;Com grande tristeza, a família anuncia que o professor Sir Robert Edwards, vencedor do Prêmio Nobel, faleceu tranquilamente enquanto dormia, em 10 de abril de 2013, depois de uma longa enfermidade. Ele fará muita falta à família, aos amigos e aos colegas;, informou o comunicado divulgado pela Universidade de Cambridge, à qual o pesquisador continuava vinculado. No informativo, a instituição pediu respeito à privacidade da família neste momento triste e difícil.
Nascido em 27 de setembro de 1925 em Batley, no norte da Inglaterra, Edward serviu no Exército britânico de 1944 a 1948, antes de iniciar seus estudos de biologia na Universidade de Bangor, em Gales, e depois em Edimburgo (Escócia), onde se doutorou em 1955 com uma tese sobre o desenvolvimento embrionário dos ratos. Após seu primeiro emprego no Instituto Nacional de Pesquisa Científica em Londres, começou a trabalhar em 1963 na Universidade de Cambridge, onde, cinco anos mais tarde, viu pela primeira vez a vida ser criada fora do útero. ;Jamais esquecerei o dia em que olhei em meu microscópio e vi algo diferente nos cultivos;, contou em 2008. ;O que vi foi um blastocisto humano me olhando fixamente. Pensei: ;Conseguimos;;, acrescentou.
O cientista desenvolveu a técnica que permite a fecundação fora do organismo da mulher (veja infografia) com a ajuda dos colegas Patrick Steptoe e Jean Purdy. ;Eles começaram a trabalhar com animais e perceberam que conseguiriam fecundar e realizar a fertilização in vitro, juntar um óvulo com o espermatozoide no laboratório e, só então, transferir o bebê para o interior do aparelho reprodutor;, detalha Rubens Tavares, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 1978, os pesquisadores conseguiram replicar o que tinham atestado em animais para humanos. Louise nasceu em um parto cercado do mais absoluto sigilo.
A Academia Real de Ciências da Suécia decidiu dar a Edwards o Nobel de Medicina em 2010 ; Steptoe e Purdy não foram laureados porque já tinham morrido. O prêmio foi criticado pelo Vaticano, postura que, para o cientista, era ;um grave erro;. ;Dizem aos católicos para que não recorram a essa alternativa, mas os católicos o fazem. Os papas só fazem uma coisa: incentivam os fiéis a desobedecê-los;, reagiu o britânico. No dia da cerimônia de entrega da honraria, da qual o britânico não participou por motivos de saúde, o professor de Cambridge Martin Johnson ressaltou que Edwards ;persistiu apesar dos anos de difamação e levou a obstetrícia e a ginecologia à modernidade;.
Em 1980, Edwards e Steptoe fundaram a Bourn Hall, a primeira clínica de fertilidade do mundo, onde continuaram aperfeiçoando seu procedimento. Rubens Tavares esclarece que a técnica sofreu melhorias com o tempo. ;Foram estudados vários tipos diferentes de meios de cultivo, o alimento que é dado para o embrião. Também foi aprimorada a técnica de captura do óvulo para transferir o embrião para o útero, além da forma como se induz a ovulação na paciente.;
Palavra de especialista
Generoso e humilde
;Quando conheci o professor, fazia meu doutorado em Londres em doenças genéticas em embriões. Logo me aproximei dele, que gostava de ser chamado de Bob. A gente trocava ideias e e-mails, ele era um grande cientista, uma pessoa generosa, gentil, humilde. Seu legado científico é o fato de ter conseguido a aplicação clínica da ciência pura. Ele desenvolveu uma técnica que beneficiou milhares de pessoas no mundo. Acredito que ele tenha morrido feliz e orgulhoso disso. Bob deu início aos seus estudos na década de 1960. De lá para cá, tudo o que aprendemos em biologia reprodutiva se deve a ele.;
Selmo Geber, especialista em reprodução assistida da Clínica Origen,
em Belo Horizonte, e amigo de Robert Edwards