Em seu Twitter, o cientista comemorou o feito: ;Ontem, dia 28/04/2014, os primeiros três pacientes do Projeto Andar de Novo realizaram as suas caminhadas inaugurais usando o BRA-Santos Dumont 1;, informou. No Facebook, ele postou outra mensagem: ;Três pioneiros brasileiros emocionaram a todos nós com a sua coragem e determinação;, disse. O inventor e aviador brasileiro dá nome a uma veste, o exoesqueleto, de 1,8m e 70kg. Usando essa roupa futurista, os participantes conseguem movimentá-la a partir da atividade cerebral. Os sensores instalados no Santos Dumont ;leem a mente; do paciente e obedecem a ordens como levantar e abaixar as pernas ou chutar uma bola.
Em entrevista ao site Portal da Copa, do governo federal, o cientista explicou que o peso da veste não é relevante porque ele não será sentido pelos usuários. ;A máquina vai ser responsável pelo equilíbrio do paciente e por controlar o peso do exoesqueleto, enquanto o paciente determina o início dos movimentos, o término e, obviamente, o chute. Os sensores vão ficar na planta do pé e vão entregar esses sinais no braço da pessoa, que vai imaginar as pernas andando, se locomovendo e pisando no chão por meio desse feedback que recebe nos braços;, contou.
Desenvolvido em uma parceria entre a universidade americana de Duke, onde Nicolelis é pesquisador, e o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, o Andar de Novo também conta com a colaboração de cientistas da Alemanha, da Suíça e da França. No Brasil, a Agência Brasileira da Inovação (Finep) investiu R$ 33 milhões. Ao todo, oito paraplégicos foram selecionados na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), de São Paulo, onde foi montado um laboratório de neurorobótica exclusivamente para a iniciativa. Todos os pacientes já experimentaram a sensação de ficar em pé com o exoesqueleto. Na abertura da Copa, um deles deverá se levantar da cadeira de rodas e caminhar 25m na Arena Corinthians até uma bola para dar início ao evento.
Extensão do corpo
O pontapé inicial do Mundial, contudo, não vai encerrar o projeto. Na realidade, é apenas o começo. Segundo Nicolelis, o trabalho será mantido após o mundial, até que se chegue a uma veste que permita a qualquer pessoa com lesão da medula espinal, inclusive tetraplégicos, se movimentar dentro dela. ;Um certo dia, quando o paciente entrar no laboratório, vai falar: ;Parece que é o meu corpo;. Vai ser como um estalo, porque o cérebro vai ter feito essa transição;, planeja o cientista. Ele explica que é preciso tempo para que ferramentas complexas como o exoesqueleto sejam incorporadas pelo cérebro como uma extensão do corpo. Por isso, os pacientes precisam se familiarizar aos poucos com a roupa futurista.
Embora muito feliz com os resultados obtidos até agora, Miguel Nicolelis lembra que há uma série de obstáculos que precisam ser vencidos na demonstração da abertura da Copa. O paciente estará ao ar livre, observado por 70 mil pessoas, filmado por redes do mundo todo e fotografado por milhares de celulares. O participante usará um modelo de exoesqueleto que inclui sensores acoplados de forma não invasiva ao couro cabeludo. Eles capturam ondas cerebrais globais e os sinais são transmitidos para o exoesqueleto, para controlar os diferentes movimentos gerados por ele. No futuro, microchips poderão ser implantados no cérebro para fazer essa leitura.
Ao Portal da Copa, Nicolelis demostrou satisfação com o andamento do projeto. ;Os resultados estão muito acima do esperado. Não tínhamos a perspectiva de estar tão adiantados no ponto de vista clínico e ter resultados tão interessantes do ponto de vista neurocientífico da maneira que a gente teve nos últimos meses;, disse. O coordenador do projeto contou que ficou muito comovido com os passos dos paraplégicos. ;É uma sensação única. Nenhum deles, antes do projeto, imaginou que teria essa oportunidade de novo na vida. Todos os pacientes já entraram no exoesqueleto, testaram e se sentiram fascinados. É uma máquina que não só é inovadora, como bonita, elegante. Eles disseram, inclusive, que querem a máquina assim mesmo, sem a cobertura que a gente imaginou inicialmente, porque eles acham mais emocionante ver toda a tecnologia envolvida;, revelou.