Defensor fervoroso da causa, o jornalista José do Patrocínio ajoelhou-se e beijou as mãos da princesa, seguido por outros membros da Confederação Abolicionista. Isabel declarou que seria “um dos mais belos dias de sua vida” não fosse o fato de o pai, D. Pedro II, estar doente. Há quase 11 meses, o monarca passou o poder à filha e seguiu para a Europa, onde se submete a tratamento médico.
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Monarquia em risco?
Depois de assinar o decreto, batizado de Lei Áurea, que levou o número 3.353, a princesa Isabel travou uma rápida conversa com o barão de Cotegipe, um dos mais ferrenhos opositores da abolição. Ao senador demitido por ela do cargo de presidente do Conselho de Ministros, Isabel teria perguntado o que ele achava do gesto do governo de sancionar a lei. O aristocrata sentenciou: “Redimiste, sim, Alteza, uma raça; mas perdeste vosso trono”.
— ANÁLISE DA NOTÍCIA —
Ventos de mudança
— IVAN IUNES
Além de libertar os escravos, a Lei Áurea, sancionada pela princesa regente Isabel, acentua, de certo modo, o distanciamento entre a elite agrária e o Império, aliança que até ontem garantiu a ambos a permanência no centro do poder no Brasil. A Coroa atende um anseio popular impossível de ser contido, dada a força que o movimento abolicionista ganhou nos últimos anos e a pressão internacional que, cada vez mais, isolava o país. Ao mesmo tempo, dá um passo rumo à aproximação com a população civil menos assistida. Contudo, distancia-se dos aliados de outrora. Há, entre os membros do Partido Liberal, francos defensores da instalação de um regime republicano à feição dos nossos vizinhos sul-americanos. Embora sejam poucos à luz do dia, não devem ter seu poder de articulação subestimado, ainda mais com o reforço de parte da elite agora descontente com a família imperial. Se, em troca da liberdade dos escravos, a população dará, como contrapartida, sustentação ao regime monárquico no Brasil, só o tempo dirá.