No Instituto Federal Brasília (IFB), a greve ainda não foi aprovada e as aulas continuam normais. No entanto, a ameaça de paralisação começa a mexer com a cabeça de alunos, servidores e educadores. Se a paralisação ocorrer, vai afetar a vida de 4,8 mil alunos de 40 cursos em oito câmpus diferentes. O Instituto Federal Brasília tem um total 557 servidores, dos quais 284 são professores. Somam-se a esse total outros 90 docentes admitidos hoje.
Ontem (18/6), foram realizadas assembleias em Planaltina e Brasília. No primeiro câmpus, professores contra e a favor da paralisação ficaram empatados. Em Planaltina, os presentes decidiram fazer um debate amanhã (20/6) pela manhã e uma nova assembleia na sexta-feira (22/6). Hoje pela manhã, na assembleia do câmpus Samambaia, foram 20 votos favoráveis e 13 contrários. A assembleia no câmpus Riacho Fundo acontece nesta tarde. Nas outras unidades (Gama, Taguatinga, Taguatinga Centro e São Sebastião), as assembleias irão ocorrer até o fim da semana.
Segundo Francisco Póvoa, assessor do gabinete da reitoria, a instituição vai aguardar as decisões dos câmpus e a manifestação da seção sindical para tomar uma decisão final. ;Se o número de câmpus a favor da greve for maior, há greve. Apesar disso, ele ressalta que não existe obrigatoriedade de adesão. ;Na greve do ano passado, por exemplo, as duas unidades de Taguatinga continuaram a ter aulas normalmente e a paralisação em algumas outras foi apenas parcial;.
Os professores do Instituto Federal Brasília fazem parte do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). Eugenia Martins, secretária adjunta de comunicação do Sindicato, explica que professores e servidores técnico-administrativos estão entrando em greve juntos: ;É uma greve única, que pede reestruturação das duas carreiras, democratização em cargos de reitoria (para que qualquer um possa assumir), progressão salarial, carga horária de 30 horas para os técnico-administrativos, expansão com mais estrutura e outros pontos;.
As alunas Kátia Moraes e Daniela Graziani torcem
para que a greve não comece
Adson Batista, 32 anos, Kátia Moraes e Daniela Graziani, 23 anos, fazem curso técnico de eventos e se posicionam contra a greve dos professores. Adson conta que a greve do ano passado já atrapalhou muito: ;O início das aulas que ia ser em fevereiro foi em março. E o pior é que a greve não adiantou nada, foi em vão;. Adson também se queixa das chances que a suspensão das aulas podem lhe tirar. ;Estou esperando meu diploma para trabalhar. Quanto mais eu demorar para me formar, mais as portas do mercado vão demorar a se abrir pra mim;, diz. ;Nosso curso é de três semestres e vamos nos formar em dezembro. Caso entre em greve, vai nos prejudicar muito e atrasar nossa formação, nossos planos futuros;, reclama Kátia. Daniela compartilha a opinião de Kátia, mas admite que a causa dos professores é justa: ;A luta deles é justa, eles precisam de melhores condições, mas do ponto de vista do aluno, a greve é muito ruim;.
Conceição Maroni e Miriam Matos são professores do ensino público
e alunas do IFB: "entendemos e apoiamos os pedidos da greve"
Conceição Maroni, 45 anos, e Miriam Matos, 47 anos, alunas da 2; licenciatura em dança no IFB, se declaram incondicionalmente a favor da paralisação dos professores. As duas são professores de ensino fundamental e médio da Secretaria de Educação do Distrito Federal, respectivamente, de geografia e artes cênicas. ;Como professores da rede pública, estamos saindo de uma greve de mais de 50 dias e compreendemos as causas dos professores. É um direito deles que apoiamos;, defende Conceição.
Miriam acrescenta: ;A gente sabe que as condições da educação são ruins no Brasil. Se o governo valorizasse os profissionais do ensino, as greves não seriam necessárias;. As duas esclarecem que os professores delas não devem aderir à paralisação porque são bolsistas da Capes. Miriam também explica que, ao contrário do que muitos pensam, a greve não pede apenas melhores salários, mas também melhores condições de trabalho.
Ailton Bispo, 31 anos, é professor de gestão e comenta o que falta na estrutura do Instituto: ;A estrutura é bonita, mas aqui estamos sem telefone, falta pessoal, no Gama as aulas acontecem em escolas, além de outros problemas;. Ele defende que deve haver expansão nos institutos federais, mas isso deve acontecer com planejamento e boa estrutura. Ele conta que, após a greve de 2011, os professores ganharam 4% de aumento, mas, em contrapartida, houve redução de algumas gratificações. ;No fim, o valor ganho foi muito pequeno. Esse é o momento certo de nos posicionarmos. O governo garantiu que ia ter avanços, mas não fez propostas. Agora, a pressão vai ser muito maior com a greve nas universidades federais;, explica.
Gustavo Aguiar, 27 anos, é um dos professores que tomaram posse hoje. Aprovado em concurso público, ele vai ser professor de música no IFB. ; Estou muito animado com a posse, mas não sei o que vai acontecer com relação a greve. Se os outros professores entrarem, talvez eu tenha que entrar também;. Leurides Conceição da Silva, 43 anos, é funcionária terceirizada da área da limpeza no instituto e critica a greve docente: ;Acho muito ruim quando fica de greve, mesmo que eles tenham causas justas. Na greve do ano passado, muito aluno desistiu do curso. Prejudica muito os estudantes;.
Confira os institutos federais com atividades paralisadas de acordo com o Sinasefe:
Ceará (IFCE)
Santa Catarina (IFSC)
Alagoas (IFAL)
Baiano (IF Baiano)
Bahia (I FBA)
Goiano (IF Goiano)
Paraíba (IFPB)
Mato Grosso (IFMT)
Pará (IFPA)
Pernambuco (IFPE)
Piauí (IFPI)
Rio de Janeiro (IFRJ)
Fluminense (IFF)
Rio Grande do Norte (IFRN)
Rio Grande do Sul (IFRS)
Rondônia (IFRO)
São Paulo (IFSP)
Sergipe (IFSE)
Minas Gerais (IFMG)
Tocantins (IFTO)