Em São Paulo, manifestantes se reuniram na sede do DOI-Codi, centro de torturas da época da ditadura, com fotos de presos políticos e de desaparecidos |
Atos contrários ao golpe de 1964 e favoráveis à revisão da Lei da Anistia marcaram o dia de ontem. Em Brasília, a Subcomissão da Verdade do Senado vai apoiar a campanha da Anistia Internacional pela revisão da lei que, em 1979, anistiou políticos e militantes de esquerda, além de militares apontados como torturadores. No colegiado, é discutida proposta que torna sem efeito a referida norma em casos de crimes cometidos pelos agentes da repressão.
;A nossa subcomissão terá total engajamento na campanha organizada pela Anistia Internacional, ;50 dias contra a impunidade;, que se iniciará amanhã (hoje) e colherá milhares de assinaturas on-line, pedindo a revisão da Lei da Anistia;, anunciou o presidente do grupo, senador João Capiberibe (PSB-AP). ;É uma campanha da cidadania. A vida nacional não pode viver dessa chaga indelével de 1979, de uma lei que foi aprovada no ventre de um regime autoritário;, disse o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), autor da proposta.
Waldir Pires, ex-deputado e ministro do governo João Goulart, e o jornalista e exilado político José Maria Rabelo participaram da sessão. Rabelo cobrou a mudança do nome do Estádio Punaro Bley, em Vitória (ES). Bley foi o general que comandou a destruição da redação do jornal Binômio, chefiado por Rabelo, na época. ;Duzentos soldados, tenentes e coronéis da Aeronáutica e do Exército cercaram o jornal, subiram e destruíram tudo;, relembra o jornalista.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também manifestou repúdio ao golpe. O ato público ;Para não repetir; reuniu advogados que atuaram na defesa de perseguidos políticos. Diante de um auditório lotado, o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, discursaram, mas quem roubou a cena foi o ex-militante das Ligas Camponesas Joel Câmara, que surpreendeu ao defender a ascensão dos militares ao poder. Segundo ele, não houve golpe, mas uma revolução. Câmara foi vaiado pela plateia. Diante da saia-justa, Coêlho mencionou que a OAB é uma casa democrática.
Outros atos
Em São Paulo, o ato que marcou os 50 anos do golpe ocorreu no pátio do prédio que sediou o Destacamento de Operações de Informações ; Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), principal centro de torturas da capital paulista. Manifestantes exibiram fotos de presos e desaparecidos políticos e encenaram um interrogatório nos moldes dos que ocorriam no calabouço do DOI-Codi. Mesmo sem a parte da tortura, a manifestação emocionou os quem participou do ato.
No Rio de Janeiro, cerca de 80 militares da reserva se reuniram para celebrar os 50 anos do que ainda chamam de ;revolução;. Receosos quanto à presença de manifestantes contrários ao golpe, o evento foi marcado para o Clube da Aeronáutica, na Barra da Tijuca, bem longe do centro da cidade. Também estiveram presentes integrantes dos clubes Naval e Militar, que costumam reunir reservistas. O encontro teve falas de repúdio ao trabalho das comissões da verdade e à cobertura da imprensa, com inúmeras reportagens especiais, sobre os 50 anos do golpe de 1964.
Colaborou Étore Medeiros