A organização não governamental (ONG) Observatório de Favelas abriu inscrições para a nova turma da Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc), no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio. Neste ano, serão oferecidas 90 vagas para o curso de publicidade afirmativa, com habilitações em cultura digital e audiovisual. O projeto faz parte de uma parceria entre a ONG e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com patrocínio da Petrobras.
Pode participar quem estiver no segundo grau ou na universidade. Os pré-requisitos para quem quiser se inscrever são ter afinidade com as áreas de comunicação e cultura, estar cursando ou ter terminado o ensino médio e ter noções básicas de informática.
Os interessados devem enviar currículo e carta de apresentação por e-mail (selecao.espocc@gmail.com) ou entregar na sede da instituição (Rua Teixeira Ribeiro, 535 ; Parque Maré) até o dia 30 de novembro. O edital pode ser encontrado no endereço
As aulas são gratuitas e terão início em janeiro de 2013. Para quem não é morador da Maré, será oferecida uma ajuda de custo de R$ 90. Ao final do curso, com duração de um ano (440 horas), os alunos receberão um diploma de extensão emitido pela UFRJ.
O coordenador executivo da Espocc, Luiz Henrique Nascimento, explicou que o curso pretende, principalmente, fazer com que o aluno adapte as metodologias e ferramentas da publicidade de forma criativa e participativa, visando à transformação do seu bairro, da cidade e da própria vida. ; Apostamos muito nas ações coletivas e em redes de comunicação e cultura, seja visando ao trabalho e à renda ou ao ativismo para estimular outros atores de comunicação popular e impulsionar a troca de ideias e o trabalho em parceria;.
Um dos projetos finais do curso passado deu origem ao coletivo Entre sem Bater. Trata-se de um site colaborativo que apresenta recortes da realidade de pessoas vítimas de remoções, moradores que ocupam espaços ociosos da cidade, moradores de rua e ex-detentos. O objetivo, segundo os realizadores do projeto, é provocar o diálogo e a reflexão sobre moradia e direito à cidade no Rio de Janeiro.
;O trabalho de conclusão de curso deste ano será uma campanha publicitária pela redução da violência contra jovens negros, já que dos cerca de 50 mil brasileiros assassinados ano a ano, 26 mil são jovens negros, moradores de favela;. A campanha será lançada em março de 2012, com o apoio da Anistia Internacional.
Criada em 2005, a escola se propõe a formar jovens e adultos moradores de espaços populares do Rio para que sejam comunicadores cidadãos e multiplicadores das técnicas e teorias da comunicação. Nascimento explicou que a maior ambição da Espocc é possibilitar que a favela possa construir sua própria representação sociocultural, identificar e resolver seus próprios desafios de comunicação, além de desenvolver experiências sustentáveis.
;A representação dominante não se dá conta do que a favela é. Todas as políticas públicas destinadas à favela são muito baseadas nessas representações que acabam emergenciais e superficiais;, comentou. ;Por isso, queremos que a comunidade seja a protagonista nesse processo de construção de identidade e de solução de desafios;.
Ex-aluno da Espocc, Helcimar Lopes faz parte do Coletivo Raízes em Movimento, do complexo de favelas do Alemão, na zona norte, que promove o fortalecimento e a ampliação do capital social dessas comunidades, por meio de parcerias com a iniciativa privada e o governo e editais públicos.
;Lá, fiz muitos amigos, pessoal que já trabalha com ativismo social e isso abriu minha mente. Hoje tenho um olhar crítico ao ver uma propaganda, ler um artigo de jornal. Antes não tinha esse olhar;, contou Helcimar que se considera um multiplicador, pois tudo que aprende tenta passar adiante. ;E é importante pôr a boca no trombone e cobrar direitos;, concluiu.
O coordenador explicou que a instituição criou recentemente uma agência modelo, composta por professores, alunos e ex-alunos que desenvolvem produtos, serviços e projetos de publicidade e audiovisual para ONGs, governos, empresas e empreendedores comerciais e culturais de espaços populares. ;A própria escola é cliente da agência que cria as campanhas sobre os cursos, por exemplo, mas já temos agências de publicidade que estão de olho em nossos jovens comunicadores, já que hoje a classe C é o novo Eldorado do mercado;, acrescentou.
Fundado em 2001 por moradores da Maré, o Observatório de Favelas é uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública, localizada no conjunto de favelas.