Milhares de habitantes das áreas costeiras de todo o Chile foram removidos às pressas para regiões mais altas e afastadas do mar. As comunicações telefônicas foram afetadas e algumas estradas, bloqueadas por deslizamentos de terra. Os aeroportos de Iquique e de Arica, 310km ao norte, foram fechados após sofrerem danos. Pelo menos 10 fortes réplicas ; maiores de 5,2 graus ; sacudiram a área de Iquique nas primeiras duas horas após o terremoto. Na costa do Peru, uma onda de cerca de 1m atingiu o litoral de Tacna, na fronteira com o Chile. Em Arequipa e em Moquegua, o abalo interrompeu o fornecimento de energia e de comunicações. Por meio do microblog Twitter, o presidente do Equador, Rafael Correa, alertou à população do país sobre o perigo. ;Forte terremoto no mar do Chile. (;) Todo nosso perfil costeiro deve estar atento e preparado.;
;Eu estava em casa e se produziram pequenas rachaduras nas paredes. Nós sentimos o terremoto de imediato, foi muito forte e durou cerca de dois minutos;, relatou ao Correio o estudante de gastronomia Jordy Bryan Gómez Quintana, 24 anos, morador de Iquique. Em Antofagasta, 410km ao sul de Iquique, as autoridades emitiram alertas de tsunami menos de cinco minutos depois do tremor. ;Uma grande porcentagem de celulares recebeu mensagens de texto com a frase ;Alerta de tsunami; e também se ativaram alarmes sonoros em muitos deles. Tivemos umas 80 mil pessoas removidas para áreas mais altas;, contou ao Correio o comerciante Prexedes Saavedra Muñoz, 35 anos. ;Eu estava trabalhando em um centro comercial e senti o tremor de modo muito suave;, acrescentou.
Na mesma cidade, Rafael Ignacio Araya Gallardo, 26 anos, explicou que a retirada foi lenta e causou congestionamento. ;Estamos esperando o que as autoridades nos digam para fazer. No momento, todos aguardamos em morros próximos à cidade;, comentou. Em Arica, as lâmpadas dos postes nas ruas explodiram e muitos saíram correndo aterrorizados, segundo a agência France-Presse.
A 2 mil quilômetros ao sul de Iquique, a população da cidade de Concepción ; atingida por um terremoto de 8,8 graus em 27 de fevereiro de 2010 e por um tsunami ; voltou a experimentar o medo. Em entrevista ao Correio, o padre José Ignacio Busta, 36 anos, contou que os moradores nada sentiram, mas estiveram sob alerta para a chegada de grandes ondas. ;Por aqui, há uma tensa calma. As pessoas estão saindo das áreas costeiras, mas de maneira ordenada. No restante do Chile, também há retirada em massa da população do litoral. Os moradores se movem até morros próximos a uma distância segura do mar;, afirmou Busta.
Memória
Na madrugada de 27 de fevereiro de 2010, às 3h34, um terremoto de magnitude 8,8 na escala Richter aconteceu perto de Maule, cidade litorânea do Chile a 317km de Santiago. O forte tremor, cujo epicentro estava a 35km de profundidade, durou apenas 1 minuto, mas causou grande estrago com uma potência equivalente a 27 mil bombas atômicas.
O número de mortos e desaparecidos ultrapassou 700. Nos dias seguintes, equipes de socorro buscavam por sobreviventes sob os escombros de prédios, especialmente na cidade de Concepción, onde a queda de um só edifício deixou mais de 100 soterrados ; vários foram resgatados com vida. Mais de 2 milhões de pessoas ficaram desabrigadas, e os prejuízos foram calculados em cerca de US$ 30 bilhões.
O tremor também foi sentido em outros países, incluindo o Brasil ; em São Paulo, o balançar de alguns prédios provocou cerca de 200 telefonemas para o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Na Argentina, afetada de forma mais intensa, foram registradas cinco mortes. O abalo provocou um tsunami de 6m que chegou até o Havaí, sem grandes estragos na ilha.
O abalo mais violento da história do Chile ocorreu em 1960 em Valdivia, no sul do país, com magnitude 9,5. O tsunami gerado chegou a 10m de altura. Aproximadamente 1.600 pessoas morreram.