No caso de Fabrícia Oliveira, 28 anos, os novos rumos na carreira foram bem-vindos. Ela trabalhou durante sete anos numa empresa da área de saúde e, nesse período, obteve apenas uma promoção. Há menos de dois anos, começou a trabalhar em outra empresa do mesmo ramo e foi promovida recentemente para o cargo de gerente financeira. A jovem acredita que a mudança de trabalho foi determinante para seu crescimento profissional e, hoje, se sente realizada, pois vê que a organização se preocupa com os funcionários. No emprego atual, Fabrícia recebe uma bolsa auxílio de 50% para cursar a graduação em farmácia. Apesar de considerar que fez a escolha certa, ela destaca que é preciso ter cuidado com a alta rotatividade de empregos. ;Antes de mudar, é importante conversar com o empregador, expressar a ambição e verificar as possibilidades. Ficar mudando pode ser um desperdício de oportunidades.;
Planejamento
O diretor presidente da empresa de educação corporativa Mind Quest, Maurício Wendling Lopes, sugere que o profissional tenha cautela ao cogitar mudar de emprego em busca de crescimento. Ele defende que o funcionário fique de dois a quatro anos em uma organização, para provar que consegue entregar resultados. ;Toda vez que eu avalio currículos, descarto pessoas que ficam menos de um ano constantemente em mais de uma empresa;, afirma. Lopes explica que essas mudanças devem ocorrer de forma planejada, estável e coerente.
Ricardo de Oliveira, 24 anos, trabalhou em uma loja de departamentos por um ano meio. Ele era fiscal de prevenção de perdas e contava com a possibilidade de alcançar uma promoção ou ganhar um bônus salarial. No entanto, a dedicação e o cumprimento de metas não foram suficientes para conseguir o crescimento profissional desejado. Ele percebeu que o retorno esperado talvez nunca viesse e resolveu procurar um emprego que oferecesse maiores oportunidades de desenvolvimento. ;Se você percebe que não está satisfeito, que não está progredindo, mesmo que o salário seja bom é melhor tentar outro caminho, que traga mais prazer e contentamento;, argumenta. Oliveira não se arrepende da mudança. Foi trabalhar em um shopping como recepcionista há um ano e sete meses. Pouco tempo depois, veio a promoção para vigilante.
A especialista Suzana da Rosa Tolfo, professora dos cursos de pós-graduação em psicologia e administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acredita que a mudança de emprego em busca de crescimento profissional é consequência das exigências que as próprias empresas fazem. Elas demandam uma matriz de competências flexível e pedem níveis de qualificação altos para que o profissional ocupe um dos cargos disponíveis. Por causa disso, os funcionários buscam estar sempre atualizados e correr atrás de objetivos que consideram importantes. Se a organização não oferece formas de alcançar esses metas, ele sai à procura de outra que o faça. ;O profissional precisa identificar quais são seus objetivos e o quanto eles vão ao encontro dos da organização;, ressalta a professora, que é Secretária Adjunta de Gestão de Pessoas da USFC.
Suzana explica que, hoje, a carreira que as gerações mais jovens costumam desenvolver é horizontal, o que pode significar passar por diferentes áreas ou trabalhar no mesmo cargo em mais de uma empresa. Mais uma vez, a própria cultura de gestão de pessoas tem relação com essas características da força de trabalho: diante da insegurança quanto à manutenção da posição na empresa, a mudança de emprego aparece como uma forma que o profissional encontra de se adaptar à instabilidade do emprego. ;É uma via de mão dupla: o mercado diz que se você não se capacitar, não for competente e mostrar qualidade e produtividade, não terá mais lugar na organização. O trabalhador, em função disso, tende a ter essa relação que não é mais do vestir a camisa.;
Mesmo com essa nova cultura organizacional, Vanderlei Ribeiro, 45 anos, dedicou 18 anos de trabalho à mesma empresa. No entanto, quando percebeu que não existia mais nada que a organização pudesse fazer para contribuir com seu crescimento, e vice e versa, decidiu mudar de emprego. ;A essa empresa eu devo todo o meu conhecimento, foi lá que eu estruturei minha carreira, mas eu tinha estagnado;, explica. Há três anos, Ribeiro foi trabalhar como gerente de vendas de uma empresa do ramo de materiais para construção e metalurgia. A nova empregadora estava em fase de crescimento e ele achou que seria a oportunidade perfeita para crescer. ;É muito bom chegar nessa fase da vida em que recebemos reconhecimento pelo trabalho;, afirma.
Alto escalão
Levantamento feito este ano pela Fesa, empresa de recrutamento de altos executivos, mostrou que as companhias oferecem, em média, pacote de remuneração 28% maior na contratação desses profissionais. Segundo o diretor da regional do Rio de Janeiro da recrutadora, Leonardo Ribeiro, o incremento salarial é decorrente da responsabilidade que eles têm no andamento dos negócios e da crise de talentos que o mercado enfrenta.
Com a oferta de profissionais qualificados em baixa e a demanda cada vez maior, os salários oferecidos aumentam. ;Os altos executivos são os maiores responsáveis por participar das decisões da empresa. O acionista precisa desse profissional com competências-chave;, afirma. Ainda assim, o especialista ressalta que é preciso ter cuidado na mudança de emprego. ;O executivo tem que planejar sua carreira como se fosse sua própria empresa. Precisa tomar decisões estratégicas.;