Falam de uma prova aqui, outra acolá, mas a verdade é que, por enquanto, não há edital na praça;
Elisa Andrade, administradora
Nos cursinhos preparatórios para concursos públicos, um assunto tem ocupado as rodas de conversa mais do que os detalhes da Lei n; 8.112 ; a cartilha do funcionalismo ; e os macetes para as questões de cálculo. O arrocho fiscal prometido (e esperado) para o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff preocupa os concurseiros, que preveem um número bem menor de vagas e seleções oferecidas em 2015.
A apreensão dos estudantes faz todo sentido, no entender do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nelson Marconi, especialista em política e economia do setor público. ;O governo terá de ser bastante rigoroso com os gastos e o mais provável é que, por isso, não haja um número significativo de concursos no ano que vem;, comentou. O calendário de provas poderá ser muito parecido ou mesmo mais minguado que o de 2014, que, com Copa do Mundo e eleições, já não foi o dos melhores para quem sonha com a estabilidade.
Diante da real necessidade de melhorar as contas públicas, em meio a um cenário de economia estagnada, Marconi defende que, no mínimo, a nova equipe de Dilma adote critérios firmes no lançamento de editais para a ocupação de cargos no governo federal. ;Não sabemos o que vai ocorrer, mas a folha de pessoal pesa muito. A presidente precisará escolher bem para quais setores vai autorizar contratações;, acrescentou.
Cronograma
A torcida dos concurseiros é para que as seleções já solicitadas ou autorizadas saiam logo do papel, garantindo um cronograma mínimo. Aparecem nessa lista certames cobiçados, como o do Tribunal de Contas da União (TCU), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) e da Polícia Civil do DF. Caso confirmados esses editais, estariam em jogo pelo menos 5,3 mil vagas.
O estudante Ricardo Aires Rangel, 19 anos, anda sem esperança de que fará muitas provas em 2015. ;Todo mundo sabe que 2015 será um ano ruim, infelizmente. Mas estou tentando não levar para o lado pessoal. Entendo a necessidade de conter despesas;, comentou. De olho em um cargo no serviço público, ele começou a estudar com afinco há poucos meses. ;Se os concursos maiores vingarem, vai se dar bem quem tiver mais tempo de preparação;, acrescentou.
Todo mundo sabe que 2015 será um ano ruim. Mas estou tentando não levar para o lado pessoal;
Ricardo Aires Rangel, estudante
Em sala de aula, com as portas fechadas, professores de cursinhos deixam transparecer uma intuição semelhante à dos alunos e reconhecem a influência direta do arrocho fiscal no número de concursos. ;Está claro que 2015 não será como a gente esperava. Falam de uma prova aqui, outra acolá, mas a verdade é que, por enquanto, não há edital na praça;, sublinhou a administradora Elisa Andrade, 24, há dois anos dedicada a livros e apostilas.
Terceirizados
Para manterem o pique dos estudos, os concurseiros se agarram à expectativa de que os governos coloquem em prática o discurso de trocar terceirizados e comissionados por aprovados em seleções públicas. Na opinião do professor Nelson Marconi, da FGV, porém, não se pode contar com essa possibilidade. ;O problema é que essa mudança não será feita de uma hora para outra. Trata-se de uma política de médio prazo;, explicou.
O cenário macroeconômico ;evidentemente alimenta uma ideia de que os concursos serão travados;, sublinhou o professor Ernani Pimentel, dono do Grupo Vestcon. ;Melhorar os serviços públicos será tão importante quanto diminuir os gastos com o funcionalismo;, ponderou ele, torcendo para que, nesse sentido, os governos federal e local avancem na proposta de substituir funcionários nomeados por concursados.
Em 2015, a pedagoga e concurseira Soraya Volles, 44, espera mais editais lançados pelo GDF do que eventuais seleções aprovadas no âmbito da União. ;O governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB), deixou claro ser contra o grande número de cargos comissionados nos órgãos locais;, lembrou, apostando fichas em concursos para preenchimento de vagas nas administrações regionais. O coordenador-geral da equipe de transição, Hélio Doyle, confirmou a intenção de Rollemberg em reduzir os comissionados. ;Essa é a tendência;, disse, mas sem fazer previsões.