A vontade de ir cada vez mais longe vai levar dois estudantes do Centro Interescolar de Línguas (CIL), na Asa Sul, a uma mostra internacional de vídeos em Doha, no Catar. A surdez de Elcanã Maate, 22 anos, e as dificuldades de aprendizado de Rebeca Lustosa, 21, não foram obstáculos para que os dois sonhassem alto. A dupla divide a missão de produzir um curta sobre futebol para exibi-lo na 20; Conferência Internacional da iEarn (Rede de Educação Internacional e Recursos) e na 17; Cúpula da Juventude. Os dois eventos ocorrem simultaneamente e começam em 1; de Julho, com duração de cinco dias.
Tudo começou quando Elcanã se juntou à professora de espanhol Ana Marwell para produzir o vídeo Deaf have dreams (Surdos sonham, na tradução do inglês). O curta, com menos de dois minutos de duração, aborda as dificuldades dos deficientes auditivos em comprar ingressos para os jogos dos eventos esportivos sediados no Brasil. Sem informações disponíveis em linguagem de sinais, são muitas as dificuldades de acesso para pessoas como Elcanã. ;Queremos viajar para assistir às partidas dos jogos, como qualquer um. Mas somos surdos. Será que o Brasil está preparado para pessoas como nós?;, questiona-se o jovem no vídeo.
O material, disponível no Youtube, chamou a atenção da organização não governamental (ONG) Educadores Globais, braço da iEarn no Brasil. A instituição, por meio de uma professora ciente do trabalho realizado no Cil, convidou o grupo brasiliense para a conferência no Catar, que busca apresentar soluções de integração entre as redes de ensino do mundo. Futebol foi o tema escolhido para os trabalhos apresentados porque o país árabe será sede da Copa do Mundo de 2022. Como o convite era para dois alunos e um docente, a professora Ana decidiu convidar Rebeca a integrar a equipe. Os estudantes brasileiros são os únicos portadores de deficiência a participar da iniciativa.
Luz, câmera, ação
O filme está sendo produzido em colaboração com a empresa norte-americana Adobe Systems, que desenvolve softwares de edição de som e imagem. As reuniões entre os alunos e professores dos Estados Unidos, Catar e Brasil são feitas via internet, por meio de videoconferência, em um programa cuja licença foi concedida pela companhia. ;Eles estão nos dando todo o suporte técnico sobre como produzir o vídeo. Já tivemos seis encontros com a equipe de lá, inclusive fomos elogiados pela eficiência e responsabilidade na produção;, conta a professora Ana Marwell.
O objetivo da dupla para o novo vídeo é mostrar a tradição do futebol no Brasil, desde as peladas do dia a dia até os campeonatos nos grandes estádios. ;Eu adoro jogar futebol, sou fã desde sempre. Um dia por semana me reúno com amigos também portadores de deficiência e jogamos, quem olha quer participar. Quando o pessoal sem deficiência se junta às partidas a gente acaba se comunicando com mímica;, relata Eucanã, que vai falar da paixão pessoal na produção usando a linguagem de sinais. Eucanã contraiu rubéola aos cinco anos e perdeu a audição completamente. ;Nada disso me afastou do amor ao futebol. Vou contar essa história no vídeo;, relata
Rebeca será a narradora do curta todo em inglês e também em Libras (Língua Brasileira de Sinais). A participação dela contraria todos os prognósticos médicos. Na avaliação dos especialistas, a estudante não seria capaz de falar em nenhum idioma, face à deficiência auditiva. ;Eu superei todas as dificuldades. Consegui me formar no ensino médio, conclui o curso de inglês e estou aprendendo espanhol. Meu sonho agora é chegar à faculdade de moda, que é um assunto que também gosto muito.;
Instituição
A iEarn é uma entidade sem fins lucrativos que promove a união de salas de aula do mundo através de atividades colaborativas. Usando seu braço no Brasil, a Educadores Globais, a organização fez o convite a Marwell para que criasse em conjunto a alunos e professores do Catar e dos Estados Unidos, um vídeo sobre futebol.