Com a obrigação de economizar para conter os gastos públicos e reequilibrar a economia do país, o governo surpreendeu ao anunciar a abertura de quase 70 mil vagas no ano que vem. Entretanto, há quem diga que mesmo este montante será insuficiente para suprir a real necessidade de servidores. ;Havia a expectativa de que, em 2014, o governo reduziria o número de certames. Mas o país precisa de serviços públicos de qualidade. Teremos eventos importantes, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e, além da infraestrutura, são necessários mais funcionários;, afirmou o professor de Direito Penal para concursos Gladson Miranda.
Na avaliação de Miranda, as manifestações que tomaram as ruas do país em junho mostraram a indignação da população com a precariedade do serviço público. ;Acho que o governo se deu conta disso e há expectativa de que sejam abertas cada vez mais vagas;, analisou.
De olho nas oportunidades, as salas dos cursos preparatórios estão lotadas. O estudante João Paulo de Lima Senísio, de 26 anos, decidiu encarar as aulas há um mês. Estuda o módulo introdutório e ainda não escolheu a carreira que pretende seguir. ;Quero algo nas áreas judiciária ou policial. Hoje, eu trabalho na iniciativa privada e me decepcionei com a insegurança e a baixa remuneração. Quero estabilidade. Fiquei surpreso com a abertura de tantas vagas, pois a expectativa era de que fossem cortar concursos. Espero ter tempo hábil para estudar;, afirmou.
Interesse
Presidente do Grupo VestCon, Ernani Pimentel disse que, apesar de se surpreender com as 66,6 mil vagas prometidas pelo Executivo federal, a real necessidade do país é de 10 vezes mais servidores. ;Hoje, o Brasil precisa preencher pelo menos 600 mil vagas para ter um serviço público de qualidade. A população não aguenta mais ser mal atendida, ficar esperando por soluções que não chegam porque não há pessoal qualificado. Faltam médicos, policiais, fiscais;, alertou.
Pimentel ressaltou que, no primeiro ano do governo Dilma Rousseff, foram feitas 20 mil contratações sem seleção. ;Quem foi que disse que concurso para funcionário é gasto público? É investimento!”, disse. Na opinião dele, a falta de concursos suficientes para atender a real necessidade do país só se justifica porque há interesse de partidos em empregar seus correligionários. ;Hoje, 40% dos cargos públicos são comissionados, ocupados por indicação, e dos 60% restantes, 20% são de pessoas sem concurso;, destacou.
Vida tranquila
Por isso, o presidente do grupo Vestcon defende a aprovação do projeto, em tramitação no Congresso, que pretende criar a Lei Geral de Concursos Públicos. ;Ela prevê que a contratação será somente via certame e estipula um prazo mínimo entre o edital e a prova. Quando os prazos são muito curtos, os apadrinhados comecem a estudar antes e ficam em vantagem em relação aos outros candidatos;, disse. Outra determinação é que todos os aprovados sejam contratados.
As colegas Miriam Alencar Rodrigues, de 32 anos, e Camilla Mendonça, de 31, frequentam juntas a escola Gran Cursos para o certame de auditor fiscal do Ministério do Trabalho, com provas marcadas para o próximo domingo. Na reta final, as duas se dedicam exaustivamente aos estudos. Miriam, que está noiva e vai se casar no fim do ano, espera ser aprovada para garantir uma vida mais tranquila. ;O serviço público tem algumas regalias. Além da estabilidade, há planos de aposentadoria melhores. Não vamos poder contar com o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) no futuro;, salientou.
Camilla se revolta com o que considera número pequeno de vagas. ;Eu não entendo as intenções do governo. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) diz que a necessidade do país é de 5 mil novos auditores fiscais. O Ministério do Trabalho solicitou 600 vagas, e o governo aprovou apenas 100. Enquanto isso, a população fica sem atendimento;, lamentou. Ela lembra que, hoje, faltam profissionais da categoria na maioria das cidades brasileiras. Os auditores fiscais do Ministério do Trabalho atendem denúncias trabalhistas e fazem as rescisões de contrato de trabalhadores não sindicalizados.