Belo Horizonte %u2014 É um tecido feito para impedir a proliferação de bactérias, tornar mais confiável o ambiente hospitalar e ainda ajudar a natureza. A roupa criada com o objetivo de proteger a saúde %u2014 pensada especialmente para uniformes de médicos e enfermeiros, além de roupas de cama de hospitais %u2014 é obra do brasileiro Lucas Bernardes Naves, 25 anos, formado em design de moda pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec) e mestre em design têxtil pela Universidade de Beira Interior, em Covilhã, Portugal. Vivendo atualmente entre Portugal, Espanha e Holanda e envolvido em projetos na área de tecidos inteligentes, o designer explica que o objetivo de seu trabalho é oferecer um substituto para a tradicional fibra de algodão, mais suscetível ao ataque de fungos e bactérias, e, assim, diminuir casos de contaminação em hospitais. O resultado da pesquisa, diz, trará mais bem-estar e segurança para os pacientes.
A malha foi criada a partir do chitosan, um agente antimicrobiano encontrado no exoesqueleto de crustáceos. O produto, 100% natural e renovável, é aplicado sobre a fibra de cânhamo, já usada na confecção de vestimentas. Foram investigados outros agentes, mas nenhum mostrou-se mais eficiente. %u201C(Com o chitosan), tivemos uma atividade antimicrobiana de 99,98%. E ele se mostrou muito eficiente contra a bactéria Staphylococcus aureus, uma das mais encontradas nos hospitais e que pode causar muitas doenças%u201D, acrescenta Naves.
O foco da pesquisa agora é o material e o design. %u201CA intenção é obter uma roupa com imagem corporativa e desenho ergonômico. Ela deve ser fácil de vestir, ter flexibilidade e dar liberdade de movimentos%u201D, explica o pesquisador. Naves também se preocupa em produzir uma roupa respirável, com absorção e neutralização de odores.
O novo produto também teria a vantagem de ser mais sustentável que os tecidos de algodão, cujo cultivo exige muita água e degrada o solo. %u201CQueríamos desenvolver um material têxtil hospitalar que fosse o mais ecológico possível%u201D, afirma. %u201CAlém disso, a escalada do preço do algodão nos mercados mundiais, aliado ao uso intensivo, quase exclusivo, em vestuário hospitalar, faz com que donos de hospitais procurem alternativas mais econômicas e eficazes%u201D, completa. O designer acrescenta que a malha pode ser aplicada também nas cortinas, nos lençóis, nas fronhas e até mesmo no filtro de aparelhos de ar-condicionado desses ambientes.
A pesquisa foi conduzida no Centro Tecnológico Leitat, em Barcelona, na Espanha, e demandou três meses, com a supervisão do doutor em engenharia têxtil Paul Roshan e orientação do professor e doutor em engenharia têxtil da Universidade da Beira Interior Nuno Belino. %u201CSempre pensei em pesquisas e estudos com os tecidos. Então, depois da minha formatura na Fumec, em 2010, decidi me candidatar ao mestrado em design têxtil, que concluí no ano passado. O próximo passo é conseguir parceiros que queiram investir na ideia. %u201CAgora, vem outra etapa, que é procurar empresas parceiras, na Europa e em outros continentes, que queiram investir na industrialização da malha%u201D, diz Naves.