"Gosto é de gíria. Mas reconheço que existem palavrões lindos."
Aracy de Almeida
Sambódramo, bumbódromo & cia. exibida
O Rio tem sambódromo. Brasília, beijódromo. Parintins, bumbódromo. O que há de comum entre eles? É a greguinha dromo. Na língua de Platão e Aristóteles, ela quer dizer lugar de corrida. No hipódromo, por exemplo, os cavalos disputam corridas. Nos kartódromos, os karts. Nos autódromos, os carros.
Formações recentes poupam rodas e pernas. Modernas, não estão nem aí pra demonstrações de velocidade. É o caso de fumódromo. O louquinho por cigarro se aperta no chiqueirinho e aspira a nicotina de todas as horas. É o caso, também, dos maridódromos. Homens impacientes se recolhem a salas com tevê, jornais e revistas. O resultado é bom pra todos: eles ignoram a gastança. Elas deitam e rolam com o cartão de crédito. Os comerciantes vendem.
Desfile
O lugar destinado ao desfile das escolas carnavalescas deveria se chamar passarela do samba. Darcy Ribeiro não gostou de nome tão pomposo. Propôs sambódromo. Pegou. E criou moda. Parintins inaugurou o bumbódromo. Ops! Erra quem pensa que o palavrão tem algo com bumbum. Não tem. Ele tem a ver com o bumba meu boi. É o lugar onde Garantido e Caprichoso se exibem, emocionam e espantam pela grandiosidade.
Sua Excelência o boi
Azul de um lado. Vermelho de outro. Os dois grupos se apresentam três dias com três espetáculos diferentes. Alegorias, fantasias, músicas se renovam. É como se Mangueira, Salgueiro ou Beija-Flor desfilassem três dias seguidos sem aproveitar nada de um show para outro. Vale a curiosidade. As escolas de samba têm barracões. Lá, os carnavalescos preparam o desfile da avenida. Parintins tem currais. Ali, a turma do Garantido e a do Caprichoso se produz para o festival. Na escrita, impõe-se um cuidado. Curral joga no time de carnaval e animal. Termina com l.
Coisa de índio
A presença da tradição indígena é quesito que garante pontos para os concorrentes. Pajés, índios, alegorias e música com batida característica das tribos que povoaram o Brasil fazem a festa colorida e movimentada. Às vezes, aparece a peteca. Por quê? O brinquedinho é herança dos peles-vermelhas. O nome também. No tupi, a dissílaba queria dizer bater. Apesar dos séculos, o esporte se mantém vivo. Belo Horizonte é a capital mundial da peteca. Viva!
Desafio
Pode? Não poderia. Mas pode. Folheto distribuído pelo Centro Cultural Amazonino Mendes (Bumbódromo) entrega a gregos e troianos este texto: "O Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secreataria de Estado de Cultura, considerando a política de popularização das ações culturais, a vocação parintinense para as artes, os municípios vizinhos do baixo Amazonas como: Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués e Nhamundá, os investimentos realizados na modernização e ampliação das estruturas do Centro Cultural Amazonino Mendes e a necessidade de manter a integridade desse patrimônio e resguardar os equipamentos e acessórios instalados, transforma esse centro em espaço multiuso, destinado primeiramente ao ensino das artes e à formação de técnicos para apoio as atividades artísticas e à capacitação tecnológica de jovens e adultoscom intensa atuação do Cetam e da Secretaria de Cultura".
Ufa!
O texto tem 745 toques. E só um ponto. Testes sobre a legibilidade e a memória demonstram dois fatos. Um: o leitor retém integralmente períodos com a média de 150 toques. Com 200, guarda a primeira parte e perde a segunda. Com 250 ou mais, grande parte do enunciado se perde. Conclusão: o governo amazonense jogou dinheiro fora.
Sugestão
A Secretaria de Cultura do Amazonas transforma o Centro Cultural Amazonino Mendes em espaço multiuso. Trata-se de passo importante do governo do estado na direção da política de popularização das ações culturais. Com ele, cria-se espaço para o ensino das artes e a formação de técnicos aptos a apoiar as atividades artísticas e a capacitação tecnológica de jovens e adultos.
Justificam-se, assim, os investimentos na modernização e ampliação das estruturas do centro. Graças a eles, mantém-se a integridade do patrimônio e resguardam-se os equipamentos instalados. Não só. Premia-se a vocação parintinense para as artes e a atenção dispensada às necessidades de expressão dos municípios vizinhos do baixo Amazonas. Entre eles, Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués e Nhamundá.
Leitor pergunta
Bumba-boi tem hífen?
Graça Arruda, Rio
Bumba-boi é outro nome de bumba meu boi. Um se grafa com tracinho. O outro fica livre e solto. Quem entende? Nem o pajé.