A presidente escolheu a data a dedo. Foi às vésperas do Dia da Pátria. Em cadeia de rádio e televisão, Dilma Rousseff falou aos brasileiros. Otimista, deu boa notícia. O preço da energia vai baixar. Oba! Antes tarde do que nunca. O brasileiro paga a terceira conta de luz mais cara do mundo.
Telespectadores ouviram as palavras com atenção. Focaram dois pontos. Um: o recado. O outro: o jeito de dar o recado. Genésio Barreto foi um deles. Lápis e bloco na mão, anotou palavras e frases suspeitas. Umas, por considerá-las gramaticalmente incorretas. Outras, redundantes e desnecessárias.
Vocativo
;Meus amigos e minhas amigas;, disse Dilma envolta em sorrisos. Genésio pergunta: precisa do feminino e masculino? Não basta ;meus amigos; ou apenas ;amigos;?
Bastaria. Amigos engloba homens e mulheres. Assim como filhos abarca meninos e meninas; funcionários, trabalhadores e trabalhadoras; alunos, garotos e garotas. Simples, completo e conciso, não?
Mas pintaram novidades no cenário. O movimento feminista bateu pé e exigiu a marca do feminino. Que história era aquela de esconder a mulher? Os políticos, loucos por votos, disseram amém. Daí surgiram os tais brasileiros e brasileiras, trabalhadores e trabalhadoras, amigos e amigas, todos e todas. E por aí vai.
Redundância
;Política social copiada por vários países do mundo;, gabou-se Sua Excelência. ;Uiiiiiiiiiiiiiii, que dor!”, gemeu Genésio. Depois, recuperado do susto, quis saber: ;Há países que não são do mundo?;
Países do mundo joga no time do subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora, elo de ligação, panorama geral. Todos os países são do mundo, só se sobre pra cima, só se desce pra baixo, só se entra pra dentro, só se sai pra fora, todo elo é de ligação, todo panorama é geral.
Bastava a presidente dizer ;copiada por vários países;. E pra nós é pra de suficiente dizer subir, descer, entrar, sair, elo, panorama. Os penduricalhos sobram. Xô!
Só pode
;Estamos conseguindo boas perspectivas para o futuro;, orgulhou-se Dilma. A afirmação deu nó nos miolos dos telespectadores. Eles não conseguiam entender o porquê do ;para o futuro;. Ter perspectivas para o passado? Não dá. Perspectiva só pode ser para o futuro. Conclusão: ;para o futuro; sobra. Adeus!
Quase iguais
Não só o discurso da presidente suscita dúvidas. O dia a dia também põe pulgas e pulgas atrás das orelhas. É o caso da diferença entre embaixo e debaixo. Qual é?
Guarde isto: a duplinha tem um ponto comum ; indica posição inferior (O sapato está embaixo da cadeira. Guardou o dinheiro debaixo do tapete.) E a diferença? Debaixo dá ideia de proteção: Ficou debaixo da árvore para fugir do sol.
A gente perde pontos se trocar um pelo outro? Não. Mas perde a oportunidade de ser mais preciso.
Olho no nome
Pedi emprestado a blusa? Pedi emprestada a blusa? Muitos confundem a concordância. É o seu caso? Fique esperto. Emprestado concorda com o nome que expressa a coisa emprestada: Pedi emprestada a blusa. Pedi emprestadas as blusas. Pediu emprestado o livro ao amigo. Pediu emprestados os livros ao amigo. Vou pedir mil reais emprestados ao banco.
Vamos combinar? Mantenha o crédito. Devolva as coisas que você pedir emprestadas.
Leitor pergunta
Independente ou independentemente? Já li explicações sobre o emprego de uma e outra. Mas a dúvida não se foi. Pode me ajudar?
Clemente Dias, Tubarão
Acredite. A confusão só ocorre com o advérbio independentemente. Talvez por ser muito comprido. As pessoas, então, preferem o adjetivo independente. Bobeiam:
Independe quer dizer livre: O Brasil ficou independente em 1822. A criança é independente. Vira-se sozinha.
Independentemente significa sem levar em conta: Ganha o mesmo salário independentemente das horas trabalhadas.
Entendido? Independentemente do tamanho, use o advérbio sempre que pensar em ;sem levar em conta;. O resultado é um só. Acertar. Com o acerto, bons pontinhos na prova e na vida. Vá em frente.