho Nacional de Educação no debate. Curi avaliou que a flexibilidade e interdisciplinaridade hoje presentes na grade curricular de cursos de Antropologia, Sociologia e Ciência Política devem se refletir no exercício profissional.
"Isso não significa perda de identidade, porque essa é a nossa identidade;, afirmou Curi. ;A especificidade das Ciências Sociais é, inclusive, o de ensinar às outras áreas a interdicisplinaridade."
Projeto de lei A criação de conselhos profissionais deve ser feita por projeto de lei encaminhado ao Congresso pelo Executivo. Ainda não há proposta nesse sentido. A Federação Nacional dos Sociólogos faz um abaixo-assinado virtual para encaminhar ao governo a reivindicação.