Jovens de Limeira (SP) criaram manta que absorve o necrochorume, produzido por cadáveres |
Brasília tornou-se o palco do empreendedorismo juvenil nacional. Desde ontem, estudantes do 2; ano do ensino médio dos 27 estados brasileiros estão na capital mostrando seus produtos inovadores. Eles concorrem ao Prêmio Miniempresa, promovido pela organização não governamental Junior Achievement e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Foram selecionadas 30 empresas e 150 alunos, de um total de 400 projetos cadastrados e 8 mil jovens envolvidos em todo o Brasil. São ideias diversas com foco na sustentabilidade, na qualidade e na possibilidade de o produto chegar ao mercado. As três melhores práticas receberão premiação em dinheiro ; R$ 5mil, R$ 3,5 mil e R$ 1,5 mil. Os vencedores serão anunciados amanhã.
Uma caminhada pelos estandes mostra a qualidade dos produtos desenvolvidos. Como o elaborado por adolescentes do município de Limeira, no interior de São Paulo. O grupo denominado Necrobag criou uma manta à base de plástico e tecido TNT para absorver o necrochorume de cadáveres. O material impede que o líquido ultrapasse o caixão e contamine o solo e o lençol freático. Com o tempo, a manta biodegradável se decompõe com o corpo. ;A gente só tem duas certezas: a vida e a morte. E o necrochorume virou um problema ambiental. Assim, nasceu o nosso produto;, conta Jorge Domingos, 16 anos. O grupo conseguiu produzir 37 unidades e cada uma é comercializada a R$ 46.
Os participantes da competição tiveram 15 semanas para idealizar o produto, fazer pesquisa de mercado, organizar a empresa em cargos (como recursos humanos, finanças, marketing e produção) e captar recursos. Eles contaram com a orientação de voluntários da Junior Achievement. Para conseguir dinheiro e executar o projeto, os estudantes venderam ;ações;. No caso do grupo paulista, a arrecadação foi de R$ 1.260, segundo cálculos da aluna Larissa Silvério, 16 anos.
Os estudantes do Distrito Federal que disputam o Prêmio Miniempresa retornaram aos investidores quatro vezes o valor empregado. Eles criaram a empresa Neo Cases, que vende capas de celulares feitas a partir de embalagens de papelão e retalhos. ;Tivemos 100 acionistas, cada um entrou com R$ 4. Conseguimos devolver R$ 16,50;, conta Guilherme Raposo, 17 anos. A mãe dele, Fernanda Raposo, 46, gostou da iniciativa. ;Faz falta essa formação em administração. Quando me formei em odontologia e abri o consultório, percebi que eu sabia trabalhar como dentista, mas não era só isso;, comenta.
Estudantes de comunidade indígena de Roraima desenvolveram produtos com fibra de bananeira |
Indígenas
Para a realização do Prêmio Miniempresa, foram investidos R$ 6 milhões, valor rateado pelo Sebrae e pela Junior Achievement. ;O Sebrae também apoia tecnicamente, fazendo o contato com as escolas e capacitando voluntários;, explica Mirela Malvestti, gerente de capacitação empresarial da entidade. Assim, o espírito empreendedor consegue chegar a todo o Brasil. A comunidade indígena Guariba, localizada em Roraima, no município de Amajari, está entre as finalistas. Os jovens desenvolveram uma fibra a partir do tronco da bananeira e criaram a empresa Arts Bananeira. Com esse material, é possível fazer capas de bloquinhos, bijuterias e revestir canetas, por exemplo. ;Percebemos que, quando a bananeira dava banana, ela não servia mais pra nada. Por isso, resolvemos aproveitar o tronco;, conta Alexandre Gustavo Tavares Milenas, 18 anos.
Experiência
Fundada em 1919 nos Estados Unidos, a Junior Achievement é a maior e mais antiga organização de educação prática em negócios, economia e empreendedorismo do mundo. Atualmente, está presente em 120 países e, no Brasil, tem ações em todas as unidades da Federação.