O superintendente de operações do CIEE, Eduardo de Oliveira, afirma que é cada vez mais comum as empresas não obterem o retorno esperado na hora de contratar os jovens. ;Esperamos que, com a pesquisa, os estudantes possam se concentrar nos aspectos em que enfrentam maiores dificuldades. Ao se prepararem melhor, eles podem eliminar as barreiras que os impedem de iniciar sua carreira;, explica o responsável por intermediar as contratações entre a empresa e as instituições de ensino.
Para Jorge Matos, diretor do E-Talent, empresa que oferece soluções em gestão de pessoas e carreiras, quem contrata precisa ter clareza daquilo que deseja para não se arrepender no futuro. ;Não adianta contratar um estagiário, um trainee ou um aprendiz para ocupar uma função passageira. É preciso pensar naquilo que o indivíduo vai fazer quando sair dessa fase de aprendizado;, afirma.
Em relação aos candidatos, Jorge orienta que verifiquem se realmente apresentam o perfil para a vaga oferecida. ;Quando não se é aprovado em um processo de seleção, a negativa pode não significar incompetência, mas sim falta de adequação para o cargo e local pretendidos;, diz. Como, na maioria das vezes, o candidato tem os conhecimentos necessários, Jorge acredita que os processos de seleção vão considerar cada vez mais a capacidade que os novos profissionais têm para adaptar seu comportamento conforme as exigências da empresa.
Atenta às tendências do mercado, a estudante de ciências políticas Iana Alves, 22 anos, procurou entender como os profissionais da área fazem para conseguir um estágio. ;Eu trabalhava na empresa júnior do meu curso e, durante essa experiência, aproveitei para conhecer pessoas que já atuam em assessoria parlamentar, que é a área de que mais gosto;, revela. Foi graças a sua postura proativa e curiosa que Iana acredita que foi contratada para estagiar na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Após enviar um currículo detalhado com suas experiências e interesses, ela foi chamada para uma entrevista com as supervisoras da área. ;Procurei demonstrar que realmente queria aquela vaga, e que já conhecia o suficiente sobre as atividades que iria exercer. Por isso, acredito que fui bem;, conta a estagiária, que acompanha votações e discussões no Congresso Nacional relevantes para a empresa.
Kelliane Pereira, 17 anos, também teve que se esforçar antes de ser selecionada entre aproximadamente 2 mil pessoas para uma das 20 vagas do curso de técnico em redes do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Uma parceria entre a instituição e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), o programa permite aos alunos fazer um treinamento na empresa durante os meses de férias, com possibilidade de contratação no fim do curso. ;Cadastrei meu currículo no site e fui chamada. Tive que deixar claro que almejava meu crescimento profissional e que estaria disposta a trabalhar na Caesb;, relata.
Durante os meses de treinamento, Kelliane e outros 19 aprendizes trabalham na área de suporte técnico da empresa. A estudante, que ainda cursa o terceiro ano do ensino médio, sempre busca renovar o aprendizado, estabelecer uma boa comunicação com os colegas e demonstrar interesse em crescer na empresa.
Trainee na área de arquitetura da MRV Engenharia, Adriano Vieira, 25 anos, pode comprovar durante o processo de seleção que a capacidade de análise e resolução de problemas seria essencial para sua aprovação, assim como no desenvolvimento das futuras atividades. Depois de ter o currículo avaliado, ele fez uma prova on-line que cobrava conhecimentos em Excel, lógica e inglês. Aprovado nas duas etapas, Adriano participou de uma dinâmica de grupo com mais 15 pessoas, das quais cinco foram classificadas. ;Acredito que passei porque tenho muita vontade de trabalhar em construção civil. Estudei a missão e os valores da empresa e me destaquei na entrevista com os psicólogos;, afirma.
A parte mais difícil para o trainee foi quando os candidatos tiveram que expor as forças e as fraquezas da empresa diante dos diretores da construtora. ;Tive que comprovar meu conhecimento sobre vários setores do local onde ia trabalhar, assim como a base que recebi da universidade. Usei esses ensinamentos para apresentar as soluções;, relembra Adriano.
Começar a vida profissional como aprendiz pode ser um instrumento importante para ingressar no mercado de trabalho com qualificação. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina que 5% a 15% da totalidade dos empregados lotados nas funções que demandam formação profissional sejam aprendizes. Por meio de ações de fiscalização feitas entre janeiro de 2008 e agosto de 2012, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) inseriu 416,9 mil aprendizes no mercado de trabalho. Somente nos oito meses deste ano, já foram formalizadas as contratações de 86,5 mil pessoas.