Para o gerente de capacitação empresarial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Distrito Federal (Sebrae/DF), Ary Ferreira, é natural que exista uma certa apreensão do funcionário em trazer o assunto à tona. O medo de ser demitido ou entrar para uma possível ;lista negra;, segundo ele, deve ser afastado, desde que o profissional esteja comprometido com a equipe. ;As empresas precisam de empreendedores que não pensem somente em si. Se essas pessoas forem mais proativas e comprometidas com os resultados, com certeza conseguirão o aumento;, garante Ferreira.
Ainda de acordo com a pesquisa da Robert Half, 6,2% das negociações para aumento de salário ocorreram com base na oferta da concorrência. Foi o caso do gerente de marketing Gustavo Pompermaier, 27 anos. Cobiçado por outra companhia, que ofereceu um aumento significativo, Pompermaier sondou a opinião da chefia e garantiu uma contraproposta antes de pedir demissão do emprego atual. ;Meu chefe falou que gostava do meu trabalho, por isso, preferia que eu ficasse onde estava, e iria cobrir o salário oferecido pela outra empresa;, conta.
Para o gerente de recursos humanos Mario Custódio, no entanto, casos como os de Pompermaier não devem ser estimulados. A garantia de oportunidades na concorrência, segundo ele, pode fornecer uma maior sensação de segurança para o funcionário na hora de pedir o aumento, mas é problemático para o funcionamento da organização. ;Isso gera desgaste para todo mundo que está envolvido no processo, tanto para o chefe, que é pego de surpresa, quanto para a outra empresa, que gastou tempo no processo seletivo. É comum, mas não é saudável;, pontua Custódio.
Final feliz
Em metade dos casos, o reajuste de salário ocorre espontaneamente, como reconhecimento pelos resultados alcançados, segundo o levantamento. Outros 30% são fruto de promoções e em apenas 10,6% das ocasiões ele vem por iniciativa do empregado. Para os poucos corajosos que reúnem estratégias e resolvem propor um aumento, a resposta costuma ser positiva. A pesquisa demonstra que 70% dos entrevistados que elaboraram uma proposta foram atendidos.
A psicóloga e consultora de recursos humanos Elisângela Martins, 33 anos, por exemplo, nunca teve problemas em requisitar um aumento de salário ; e obteve êxito duas vezes, em ocasiões diferentes. ;Consegui porque mostrei um trabalho diferenciado. E também chequei antes com o chefe se haveria essa possibilidade;, conta. Outra dica que a consultora dá é avaliar o quadro econômico e a estabilidade da organização. Se for um período de crise, é bom adiar a proposta. Mas, se os negócios vão bem e o funcionário apresentar resultados satisfatórios, o medo deve ser enfrentado. ;Sempre fiquei esperta para pedir no momento certo;, conclui ela.
Passo a passo
1- Respire fundo e tome a iniciativa
Mario Custódio, gerente de recursos humanos da Robert Half, explica que o receio de apresentar uma proposta de aumento tem origem na própria tradição cultural brasileira, de esperar que a iniciativa seja tomada por outros. Para ele, não há problemas em chegar primeiro se o pedido for embasado por objetivos concretos. ;É preciso manter uma comunicação clara e transparente com o seu superior. E ter bom senso também. Só fazer aquilo que é a obrigação ou pedir aumento simplesmente porque quer é errado. São necessários argumentos sólidos para justificar uma quantia adicional no fim do mês", comenta o gerente.
2- Apresente resultados
Atingir metas e produzir além do combinado é um bom começo para engordar o contracheque. Segundo Mário Custódio, justificativas como tempo de experiência na casa, compromissos financeiros ou comparação com profissionais de outras empresas não são validadas e podem gerar situações embaraçosas. A melhor forma de convencer o patrão é exibir um balanço da produtividade que demonstre a importância do profissional para a rotina da instituição. Mas é preciso cuidado e bom senso ao avaliar seu próprio desempenho.
3- Não apele para o autoelogio
A psicóloga e coach de carreiras Sabrina Ferroli aconselha os funcionários a não caírem na armadilha do autoelogio e a encararem com realismo o próprio desempenho. A solução, caso a empresa não tenha uma ferramenta ou relatórios constantes de feedback para os funcionários, é pedir avaliações constantes do superior. ;É muito importante saber se aquilo que o profissional pensa a seu respeito é validado pelo gestor;, comenta Sabrina. ;A partir dos resultados, é possível identificar a possibilidade de reconhecimento dentro da empresa. O aumento deve ser buscado em uma perspectiva de progresso, e não de insatisfação.;
O povo fala
23 anos, eletricista
;Teria, com certeza, se estivesse desenvolvendo um bom trabalho, crescendo e produzindo.;
23 anos, assistente administrativa
;Sim. Inclusive já até pedi, mas não consegui. Acho que, se o chefe perceber que o funcionário está precisando e se for compatível com a atividade, ele pode pedir, sim.;
Ricardo Lucena,
33 anos, motorista
;Lógico que sim. Se o salário estiver ruim, a gente tem que falar. Mas o patrão também tem de ser inteligente e dar o aumento por conta própria.;
Maiara Oliveira,
17 anos, estudante e estagiária
;Acho que não
teria, porque sou muito tímida.;