Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Cota limitada ao Executivo

Lei que prevê reserva de vagas para negros em concursos deixa de fora as posições de alto escalão mais cobiçadas pelos concurseiros, como as de juiz e procurador. Especialista defende política de preferência até para cargos de confiança

Uma nova discussão sobre cotas para negros nos concursos públicos se desenvolve nos bastidores da Esplanada. Os especialistas defendem a elaboração de uma política de preferência para cargos de alto escalão no Judiciário. É que, mesmo quando sancionada, a lei que destina 20% das oportunidades para negros, aprovada na última terça-feira pelo Senado, só será aplicada nos certames do Executivo que oferecerem mais de três vagas. Concurseiros que disputarem cargos no Judiciário não serão beneficiados. E, mesmo que o sistema seja estendido aos outros Poderes, para os cargos mais cobiçados como os de juiz e procurador, geralmente, é oferecida apenas uma vaga por seleção.

O professor de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho considera necessário um incentivo do Estado para que a discussão sobre cotas de negros no alto escalão ganhe força. ;Primeiramente, o exemplo deve vir do governo. De 39 ministros, temos um único negro. Isso torna o Executivo brasileiro o mais racista do planeta. A discussão sobre uma política de preferência deve ser feita com urgência, inclusive para os cargos de confiança;, observou.

A estudante Jacqueline Ferreira, de 21 anos, acredita que as cotas são apenas uma medida paliativa à melhoria da educação. ;Acho que as cotas sociais seriam mais adequadas, mas ainda assim não são a solução dos problemas. Se alguém já é capacitado com uma graduação, pode chegar mais longe. As cotas vão fazer a concorrência ainda maior;, afirma.

A diretora executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Maria Tereza Sombra, tem a mesma linha de pensamento. ;Nós somos radicalmente contra cotas em qualquer situação. Se a presidente aprovar a lei de cotas, estará menosprezando os negros e mestiços. Ela estará passando o atestado de que o branco é mais inteligente do que o negro e, por isso, se dá a necessidade de cotas;, justifica. ;O que a gente precisa é de bons colégios e bom ensino em favelas, e não separar o preto do branco;, completa a diretora da Anpac.

O texto aprovado pelo Senado reserva vagas para negros apenas em cargos efetivos na administração pública federal, em autarquias, em fundações e empresas públicas e em sociedades de economia mista controladas pela União. Caso seja sancionada pela presidente Dilma Rousseff, valerá por 10 anos.