O evento foi assistido por um público de pesquisadores de universidades das cinco regiões do Brasil e de países como Canadá, Grécia, Bélgica, Alemanha, Bolívia, Venezuela e Peru. Segundo Fernando Oliveira Paulino, diretor administrativo da ALAIC e coordenador executivo da Comissão UnB.Futuro, ;esta é uma ação que se insere nas atividades de internacionalização, uma meta que está presente na agenda da universidade neste ano de 2014;.
Além do palestrante, estiveram presentes à mesa o reitor Ivan Camargo e os professores Jaime Santana, decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, Isaac Roitman, coordenador do n.Futuros, Fernando Oliveira Paulino, coordenador executivo da UnB.Futuro, Murilo César Ramos, diretor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UnB (PPG-Com) e Ricardo Neder, coordenador do Observatório do Movimento Pela Tecnologia Social na América Latina (OBMTS).
Ao apresentar o palestrante, Ricardo Neder salientou que Andrew Feenberg é um importante filósofo da tecnologia contemporânea que trabalha, principalmente, questões ligadas à democratização das relações técnicas. Nesse sentido, afirmou que ;o significado desta visita é dialogar com pesquisadores brasileiros que atuam nas mais diferentes áreas ; Comunicação e Tecnologia, Educação e Tecnologia, Política e Tecnologia e Gestão de Ciência e Tecnologia ;, e sobretudo com os professores universitários brasileiros, que têm tido uma grande participação nas chamadas Tecnociências;.
EDUCAÇÃO ONLINE
Feenberg iniciou sua exposição falando de aspectos que tornam controversa a educação online. Para isso, se remeteu ao passado, aos anos 60 e 70, num contexto onde havia diversas mudanças que favoreciam o desenvolvimento de novas tecnologias da informação e da comunicação aplicadas à educação. Atualmente, segundo ele, alguns fatores podem impedir o crescimento dessas ferramentas.
O primeiro deles seria o fato de que os investimentos corporativos nas universidades estão sendo substituídos pelo financiamento governamental, já que as empresas não possuem mais o mesmo ímpeto de aportar recursos. A desprofissionalização seria outro fator a se considerar, uma vez que, na visão do pesquisador, existem professores menos qualificados para a utilização dessas ferramentas. Além disso, os estudantes têm que pagar cada vez mais para estudar, e muitos deles nunca ganharão o suficiente para compensar esses gastos. Também citou o fato de que, apesar de estarem disponíveis diversas ferramentas tecnológicas, muitas vezes elas não são voltadas para a educação.
O palestrante contou que participou do projeto de criação do primeiro programa de educação online, o Executive ED. At Computer U., criado em 1992, numa época onde as ferramentas ainda eram muito limitadas e os debates e interações eram feitos basicamente por correio eletrônico. O curso era voltado apenas para altos executivos, uma vez que eram ferramentas caras. Segundo o pesquisador, hoje temos a possibilidade de gerar conhecimento de forma mais barata. Utilizou o exemplo da ferramenta MOOC ; sigla em inglês para Curso Online Aberto e Massivo. Esse recurso permite que o conhecimento seja difundido para uma grande quantidade de pessoas. Na visão de Feenberg, a iniciativa prometia ser uma grande revolução, mas não teve sucesso, já que não é utilizada com frequência pelos educadores.
MÁQUINAS X HOMENS
Andrew Feenberg mencionou um argumento utilizado pela tecnologia social que diz que as sociedades se tornam aquilo que as tecnologias fazem delas. Apesar disso, ressaltou que as tecnologias não têm o poder de impor nada à sociedade e tudo depende da maneira como a própria sociedade se utiliza desses mecanismos.
Na visão determinista, segundo ele, há uma perspectiva de que ;a escrita é melhor do que o diálogo;. Porém, para Feenberg, a desumanização das relações pela internet não é uma boa coisa para a educação online. Além disso, essa se tornou uma visão ultrapassada, já que atualmente a internet permite cada vez mais a interação e o contato entre as pessoas.
Segundo Feenberg, desde as mudanças advindas da revolução industrial, há uma noção de que as máquinas substituirão o homem na realização do trabalho, e essa perspectiva acaba se aplicando também à substituição dos professores por mecanismos de educação online e educação à distância. Mas, segundo ele, isso tudo depende da forma como a tecnologia é utilizada.
Para ele, existem dois modelos que competem nesse sentido: a Agenda da Automação e a Agenda da Comunicação. Primeira estaria pautada nessa ideia de substituição do professor por mecanismos tecnológicos e a segunda está voltada para uma perspectiva de utilização dessas ferramentas para um diálogo dos educadores com os alunos. Na visão do pesquisador, o principal problema de se pensar numa Agenda da Automação é que a internet não é boa o suficiente para provar para os estudantes que eles estão tendo uma educação melhor do que nas aulas tradicionais.
Nesse sentido, Feenberg afirmou que é importante que a educação a distância seja cada vez mais utilizada, uma vez que proporciona educação a diferentes públicos, inclusive a comunidades muitas vezes excluídas dentro da sociedade. Além disso, ao contrário do que acontecia no passado, hoje existem possibilidades de grande interação pessoal por meio da tecnologia. Citou como exemplo o caso de aulas mistas, onde professores utilizam diferentes ferramentas tecnológicas para complementar as aulas e atuam como mediadores dos debates entre os estudantes. Também falou sobre a ferramenta Moodle, que oferece espaços que possibilitam a interação entre os estudantes.
Ao ser questionado sobre a influência que a Economia pode ter sobre esse tipo de ferramenta, Feenberg afirmou que esse tipo de influência tem sido cada vez menor, uma vez que outros fatores relacionados ao desejo das pessoas em se comunicar possuem mais relevância.
Para Isaac Roitman, a presença do professor Feenberg foi muito relevante para os debates realizados no âmbito da Comissão UnB.Futuro, já que oferece um espaço de reflexão para se pensar os rumos da universidade e da educação como um todo. ;Foi extremamente importante ele colocar os desafios que nós temos pela frente neste mundo de transição frenética;.