Jornal Correio Braziliense

Enem

Mudanças no Enem foram propostas pelo Cespe

Inep encomendou a pesquisadores da UnB estudo sobre discrepâncias nos critérios para corrigir redações, trabalho que será realizado novamente pelo Cespe

A Universidade de Brasília foi a responsável pelo estudo que gerou as mudanças no sistema de correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) anunciadas nesta quinta-feira, 24 de maio, pelo Ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Por encomenda do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dois professores ligados ao Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) realizaram pesquisa para aperfeiçoar o modelo de análise das redações.

Paulo Portela e Luiz Mário Couto criaram, a partir de proposta formulada pelo Inep, o que está sendo chamado de recurso de ofício, um sistema de redução das discrepâncias entre as avaliações de corretores na prova de redação. O modelo prevê que quando a discrepência entre os dois corretores for superior a 200 pontos, em um total de 1 mil, um terceiro avaliador entrará no circuito. Se a avaliação dele não coincidir com a dos outros dois, será formada uma banca com três especialistas para analisar a prova em questão. Isso tudo sem a necessidade de que o estudante ingresse com pedido de recurso. ;Daí porque chamamos de recurso de ofício;, explica Ricardo Carmona, diretor do Cespe, instituição responsável pela correção de todas as provas das últimas edições do Enem. Coube também ao Cespe a aplicação das provas, etapa realizada em consórcio com a Cesgranrio.

O ;recurso de ofício; vale também na análise individual de competências dos candidatos pelos avaliadores. Os corretores levam em conta cinco competências ao corrigir cada redação, entre elas demostrar domínio da língua portuguesa e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento. Cada competência vale até 200 pontos, somando até 1 mil pontos na avaliação geral. Se a diferença entre as avaliações de competência for superior a 80 pontos, a redação tambem terá de ser analisada pela banca. Os avaliadores são independentes, ou seja, um não conhece a avaliação do outro. "São filtros mais rigorosos, que implicam em um sistema mais complexo, mas também mais seguro, e que dará um salto de qualidade às avaliações", afirma Aloizio Mercadante.

A mudança, que será implementada a partir da próxima avaliação, marcada para os dias 3 e 4 de novembro, faz parte do processo de aprimoramento contínuo do Enem, segundo Aloizio Mercadante. "Temos de aprimorar o sistema cada vez mais", afirma. "O Enem é peça estruturante do sistema de ensino superior brasileiro, democratiza o sistema de acesso e ajuda a estruturar o currículo do Ensino Médio", completa, ao destacar que modelos semelhantes são adotados em vários país desenvolvidos, em alguns há mais de cinquenta anos.

Na última edição do Enem, candidatos questionaram na Justiça os critérios de correção. "São interpelações que provocaram revisão de avaliações, das quais menos de uma dezena resultou em mudanças de nota", explica Luiz Couto, que é coordenador de Provas Práticas do Cespe. "É um percentual insignificante em um universo de aproximadamente 4 milhões de redações, mas que, com as mudanças, esperamos responder no sentido de dar mais segurança aos candidatos", acredita. "O MEC tem sido competente em aprender com as dificuldades do passado. Estamos nos fortalecendo", reflete o ministro.

TESTES - Para chegar ao novo modelo de correção, Paulo Portela, Luiz Mário Couto e a equipa do Cespe conduziram reflexões iniciadas ainda no final do ano passado e realizaram série de testes que duraram cerca de duas semanas e envolveram 50 corretores analisando 2 mil redações selecionadas. "Testamos dois métodos, um em que os corretores se comunicavam por meios eletrônicos e outro presencial", explica Luiz Couto. "Chegamos então a um sistema que julgamos o mais adequado. Também sugerimos a supressão de uma das cinco competências", conclui.

O modelo foi submetido a uma comissão de pesquisadores escolhida pela Associação Brasileira de Avaliadores a pedido do Inep. "Trouxemos os melhores cientistas do país para nos ajudar na elaboração dos critérios", afirma o ministro da Educação. "Eles acrescentaram contribuições importantes e fizeram algumas modificações, mas prevaleceu o modelo desenhado pelo Cespe", conta Ricardo Carmona. "Pelos nossos estudos, o resultado de uma quarta correção é tão bom qualitativamente quanto a banca examinadora, opção definida pelo Inep", emenda Luiz Couto.

As mudanças exigirão a contratação de mais 1,2 mil corretores, além dos cerca de 3 mil do último exame. "Teremos também de criar auxiliares de supervisão", explica Luiz Couto. A expectativa do Cespe é de que aproximadamente 4% das redações corrigidas, o equivalente a 160 mil textos, passarão pelas bancas, caso o tema seja de mais fácil compreensão aos candidatos. "O modelo implicará mais custos, mas eles são infinitamente menores de que a insegurança no processo", afirma Aloizio Mercadante.

Na última avaliação, realizada nos dias 22 e 23 de outubro do ano passado, as redações eram corrigidas por dois especialistas, sem que um tivesse conhecimento da nota atribuída pelo outro. Se a discrepância entre as notas fosse superior a 300 pontos, também em uma escala de um a 1 mil, prevalecia a nota dada por um supervisor, que entrava no circuito para analisar a prova. O critério é o mesmo adotado nos últimos cinco anos, com a diferença de que em 2010 o supervisor era acionado para correção em casos de discrepância superior a 500 pontos. "A experiência foi apontando a necessidade de tornamos o critério cada vez mais rígido", afirma Luiz Mário.

Além das mudanças no modelo de correção das redações, Aloizio Mercadante anunciou também aumento de 1,7 mil para 3,4 mil dos chamados pontos de atenção, etapas de certificação do processo de execução do Enem e de gestão de risco. "Quanto maior o número de pontos de atenção, mais seguro o sistema", esclarece o ministro. Foi anunciada ainda diminuição da nota de corte de 500 para 450 pontos em cada área do conhecimento para aqueles que farão o Enem para certificação do Ensino Médio. Também será divulgado, em julho, manual de orientação aos candidatos. "Queremos que os candidatos participem com mais segurança e mais informações", explica Aloizio Mercadante.

ADESÃO - Criado em 1998, inicialmente como modelo de avaliação do Ensino Médio e mais tarde como critério de acesso ao ensino superior, o Enem teve 5,4 milhões de inscritos na última edição. O número é o maior já registrado na história do exame. As provas exigiram a mobilização de 400 mil trabalhadores, 140 mil salas de aula e 9.728 rotas de distribuição.

Em todo o país, 48% das instituições públicas de ensino superior participam do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação e oferecem suas vagas por meio do Enem. Outras 52% que estão fora do sistema também utilizam o Enem como bônus na nota do vestibular, ou mesmo parte da nota do vestibular, inclusive a Universidade de Brasília, que preenche vagas remanescentes com base na nota do exame. Na última semana, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB iniciou discussão sobre uso do Enem em substituição ao vestibular. O decano de Ensino de Graduação apresentou parecer favorável à adesão. Leia mais aqui.

UnB Agência