Jornal Correio Braziliense

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Eles fazem a diferença

No Dia do Professor, conheça histórias de docentes de ensino fundamental, médio e superior que buscam inovar nas salas de aula

Nesta quarta-feira (15), é comemorado o Dia do Professor. No Brasil, há 2,1 milhões de docentes no ensino básico e mais 367 mil no ensino superior, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em homenagem a esses profissionais que se dedicam a formar o futuro do país, o Correio entrevistou alguns professores que vão além das anotações no quadro e do dever de casa.

, que já rompeu os muros da escola e chega a locais como o Museu Nacional da República. Com performances, vídeos, sarau poético e exposição fotográfica, entre outras atividades, o projeto realiza mostras anuais desde 2009. Formada em artes cênicas pela faculdade Dulcina de Moraes, a carioca, que se mudou para Brasília ainda na infância, é professora há 17 anos. "Meu pai era assistente social e minha mãe, professora. Chegamos a morar durante um tempo na Granja das Oliveiras (à época, um centro para jovens abandonados). Minha mãe sempre trabalhou buscando fazer a diferença na educação e procurava ensinar coisas que as crianças levassem para fora da escola. Isso é algo que me motiva, sempre me motivou", conta a tia Cynthia, como é chamada por seus alunos de 2; e 3; ano do ensino médio.

Em suas aulas, ela não anota coisas no quadro nem passa muito tempo sentada. Porém, se engana quem pensa que é tudo diversão. "Falando assim, vão pensar que sou um docinho! Mas eu não gosto que os alunos se atrasem, isso eu levo bastante a sério", diz. Os alunos são convidados a refletir sobre arte em diferentes aspectos e também a construir suas próprias obras de arte. "Eles têm muito a dizer. As obras têm os mais variados temas, abordam adolescência, família, amor", conta. "No meu caso, as aulas da tia Cynthia influenciaram o que eu escolhi para fazer na faculdade", conta Fernanda Gomes, ex-aluna que hoje cursa o 1; semestre de teoria crítica e história da arte na Universidade de Brasília (UnB). A jovem chega à faculdade com dois filmes no currículo, produzidos junto a colegas do projeto. O carinho é tanto que Fernanda e mais 13 ex-alunos compõem uma equipe de produção que auxilia a professora a tocar o projeto. Muitos deles fazem cursos superiores ligados às artes.

"Eu sempre soube que queria ser professora de música, mas a influência da professora veio no sentido de me abrir mais possibilidades. O aprendizagem que tive aqui vai para a vida. Antes, eu tinha receio sobre como seria trabalhar em uma escola regular, eu considerava ir para escolas de música. A partir dessa experiência, eu me vejo trabalhando em uma escola de ensino regular", conta a ex-aluna Juliana Maria da Cunha, 19 anos. Ela cursa o 4; semestre de licenciatura em música na UnB e atualmente participa de um Programa de Iniciação à Docência (Pibid) com a professora Cynthia, no Cemso. A professora fala apaixonadamente sobre os trabalhos de seus alunos. Num armário, guarda alguns antigos, de mais de dez anos. Se emociona ao assistir os filmes 100% produzidos por alunos.

"O projeto permite que os alunos expressem suas habilidades individuais. Eles utilizam a capacidade verbal, corporal e argumentativa. Isso vai contra a massificação que nós vemos no ensino médio que só prepara o aluno para fazer provas. Muitas vezes me surpreendi ao assistir apresentações de alunos", conta Johnny Viana, professor de geografia do colégio. "Algo que me empolga bastante sobre esse projeto é a possibilidade de trabalho coletivo. Ninguém vive sozinho", completa o professor de sociologia Glauco Silva. Os alunos concordam. "Ela entrega muito amor e motiva a gente a fazer o que queremos fazer. Esse é um projeto incrível", diz Isabelle Viana, 17 anos, ex-aluna que hoje estuda publicidade.



Em mais de 30 anos de carreira, o professor Ricardo Gauche lecionou no ensino básico e no superior, em instituições públicas e privadas. Quem vê hoje o coordenador de Integração de Licenciaturas do Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB), talvez não imagine que, em 1978, ao fazer o vestibular, o professor tenha marcado geologia como primeira opção de curso.

[SAIBAMAIS]"No terceiro ano, apaixonado por química, decidi por mudar de curso. Fui para o bacharelado. Um colega me apresentou a licenciatura e me ajudou encontrar minha realização profissional e pessoal no exercício da docência. Ao concluir o bacharelado, fiz questão de concluir a licenciatura em química também! Para mim, desde sempre, fazer o que se ama para sempre amar o que se faz, é vital, essencial, imprescindível", diz o professor, que dá aulas na graduação e na pós, além de coordenar o Programa de Inciação à Docência (Pibid) da UnB ao lado de outros colegas. O programa conta hoje com 90 mil bolsistas e 20 subprojetos. "Devo muito à UnB, como ex-aluno e também como docente, o que muito me honra, especialmente pelos alunos que tive e tenho e pelos colegas de trabalho, em todos os níveis", diz.

Para a mestranda em ensino da ciência Mayara Soares de Melo, 25 anos, o professor teve especial importância durante sua graduação. "Fiquei grávida durante o período de licenciatura e, na época, ele era coordenador do curso. Ele fez de tudo para que eu resolvesse as coisas sem me deslocar. Também me lembro que, durante as aulas, ele discutia muito as questões políticas e sociais que envolvem o ensino", relembra. "Os professores que temos aqui na licenciatura em química, incluído o professor Gauche, são referência no país. Sinto muito orgulho de ter me formado aqui", diz Ângelo Pereira de Carvalho, 24 anos.