Aos 12 anos, ele conheceu o trabalho dos mestres Jorge Luiz do Nascimento, 46, e Ju Trajano, 55, e se encantou pela arte. Em 2001, eles chegaram ao bairro de Praga, conhecido pelo alto índice de criminalidade, uso de anfetaminas e de formação de gangues. Devastada pela Segunda Guerra Mundial, a região nunca chegou a ser completamente reconstruída. O casal pretendia desenvolver um projeto por três meses, mas ficou na Polônia por sete anos. ;A verba era para esse período, mas ampliamos o serviço social. Tínhamos como objetivo inicial difundir a capoeira, mas o resultado positivo que obtínhamos nos incentivava cada dia mais;, disse Jorge Luiz.
Era um grupo de 20 jovens. Nem todos conseguiram sair das ruas. Mas, se um mudasse as perspectivas que tinha ali, já era o suficiente para a iniciativa ser mantida. ;A gente é mais ajudado do que ajuda. Acompanhar a trajetória do Robert é saber que meu trabalho valeu a pena;, completou o mestre capoeirista. De morador de rua, Robert seguiu os passos dos mestres. Ele os acompanhou na visita em alguns países e decidiu eleger Brasília como nova casa. Foram sete anos de trabalho até o jovem deixar a cidade natal e adotar a capital brasileira como novo endereço.
Planos
Foi em Brasília que Robert conseguiu emprego, voltou a estudar e, agora, faz planos para se estabelecer. ;Havia parado os estudos aos 14 anos. A capoeira me deu força para voltar. Quero crescer profissionalmente, na área de informática, e utilizar a luta para trabalhar com outros jovens. Assim como fizeram um dia comigo;, diz. O primeiro sonho do rapaz quando chegou a terras tupiniquins era trabalhar e viver do esporte. No começo, deu aula para crianças, mas só o salário de professor não era suficiente para o sustento. Por isso, começou a investir no curso de informática, sem deixar de lado a capoeira.
Não vive mais dela, mas faz parte de uma série de trabalhos sociais. Só este ano, participou de atividades no Itapoã, em Ceilândia e no Paranoá, onde vive. Um dos legados mais importantes que deixará para a população do DF e visitantes é o livro publicado no fim do ano passado. Robert fez um catálogo com as informações dos grupos e mestres pioneiros da capoeira em Brasília. Intitulada Capoeira meu guia, a obra traz endereço, telefone e a história de 50 grupos. Foi um trabalho elaborado a partir de entrevistas e convívio com os capoeiristas. ;O projeto surgiu da ideia de uma amiga e eu consolidei. Espero que as informações possam contribuir para pesquisas na área e também para dar maior visibilidade ao trabalho dessas pessoas;, afirma Robert Krulikowski.
A partir da pesquisa realizada, conseguiu construir um ponto de vista da capoeira no DF. ;Cada grupo tem uma visão, apesar de praticarem a mesma luta. Dependendo da área, as percepções mudam;, conclui o capoeirista e estudante de informática. Em Ceilândia e no Paranoá, por exemplo, identificou que o esporte é utilizado como forma de transformação social. No Plano Piloto, a arte vira instrumento para os que gostam de malhar, movimentar o corpo. ;A capoeira em Brasília sempre foi muito forte. Nos anos 1980, 1990, mantinha ares de rivalidade. Agora, é utilizada como ferramenta de educação. Não se joga mais capoeira para machucar ninguém;, afirma.
Para saber mais
Esperança e inclusão
A capoeira começou a ser desenvolvida no Brasil em meados do século 16 por negros escravos trazidos da África pelos portugueses. Em condições de trabalho humilhantes, com castigos frequentes, a técnica se tornou um instrumento de combate e esperança de sobrevivência.
A luta consistia em movimentos que usavam os pés e a cabeça para aplicar os golpes. A utilização dessas partes do corpo dava vantagem aos capoeiristas em um confronto direto com os europeus, pois esses brigavam somente com as mãos. A prática chegou a ser proibida pelos senhores de engenho, mas os escravos mascararam a arte marcial ao incorporar a dança e o gingado. A invenção dos escravos sobreviveu ao tempo e às ameaças, foi difundida pelo país e perpetua até os dias atuais como esporte e ferramenta de inclusão social.