O encontro reuniu no estacionamento do estádio de Sobradinho os fãs de motocicleta, profissionais que trabalham sob duas rodas e os apaixonados por rock. Mas o barulho da festa desagradou os candidatos do Enem que, a duas quadras dali, resolviam as provas de linguagem, matemática e redação.
"Era a etapa mais difícil. De repente começou um barulho alto no meio da prova. Todo mundo que estava concentrado se dispersou", explica Ana Carolina Rein, 19 anos, que fez o exame no Colégio La Salle. Ela conta que o som do motor das motos parecia, no início, o barulho de uma motosserra.
Ana Carolina Ferreira, que fazia a prova na mesma sala, confirma. "Aqueles textos enormes, cansativos e, do nada, toca um ;rockzão;. No fim do enunciado você não sabe mais o que está lendo no começo", ela conta.
Em outra sala do mesmo colégio, Bruna Valeska passava pelo mesmo problema. "Começou um burburinho na sala, todo mundo reclamando do barulho excessivo do lado de fora." Na frente do La Salle, o Centro Educacional Sete Estrelas também recebia alunos para o exame nacional.
"O Enem é uma prova nacional, agendada há um tempão. Não acredito que tenham autorizado realizar um evento desse tamanho no dia das provas, e logo aqui do lado", argumenta a estudante.
Motos irregulares
Segundo a assessoria da administração de Sobradinho, o encontro de motociclistas não tinha alvará para acontecer. O presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF Reivaldo Alves, um dos organizadores do evento, contesta.
"Realizamos o encontro há muitos anos, e temos o apoio da Secretaria de Cultura do GDF. Nunca tivemos problema com isso, não sei o que está acontecendo", protesta Reivaldo. O material de divulgação da festa tem a marca do Governo do Distrito Federal, mas o presidente do sindicato admite que não contatou a administração de Sobradinho.
Reivaldo se defende dizendo que muitos candidatos, ao fim da prova, foram para a festa. "Foi um show tranquilo, gratuito. Começamos às 9h, mas a música só começou às 16h para não ter problema. Ninguém quis atrapalhar nada." As provas do Enem no domingo começaram às 13h, e foram até as 18h30. O encontro do motociclistas acabou às 20h.
Não é a primeira vez que atividades como essa perturbam os concurseiros. Os dias do vestibular da UnB em junho de 2012 coincidiram com a data de uma festa agropecuária realizada no mesmo estacionamento. A proximidade entre o espaço de shows e as escolas, que costumam sediar diversos concursos na cidade, causa transtornos para os candidatos.
O estacionamento onde o encontro foi realizado é um dos poucos espaços de Sobradinho com espaço suficiente para receber eventos como o de domingo. A assessoria de comunicação da administração de cidade sabe que o problema é antigo, e garante ficar mais atenta às datas de realização de exames para que problemas como esses não se repitam.
Direitos dos candidatos
O Ministério da Educação (MEC) informou por meio da assessoria de imprensa que, se houver algo perturbando ou impedindo o candidato de realizar o exame, ele deve avisar ao fiscal de sala. O pedido deve ser encaminhado imediatamente ao coordenador do exame no local, que tomará alguma providência conforme necessário.
A assessoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) comunicou que o caso de Sobradinho não chegou ao conhecimento do órgão. Ainda segundo o Inep, os problemas reportados durante a realização das provas foram resolvidos de forma pontual, como a falta de energia em algumas cidades brasileiras e o destelhamento de uma escola em Amargosa (BA). Já sobre os casos que impediram participantes de fazer a prova, a assessoria declara o Inep e o MEC vão analisá-los.
A funcionária do Colégio La Salle Simone Ouriques acompanhou a realização do Enem na escola durante o fim de semana. Ela confirma que o barulho no domingo era alto, mas "não chegava a incomodar". Simone diz que nenhuma reclamação chegou até o coordenador no domingo. "Não se pode mandar parar a malha aeroviária em cima da escola para que todo mundo faça a prova no silêncio absoluto", ironiza a funcionária.
"Não era o caso de pedir isso, mas sim de mandar parar o show", rebate a estudante Ana Carolina Rein. "Uma aluna na minha sala pediu para o fiscal tentar resolver a situação. Quando o fiscal voltou, ele disse que a polícia tinha sido acionada, mas que não podia fazer mais nada", lembra Ana Carolina.
;Quem fez a prova, sabe o quanto um barulho como aquele atrapalha;, alega a candidata, que planeja usar os pontos do exame nacional para disputar por uma vaga em medicina. Mas ela está resignada com a situação. ;Apesar de tudo, espero ter me dado bem.;