Foram observados os comportamentos de 500 pessoas com idade entre 18 e 26 anos. A maioria tinha cachorros e gatos. Esse animais, segundo a psicóloga Cleuza Barbieri, são os mais indicados para esse fase da vida por serem dóceis, interagirem mais e manifestarem emoções. ;O vínculo que é estabelecido com os bichos por si só traz alegria e reverbera nas relações com outras pessoas;, complementa.
Mais aberto ao outro, o jovem tende, inclusive, a se envolver mais em trabalhos sociais. O estudante Luiz Alexandre Wendel, 19 anos, é escoteiro há mais de cinco anos e afirma que a relação com os cães o ajudou a dar importância ao serviço para a comunidade. No fim do ano passado, foi ao Rio Grande do Sul com escoteiros para construir praças em comunidades carentes.
Desde os 8 anos, Luiz cuida dos animais, da alimentação às brincadeiras no jardim. No momento, há três em casa. ;Nós pegamos a Fofa em uma feira de adoção. Tiramos o Bisonho de um canil e a Lindinha simplesmente seguiu meus pais até a porta de casa e a acolhemos; conta o jovem, que reconhece que os fiéis companheiros também o ajudam a amenizar a timidez.
A psicóloga Fabiana Cassimiro reforça que o contato com os animais de estimação é especialmente bom para pessoas tímidas: ;Elas tendem a expor seus sentimentos com os animais, pois sabem que, com eles, não serão julgadas nem criticadas;, explica. A ideia é compartilhada pela também psicóloga Cleuza Barbieri. Segundo ela, o contato constante com os bichinhos faz com que pessoas que têm dificuldade de se relacionar consigam lidar melhor com as próprias emoções, ;além de canalizar energias negativas do dia a dia em algo positivo;.
Em família
A presença de animais em casa também pode ser uma oportunidade de melhorar o convívio entre pais e filhos e fortalecer o compartilhamento de responsabilidades entre eles, segundo a psicóloga Graziela Mistura. ;Todos devem ser responsáveis pelo bicho de estimação, e é fundamental compartilhar as tarefas e definir os papéis de cada pessoa;, defende.
A funcionária pública Marlini Oliveira, 51 anos, confessa que fechou a cara com a chegada de Suzy há pouco mais de um ano. ;Ela pulou em cima da minha cama e mandei que a tirassem da minha casa;, lembra. O filho Paulo Malheiros, 24, decidiu desobedecer para o bem dele e para a alegria da mãe. ;Ele passou a ser muito mais comunicativo e a ficar mais alegre em casa;, conta Marlini, cujo conceito melhorou muito em relação a animais de estimação. Hoje, consegue fazer carinho em Suzy e levá-la para passear.
A cadela é tomada por Paulo quase como uma filha: ;Ela é uma criança eterna, sempre tenho que me preocupar. Já tive dois outros cachorros, mas nunca me apeguei tanto;, conta. O jovem diz que os cuidados que tem com Suzy se refletem no convívio com as outras pessoas. ;Ajudam-me a ser mais responsável e a me preocupar mais (com o outro);, justifica. Além de Paulo, os pais e o irmão dele e os funcionários da casa se revezam nos cuidados com a cachorrinha.
Horas vagas
Marcada pelo excesso de cobranças, a juventude também pode ser um período em que o contato com animais pode render mais sofrimento que benefícios. Ter uma responsabilidade que a pessoa considera desnecessária ou que não conta com a ajuda dos pais pode desgastar e ser estressante, além de provocar o sentimento de revolta. ;Pode faltar tempo. Essa é uma fase em que o jovem está na faculdade, começa a trabalhar, a fazer a pós-graduação. Os que já namoram sério começam a pensar na possibilidade de novas conquistas amorosas, como o casamento;, relata a psicóloga Fabiana Cassimiro.
Para esses casos e outros que dificultam ter um bicho de estimação em casa ; como falta de espaço e de dinheiro ;, vai uma dica: o voluntariado. O envolvimento em projetos como feira de adoção e de combate aos maus-tratos ajuda tanto a pessoa quanto os lares de animais abandonados. De acordo com a psicóloga Graziela Mistura, se a pessoa estiver disposta e tiver tempo, o retorno emocional é muito grande e traz satisfação. ;Ainda se pratica o mesmo exercício de olhar para o outro na fase em que o foco está em si.;
Cuidados básicos
; Alimentação
Água fresca e limpa deve estar sempre acessível ao animal, que também precisa ser alimentado com ração em doses e horários certos. Exageros na alimentação podem resultar em problemas que comprometem a saúde dos bichos, como excesso de sal e gordura.
; Ambiente
É melhor que o bicho fique dentro de casa, mas, caso contrário, atente-se para que ele não consiga ir à rua sozinho e posicione a casinha em um local sombreado, limpo, longe de parasitas e de resto de fezes. Em apartamento, a tela serve para proteger o animal, mesmo que ele seja hábil.
; Identificação
Coloque nome e telefone para
contato na coleira ou na gaiola.
; Banho
Para cães, de 15 em 15 dias. Gatos precisam de banho com menos frequência, principalmente os de pelos menores. Animais que vivem em gaiola ou aquário devem ter o recipiente limpo, no mínimo, semanalmente.
; Veterinário
Mantenha as vacinas em dia, assim como remédios contra vermes e pulgas. Limpe as orelhas e apare as unhas do bicho de estimação. Qualquer anormalidade deve ser consultada com o profissional de confiança.
; Passeio
Independentemente de onde vivam, os cães precisam passear (não se esqueça da sacolinha de fezes). A necessidade de passeio de outros animais deve ser consultada com o veterinário.
Sem exageros
Apesar de ser muito bom ter um animal de estimação e se apegar a ele, a psicóloga Graziela Mistura reforça que é importante haver equilíbrio na relação. Caso o cuidado com o animal e o tempo gasto com ele comecem a atrapalhar os outros campos da vida, é melhor fazer um quadro com horários para que a relação permaneça saudável e positiva.
Frágil e proveitosa companhia
Filipe Marque toma cuidados especiais quando viaja e deixa os dois gatos sozinhos |
Também comum na juventude, a decisão de morar sozinho ganha ainda mais vantagens quando, com a mudança, vem um animal de estimação. Segundo a psicóloga Cleuza Barbieri, a nova companhia demanda cuidados ; alimentação, saúde, higiene ; que forçam o dono da casa a se comportar como tal.
O estudante Filipe Marque, 22 anos, mora sozinho desde os 20. Antes disso, teve hamster e esquilo, mas diz que os gatos Bichento e Róger têm muito mais personalidade e são carinhosos. ;Eu odiava gatos. As pessoas nem acreditam, mas, hoje, conheço tão bem os meus que eu sei qual dos dois foi (o responsável) quando aparece alguma coisa quebrada;, conta. Ele ganhou o primeiro, o Bichento, de uma amiga. Róger veio de uma feira de adoção.
Apesar de amar os bichanos, Filipe revela que existem duas principais dificuldades no cuidado com eles: dinheiro e viagens. ;Parte dos meus gastos é reservada a eles. Eu tenho que assumir caso eles quebrem alguma coisa ou fiquem doentes. Além disso, viajar é sempre um problema. Mesmo eles sendo independentes, não são tanto assim. Eu sempre preciso que alguém fique com eles ou venha diariamente trocar a água e colocar a comida;, conta.
Animais como os cachorros precisam muito de atenção e interação. Quando estão sozinhos por muito tempo, se sentem mal, ficam irritados e nervosos. A psicóloga Fabiana Cassimiro explica que pássaros, hamsters e gatos, por outro lado, até passam bem o dia sozinhos, mas somente se deixados com comida e água suficientes.