Jornal Correio Braziliense

Vestibular e PAS

Menos filhos. E cada vez mais tarde

O Distrito Federal registrou, de 2000 a 2010, uma das menores taxas de fecundidade do país. A principal queda está entre as mulheres de 15 a 24 anos. As brasilienses passaram a dar à luz mais velhas e com maior grau de escolaridade

As mulheres do Distrito Federal tiveram menos filhos entre 2000 e 2010. Nesse período, a capital registrou uma das menores taxas de fecundidade do país, com São Paulo e Rio de Janeiro. O índice chegou a 1,74 dependente por mulher, número abaixo do necessário para manter a população estável, que deveria ser de 2,1. Se depender somente desse fator, nos próximos 30 anos, a quantidade de habitantes começará a decrescer. As brasilienses optaram ainda em ter filhos mais velhas e com o grau de escolaridade maior. O perfil da mulher mais estudiosa e trabalhadora influencia diretamente na queda dos nascimentos, de acordo com dados divulgados ontem pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

A 5; pesquisa de Evolução da Fecundidade no DF entre 2000 e 2010 mostra que há uma transição na cultura da mulher brasiliense, se for comparada ao perfil da população em meados das décadas de 1960 e 1970. Na ocasião, cada uma tinha, em média, seis filhos. Hoje, não passa de dois. Em 2000, mulheres de 15 a 49 anos deram à luz 47.615 bebês vivos. Dez anos depois, os nascimentos caíram para 44.047, o que representa redução de 7,5%.

A principal queda está entre aquelas com idade de 15 a 24 anos. O número de filhos para essa faixa etária teve redução de 27,7%. Proporcionalmente, mais da metade dos nascidos vivos foram gerados por mulheres entre 20 e 29 anos. Nos próximos anos, no entanto, o maior número de mães deve ter de 30 a 34, se o crescimento se mantiver (veja quadro). Apesar de ainda representar um percentual pequeno, a maternidade aos 40 anos aumentou mais de 90%. Em 2000, somente 1,4% das mulheres tinha filhos nessa faixa etária. No dado mais recente, houve aumento para 2,7%.

Elisângela da Silva Santos, 40 anos, segue o perfil demonstrado pela Codeplan. A mãe dela teve oito filhos, mas ela optou por não seguir o exemplo. ;Tem que fazer o controle de natalidade. No segundo filho, fiz laqueadura. Cuido deles sozinha. Trabalho muito para manter uma boa qualidade de vida e estudos para os dois;, disse a diarista e moradora da Estrutural. Para ela, um crescimento populacional exagerado demanda também investimento em infraestrutura. ;A pior situação para nós, hoje, é a falta de água, luz, energia. O governo deveria olhar mais para esses problemas;, completou.

Escolaridade

O grau de instrução das mães aumentou consideravelmente. O maior percentual de bebês (37,3%) está entre as mulheres com 8 a 11 anos de estudo. Elisângela está entre elas. Concluiu o ensino médio e já teve a carteira assinada em diversos lugares. ;Foi quando trabalhava em um hotel que consegui ;ligar as trompas;.; Em seguida, na pesquisa, vêm as mães com 12 anos ou mais de estudo (graduação, pós, mestrado), com 27,4%. De 2000 a 2010, o percentual para esse grupo aumentou 67,2%.

Já o número de mães sem nenhum grau de instrução caiu 80,8% em 10 anos. ;As mulheres têm estudado mais do que a população masculina. A priorização ao estudo e à atividade profissional têm levado-as a adiar a maternidade. Por isso, hoje, prevalecem aquelas a partir dos 30 anos;, afirmou o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya.

A intensidade do adiamento na maternidade surpreendeu os pesquisadores. O número pode levar à geração de políticas públicas voltadas para uma população mais velha. ;O governo deve começar a focar mais nos idosos, em termos de serviços. Já é comum, em algumas áreas da cidade, termos ociosidade nas escolas. Em determinadas regiões, não há necessidade, por exemplo, de construir mais unidades de ensino;, completou o presidente da Codeplan. A sugestão de Miragaya é que, analisadas as possibilidades, deve-se investir em políticas de relacionamento e lazer para os idosos.

Entre as mulheres, por exemplo, o estudo revela um envelhecimento da população. Houve uma redução naquelas com idade inferior a 24 anos. No grupo de 15 a 19 anos, a queda foi de 13,8%. Entre 20 e 24 anos, de 18,1%. Isso revela a diminuição das mães nascidas nas décadas de 1980 e 1990, quando já havia uma tendência de redução da fecundidade.

Opção de parto

Em todos os grupos estudados, aumentou a escolha pelo parto cesáreo. O crescimento, em 10 anos, foi de 28,8%. Mesmo entre as mais novas, o parto normal vem deixando de ser a opção principal. Em 2000, 74,1% das mães entre 15 e 19 anos escolhiam a opção natural. Em 2010, foram 68,3%. Para as mais velhas, entre 35 e 44 anos, a média é de 33,55%. ;Na faixa dos 30 anos, por questão de saúde, tem prevalecido o parto cesário. Até os 29, ainda prevalece o parto normal;, disse Miragaya.

Fonte
O estudo da Codeplan foi elaborado a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), disponíveis no site do Departamento de Informática do SUS (Datasus). A ferramenta, implantada desde 1990, informa o número de nascidos vidos notificados no país.

Palavra de especialista

Desejo de ser valorizada

;Os dados confirmam uma tendência de queda muito rápida no país inteiro e o Distrito Federal acompanha essa inclinação à fecundidade abaixo do nível de reposição. Isso indica que estamos reduzindo fortemente o ritmo de crescimento e, em 25 anos, teremos uma redução em números absolutos da população. Essa tendência vem desde a década de 1970, mais forte na década de 1980. As mulheres começaram a ter menos filhos e, nesta última década, estudiosos foram surpreendidos com uma redução mais drástica. A escolarização das mulheres e a participação no mercado são variáveis que explicam essa queda. Antigamente, os filhos representavam uma previdência social, você tinha seguro a partir do número de descendentes, a mãe saberia que teria um apoio. Hoje, as mulheres querem realizar o desejo de ter uma carreira profissional, de ser valorizada. Mas essa mudança terá medidas importantes no futuro. Com o processo de envelhecimento da população, teremos menos jovens e a força de trabalho estará reduzida. É um desafio grande. Quanto ao parto cesário, a tendência do Brasil vai contra o que é preconizado mundialmente na área de saúde. De certa forma, está se expondo a um risco a mãe e o recém-nascido.;
Ana Maria Nogales, professora do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB)