As concurseiras Daniele e Klícia estão de olho em oportunidades na Secretaria de Educação do DF e buscam ainda preparação além da sala de aula |
A renda corroída pela inflação e o medo de perder o emprego agravaram o aperto sazonal das escolas preparatórias para concursos, um setor de R$ 40 bilhões anuais quase sempre alheio às crises da economia. O aperto do orçamento levou muitos concurseiros a deixar as salas de aula e a buscar alternativas, tirando fôlego da busca frenética pela estabilidade no serviço público. Além da carestia, a demanda se retraiu também em razão dos eventos destse ano atípico, com a Copa do Mundo e as eleições em outubro. Assim, o movimento despencou de 50% a 70% nos últimos meses.
Com a rotina de salas de aula vazias e professores com horários vagos, um grupo de docentes reclamou ao Correio dos salários atrasados. Os recentemente demitidos recebem os direitos trabalhistas em parcelas e revelam ainda que as empresas menores faliram e outras, de forma discreta, fecharam unidades menos lucrativas.
Max Kolbe, professor de direito constitucional, culpa a conjuntura pela fraqueza do mercado. Após a festa do futebol, os alunos ainda se depararam com o adiamento na publicação dos editais. A maioria dos órgãos públicos optou por suspender a homologação de certames para não ferir a lei eleitoral, que proíbe contratações 90 dias antes do pleito e até a posse. ;Praticamente, só teremos contratações em 2015. Mas o sumiço dos concurseiros preocupa, pois eles deveriam se dedicar ainda mais aos estudos;, lamentou.
No entender do advogado, quem deixa tudo para a última hora, dificilmente tem sucesso em provas concorridas que deverão ser autorizadas em breve, para a Câmara Legislativa do Distrito Federal e para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). ;Há também uma disputa muito aguardada, para o Tribunal de Contas da União (TCU). Se sair, as salas voltarão a ficar cheias em setembro;, apostou.
O presidente do Vestconcursos, Ernani Pimentel, admitiu que a baixa na procura foi ;bastante acentuada;. Além das eleições e da Copa, ele atribuiu a evasão à metodologia do governo. ;Em muitos casos, na área federal, o edital dá prazo muito curto, de 30 dias, para a prova. Em Brasília só não ocorre porque a legislação local determina 90 dias;. O empresário considera um erro suspender os concursos. É necessário adiar apenas a convocação.
Wilson Granjeiro, vice-presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), avaliou a demanda fraca como algo sazonal. ;Em julho, a debandada é sempre de 20% a 30%. Este ano, a partir de agosto, a previsão é de reforço de 40% ou 50%, em razão dos concursos para as polícias civil e federal, INSS e STJ;, calculou. Ele garantiu, também, que não houve demissões no setor. E as salas vazias seriam reflexo das férias de professores.
;Os cursos não correm o risco de fechar porque, no período de baixa, os empreendedores usam outras estratégias, como preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem);, ressaltou. O mercado representado pela Anpac é formado por duas mil escolas oficiais presenciais, telepresenciais ou on-line. No Brasil, 1,2 milhão de pessoas procuram cursos preparatórios todos os anos. Em Brasília, são 350 mil.
Para se adaptar à realidade, a Casa do Concurseiro acaba de lançar o Enem Quiz, uma ferramenta de preparação on-line, com revisão de matérias e questões das provas passadas. Segundo o coordenador Edgar Abreu, o canal tem também versões para aplicativos de iPhone e tablets. ;Para fugir da oscilação da demanda, nada melhor que oferecer instrumentos novos e confiáveis, que atendam os alunos em qualquer lugar;, destacou.
Sonho caro
Além das restrições do Orçamento federal, o professor Rodrigo Francelino, do IMP Concursos, apontou os altos custos e a má gestão como fatores para a fuga dos alunos. ;Esse é um negócio como outro qualquer, que requer modernização e criatividade;, explicou.
Francelino se juntou aos amigos Diego Amorim e Pablo Guimarães para criar, em 2012, a superaula e a aula de bar. Dão dicas de uma hora e cobram em torno de R$ 120 por mês. A outra modalidade ocorre sempre uma semana antes de determinado concurso. Nela, oito horas intensivas, das 6 da tarde a uma da manhã, incluído o material, custam em média R$ 30, além de um quilo de alimento não perecível, para doação a comunidades carentes.
;É um show para o pessoal aprender, se divertir e não dormir. O aluno pode relaxar com a gente. Todos dizem que aprendem muito mais assim. Precisei estudar psicologia para conhecer novos métodos de aprendizagem;, explicou o professor.
Daniele Martins, 34 anos, pedagoga, participou dos eventos de Francelino e os indica a amigos. Ela se prepara para o concurso da Secretaria de Educação do DF. ;Passei por vários cursos, parei por quatro anos e voltei. Quem se dedica passa;, garantiu. Sua colega Klícia de Lima Ramos, 22, também vai disputar o certame. ;Estou interessada nosestudos alternativos;, disse.
Para Regina Ferreira, coordenadora do grupo Alub, as aulas presenciais são insubstituíveis. Mas o preço, seja qual for a modalidade, é o diferencial. ;Temos que analisar as possibilidades do aluno. Nosso preparatório completo para a Secretaria de Saúde do DF custa só R$ 600;, disse.
Protesto
de aposentados
O Movimento Unificado dos Idosos, dos Aposentados e Pensionistas do Serviço Público e do INSS será lançado oficialmente, amanhã, em favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 555/2006, que acaba com o desconto previdenciário de servidores aposentados, e do Projeto de Lei 4.434/2004, que recupera o valor dos benefícios do INSS pelo número de salários mínimos. O ato será das 9h às 13h, no Plenário 2 da Câmara. Os representantes serão recebidos pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Drible no alto custo
O advogado Ricardo Starling se organizou para estudar sozinho |
Para fugir dos altos preços dos cursos presenciais, muitos concurseiros recorrem a videoaulas e a simulados, além de fóruns de discussões e dicas de professores. A assistente administrativa Érica Amâncio Maia, 20 anos, frequentou por dois meses um cursinho em Taguatinga específico para o Banco do Brasil, durante as férias da faculdade, pagando R$ 700.
O advogado Ricardo Costa Starling, 31, prefere alternativas aos cursinhos preparatórios. Para ele, a maioria dos professores não consegue atender às expectativas. ;Eles estão muito caros e não valem a pena;, criticou. O método que usa para ter um bom desempenho é estudar as bancas organizadoras, avaliando as questões anteriores do mesmo concurso e focando em determinado assunto e cargo.
Aulões gratuitos e beneficentes, geralmente em auditórios lotados, também atraem os candidatos. Para Ranil Aguiar, coordenadora pedagógica do IMP, esses eventos são importantes para complementar o conhecimento. É o caso do estudante Pedro Moraes, 22, que estuda num renomado preparatório em Águas Claras, mas não paga nada por isso. O local tem sala de estudos aberta à comunidade. ;Não tenho condições de pagar mais de R$ 1 mil num curso aqui, mesmo sabendo que é investimento. Para tentar driblar a concorrência, eu me viro com o que dá;, revelou.
Aprovado no concurso da Polícia Civil do DF neste ano, João Paulo Mozer dá outra dica para fugir dos altos preços. ;Videoaulas e grupos de estudos. Sem isso, não saberia o que fazer. Os preços estão exorbitantes;, contou. Antes da aprovação, ele frequentou dois grandes cursos de Brasília. O primeiro, para delegado federal, de cinco meses, por R$ 3 mil. O segundo, de 45 dias, saiu por R$ 1,5 mil.
Com o dinheiro curto, a universitária Jacqueline da Silva, 21, deu um tempo nos cursos. Já desembolsou R$ 750 por um preparatório básico, em abril. ;Entrei, para começar a me acostumar com a vida de concurseiro. Mas, como não há previsão de concurso na área que desejo este ano, vou me dedicar a outros planos;, afirmou.
Eduardo Leite, gestor de recursos humanos, também desistiu. Estuda por conta própria. ;O começo do curso foi produtivo, mas, com o passar dos meses, notei certo desânimo. Talvez efeito da Copa, talvez por pesar muito no orçamento;, contou. Leite, que conseguiu desconto e gastou por volta de R$ 900 com o preparatório, pretende voltar à sala de aula só no próximo ano. (VB)
Agosto começa com oportunidades de sobra para quem pretende entrar no serviço público ou pular para outro órgão em busca de novos desafios. Concursos estaduais e nacionais com editais já lançados oferecem, ao todo, 25,7 mil vagas para diversos cargos de níveis médio e superior. A maioria das inscrições está na reta final. Outras seguem até o fim do mês ou início de setembro. Para participar dos certames, é preciso pagar taxas que variam de R$ 34 a R$ 250.
Os salários podem chegar a quase R$ 24 mil, pagos para aprovados na prova do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Santa Catarina, cujas inscrições terminam na semana que vem. Também há remuneração na casa dos dois dígitos para quem passar no concurso da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul ; R$ 19,3 mil ; e para cargos específicos da Secretaria de Fazenda de Pernambuco ; R$ 11,8 mil ; e da Secretaria de Saúde de Rondônia ; R$ 11,7 mil.
Para os concurseiros, um dos destaques deste início de mês é a abertura de 143 vagas na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), 106 delas para trabalhar em Brasília. O salários variam de R$ 5,4 mil a R$ 11,4 mil. Podem concorrer aos cargos de analista administrativo e especialista em regulação de serviços candidatos que tenham diploma de nível superior em qualquer área. As inscrições acabam em 13 de agosto e as provas objetivas estão marcadas para 28 de setembro.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) oferece 12 vagas para pesquisador adjunto e assistente, pagando de R$ 9,5 mil a R$ 12,1 mil. Para esse concurso, as inscrições só serão abertas em duas semanas. A lista de oportunidades do mês inclui, ainda, a chance de atuar como professor em universidades federais, com salários que chegam a R$ 8,7 mil.