"Engolimos a quebra da legalidade muito indignados. Nada podíamos fazer porque os militares já haviam ocupado todos os espaços" Pedro Gordilho, 75 anos, ex-ministro do TSE, que era advogado na época do golpe |
Aos 22 anos, recém-formado, o advogado Pedro Gordilho decidiu deixar Salvador para tentar a vida em Brasília. Passou a trabalhar na cidade e, em 1963, a atuar como procurador do Estado da Bahia na capital. ;Eu morava em uma república com outros jovens sonhadores como eu, todos a favor da legalidade;, conta. No dia do golpe, ao saber do pior, Gordilho fez contato com Waldir Pires, seu amigo, para saber o que poderia fazer. ;A informação que eu recebi foi que, na Rádio Nacional, estavam sendo distribuídos armamentos para quem queria defender o regime. Imediatamente, fui até lá. Quando cheguei ao prédio, não havia mais armas. Ficamos muito ansiosos para saber se, de fato, o presidente iria resistir;, explica.
Em 1; de abril, Darcy Ribeiro e Waldir Pires ; chefe do Gabinete Civil e consultor-geral da República, respectivamente ; receberam ordens de Jango para que permanecessem em Brasília e informassem ao Congresso que o presidente estava no Rio Grande do Sul a fim de organizar a resistência. Mas, com o avanço dos militares, ficou claro que seria impossível lutar. ;O presidente nunca foi comunista, ele era um pensador livre, que queria mudanças, desejava um mundo mais justo. O golpe de 1964 foi baseado em uma grande falácia;, destaca o ex-ministro do TSE, hoje com 75 anos.
Tristeza
Gordilho lembra com tristeza o sentimento que se abateu sobre ele e os colegas. ;Engolimos a quebra da legalidade muito indignados. Nada podíamos fazer porque os militares já haviam ocupado todos os espaços;, afirma o advogado, hoje com 75 anos. Quando as tropas de Minas Gerais chegaram à capital, foram abrigadas no Teatro Nacional, para onde Gordilho se dirigiu a fim de confirmar a informação. ;Os caminhões militares cercaram o prédio. As salas nem sequer tinham cadeiras, havia apenas uma espécie de arquibancada de concreto, onde as pessoas foram instaladas de forma precária, sem sanitário.Que lástima aconteceu com o nosso país;, conta.
Durante os anos mais duros do regime, acompanhou de Brasília as arbitrariedades cometidas pelos generais, sem nunca, porém, deixar de sonhar com a volta da democracia. De 1978 a 1982, com o início da abertura, integrou o TSE, sendo relator de inúmeros processos que conseguiram, aos poucos, devolver a democracia ao Brasil.
Mudanças
Entre as memórias de Pedro Gordilho sobre o período em que ocupou o cargo de ministro no Tribunal Superior Eleitoral, duas têm destaque especial: a disputa entre Leonel Brizola e Ivete Vargas pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e a definição da cédula eleitoral em 1982. O Poder Executivo era contrário ao modelo aprovado pelo TSE, que incluía o nome dos partidos. ;Não podíamos conceber a falta da legenda ao lado do nome dos candidatos e reafirmamos isso por meio de uma resolução. A decisão acabou anulada por meio de um decreto;, lembra.