A três dias de entregar o cargo de ministro da Educação, Fernando Haddad anunciou que a prova do Enem prevista para abril não será realizada. Na semana passada, ele já havia informado que seria difícil executar duas edições do exame este ano, e ontem responsabilizou a Justiça Federal do Ceará. Segundo o ministro, a exigência judicial que permite a todos os candidatos acessarem o espelho das redações corrigidas torna difícil a viabilidade da aplicação do exame daqui a três meses. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não tem condições tecnológicas de fornecer o material aos 4 milhões de candidatos que fizeram a última edição da prova, em outubro.
;O coroamento do Enem passa por duas edições no ano e nós sabemos disso desde 2009. Mas não podemos colocar a máquina em fadiga. Há uma questão tecnológica a ser resolvida. É um problema novo, que foi colocado e que não é tão simples assim;, disse Haddad, após conceder entrevista ao programa de rádio Bom dia, ministro. ;Por enquanto, teremos um (Enem) por ano até que tenhamos fôlego para atender às exigências. A questão está sendo discutida e pode não haver (o exame) em abril;, completou Haddad.
O ministro já havia alertado que o Ministério da Educação (MEC) teria dificuldade para realizar duas edições do exame este ano. Na ocasião, ele declarou que o Inep enfrentaria entraves para ;dobrar o esforço da realização de uma prova para 5 milhões de pessoas;.
O imbróglio contraria decisão do próprio MEC, que publicou, em 20 de maio do ano passado, no Diário Oficial, uma portaria determinando a realização do Enem ;pelo menos duas vezes ao ano; a partir de 2012. Havia até mesmo as datas da avaliação neste primeiro semestre: 28 e 29 de abril. Mas ontem, o ministro reconheceu que o governo ;não pode lançar a ideia; sem ter condições de ;atendê-la;.
Até o momento, 122 candidatos entraram na Justiça pedindo acesso à correção da redação do Enem de 2011. Desse total, 79 solicitaram revisão da nota. Camila Rodrigues foi a primeira estudante no Distrito Federal a receber vista da redação, depois do pedido judicial. ;Acredito que o problema é que eles corrigem muitas redações e acabam dando notas arbitrárias;, disse a estudante de 18 anos. O prazo do MEC para mostrar a cópia autenticada à jovem termina amanhã.
Nova liminar
Na noite de ontem, o juiz Rafael de Souza Pereira Pinto, da 22; Vara Federal do Rio de Janeiro, indeferiu o pedido liminar de vista às redações. Mas o ministério e o Inep continuam obrigados a oferecer acesso devido à liminar anterior. Ainda assim, o MEC espera que o Tribunal Regional Federal da 5; Região, no Recife, defina hoje qual decisão será válida.
Recorde nas inscrições para o ProUni
As inscrições para o Programa Universidade para Todos (ProUni) terminaram às 23h59 de ontem. De acordo com balanço parcial divulgado pelo Ministério da Educação às 18h, o número de inscritos chegou a 1.098.856, superando o total do ano passado, de 1.048.631 candidatos. Cada estudante pode fazer até duas opções de curso. Até o início da noite de ontem, os estados com maior número de inscrições eram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
MEC discute troca no Inep
Aloizio Mercadante nem assumiu o Ministério da Educação e já se discute a possibilidade de Malvina Tuttman, atual presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), deixar o comando da autarquia com a troca no comando da pasta.
A assessoria de imprensa do ministério confirma que estuda a substituição, mas garante que não há no momento qualquer definição nesse sentido. Apesar dos problemas na edição de 2011 do Enem, a pasta nega que a possível troca seja motivada por essa razão. O MEC disse ainda que as alterações na estrutura do Inep podem prejudicar a proposta de aplicar uma edição do Enem em abril, já que é preciso fazer um planejamento da prova com antecedência. Desde que assumiu o comando da autarquia, Malvina defendeu a ampliação do número de edições do Enem.
Há um ano no cargo, Malvina Tuttman assumiu a presidência do Inep com o desafio de tentar recuperar o Enem depois das falhas nas edições de 2009 e 2010. Ela substituiu Joaquim José Soares Neto, que deixou o cargo após duras críticas durante a aplicação do Enem. Não foi a primeira vez que a avaliação derrubou um presidente do instituto. Em 2009, após o vazamento da prova daquele ano, Reynaldo Fernandes deixou o comando do Inep. (PF)
Memória
Histórico de problemas
Em 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixou de ser uma avaliação para medir a qualidade do ensino no país e se tornou a principalmente porta de entrada para as universidades federais. Depois da reformulação, foram três edições consecutivas. Todas com falhas. No mesmo ano em que foi reestruturado, houve o vazamento da prova na gráfica Connasel, e o Enem precisou ser remarcado. Em 2010, os alunos tiveram que driblar os erros de impressão nos cadernos de prova. Na edição de 2011, estudantes do Colégio Christus, em Fortaleza, tiveram acesso antecipado a pelo menos 14 questões idênticas às do Enem, que acabaram anuladas para os alunos da instituição. De acordo com investigação da Polícia Federal (PF), os exercícios vazaram durante a etapa do pré-teste, realizada um ano antes, pelo Inep. Um professor entregou as questões aos alunos. O inquérito policial concluiu que a Cesgranrio terceirizou parte da aplicação do pré-teste no colégio cearense.