Guilherme Gonçalves de Freitas, 22 anos, põe em prática a organização do tempo no trabalho. Como supervisor administrativo na rede pública de ensino do Distrito Federal, ele é responsável por organizar os horários dos professores e funcionários da escola em que trabalha e acredita que a pontualidade é obrigação do cargo que exerce. ;Se eu não der o exemplo, como posso cobrar dos outros as faltas e atrasos?;, questiona. O jovem conta que, desde que começou a trabalhar, toma cuidado com o horário.
Respeito
Além do cargo público, Guilherme divide o dia com os estudos e as atividades de lazer. ;O fato de trabalhar diretamente com as pessoas me educou a respeitar o tempo alheio;, explica. O servidor considera seu comportamento diferente do comum. ;É uma questão de consciência mesmo. Por exemplo, se chego atrasado, tento compensar o tempo perdido ficando mais um pouco depois da hora de sair;, conta.
Para o diretor da empresa de consultoria Entheusiasmos, Eduardo Carmello, ser responsável com os compromissos e o tempo é um fator positivo no mercado de trabalho, mas ele explica que isso não é tudo. ;Pontualidade é uma qualidade desejada quando o profissional não a tem. Porém, quando manifestada, é vista como obrigatória e nada de especial;, explica. O especialista conta que é mais importante mostrar que a pessoa é capaz de entregar aquilo que promete. ;A pontualidade está implícita na competência;, afirma.
Apesar de normalmente ser associada à fase adulta da vida, a iniciativa de ser pontual vai além da idade: é um sinal de educação. O gerente de vendas e marketing da empresa de recrutamento Robert Half, Jorge Martins, explica que a experiência de vida afeta o comportamento, pois profissionais com mais tempo no mercado de trabalho passaram por culturas organizacionais diferentes. ;Hoje em dia, o mercado adotou novas medidas, como horários flexíveis, e há uma dinâmica maior no trabalho. Além disso, as pessoas estão mais abertas à comunicação. Antes, não, o profissional deveria cumprir um horário determinado e, mesmo assim, ainda tomava bronca do chefe;, explica.
Lidar com as questões da idade não foi um problema para o supervisor Guilherme. Ele entrou no serviço público há cerca de três anos e meio e conta que trabalha em uma escola com profissionais com quase 15 anos de carreira, mas que não é questionado por ser jovem. Além disso, conseguiu se adaptar rapidamente às exigências do cargo. ;Quando alguém entra no serviço público ainda novo, não tem experiência na atividade e demora um pouco para se acostumar. É aquela coisa de ser jovem e ter de aprender com os erros;, relata.
Embora seja impossível controlar o tempo, especialistas afirmam que organizar as atividades e estar preparado para imprevistos ajuda a manter a pontualidade. Eduardo Carmello alerta que culpar o trânsito, a chuva ou o excesso de trabalho não são justificativas válidas. ;Procure sair antes de casa, encontrar rotas alternativas para o trânsito e estabeleça uma agenda de prioridades;, diz. Em uma situação de entrevista de emprego, Jorge Martins aconselha que o profissional saiba exatamente onde será o local do encontro e tenha em mãos o endereço e o número de contato do entrevistador. ;O grande pecado capital não é o atraso, mas o descaso. É uma falta de respeito com o horário e com as pessoas envolvidas;, afirma.
Ainda assim, os prazos nem sempre são o suficiente para entregar o projeto em tempo. O gerente executivo da empresa de recrutamentos Page Personnel, Luis Fernando Martins, afirma que lidar com certas datas-limite é complicado, mas o importante é manter o diálogo com o cliente para cumpri-las. ;Se percebo no meio do projeto que a data marcada não é o suficiente para finalizar a tarefa, entro em contato com o chefe e explico a situação. Se eu conseguir um tempo a mais, tudo bem. Mas, se a resposta for um não, é de bom tom que a pessoa faça de tudo para entregar o combinado no tempo determinado anteriormente;, diz.
Flexibilidade
Especialistas são unânimes em afirmar que as rotinas do mercado de trabalho mudaram nos últimos dez anos, o que é confirmado pela alteração nos horários de reuniões da empresa. O encontro, que antes era algo determinado para ter início logo no começo do expediente, agora dispõe de flexibilidade para se adaptar às necessidades de cada caso. O presidente da empresa de recrutamento Elancers, Cezar Tegon, afirma que, antes de tudo, é preciso avaliar a cultura da empresa. ;Se todo mundo tem dificuldade para chegar à reunião às 7h30, é papel do chefe ou do responsável encontrar um horário em que todos possam comparecer sem atrasos. Isso é comum em um ambiente administrativo, por exemplo, mas pode ficar complicado em uma linha de produção;, explica.
No entanto, mesmo com as novas características do mercado, pontualidade e disciplina ainda são necessárias para o serviço e definem quem tem chance de progredir. ;A identidade organizacional do local decide quem fica e quem vai embora. Se o ambiente é rígido e o candidato à vaga é mais relaxado, ele vai sofrer para desempenhar o trabalho. Quem aceita o compromisso deve cumprir o acordo;, alerta Cezar Tegon.