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Clones da fauna do cerrado

A partir de março, uma parceria firmada entre a Embrapa e o Zoológico de Brasília vai permitir pesquisas para a criação de animais desenvolvidos em laboratório. O lobo-guará e o cachorro-do-mato estão na fila da experiência científica


Carlos Martins: primeiro banco de células de animais silvestres
Dia após dia, o veterinário Carlos Frederico Martins trabalha na clonagem de bovinos na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, no Centro de Transferência de Tecnologias de Raças Zebuínas com Aptidão Leiteira (Embrapa CTZL), da Embrapa Cerrados. Além disso, segue com estudos sobre a fertilidade de diferentes raças de gado. A partir de março, no entanto, o desafio é outro: em parceria com o Zoológico de Brasília, cientistas dos dois órgãos vão começar uma pesquisa similar em espécies silvestres presentes no parque.

O acordo está firmado e em fase de discussão. Falta definir diretrizes e escolher as espécies a serem desenvolvidas. A opção mais fácil seria a de um canídeo, como o lobo-guará. O animal, símbolo do cerrado brasileiro, pode ser um dos primeiros a serem estudados e, se possível, clonados. Outro exemplar sondado para a inauguração do projeto é o cachorro-do-mato, que também se encontra quase em risco de extinção.

Dois estudos bem-sucedidos na Coreia do Sul, ambos em 2007, fazem parte da literatura para a pesquisa de Carlos Frederico Martins. Mostram o processo realizado em canídeos (gênero animal), com o núcleo de animais silvestres em óvulos de cadelas. O primeiro, com lobos-cinzentos, resultou no nascimento de dois clones em outubro de 2005. O outro rendeu oito clones de coiote com saúde de um total de 320 embriões reconstruídos.

Amostras congeladas
O centro da Embrapa Cerrados tem, atualmente, amostras das espécies reservadas para os estudos. ;Esse trabalho surgiu da recuperação do material genético de animais mortos. Vimos que era possível resgatar esses genes e formamos um banco. É o primeiro criobanco de células de animais silvestres do Brasil;, explica Martins. Atualmente, há mais de 450 amostras congeladas (veja Preservação).

O veterinário aproveita para derrubar um mito (veja Memória). ;Eles não terão vida curta, isso não acontece na clonagem, ainda não é confirmado;, garante. ;A velhice precoce da ovelha Dolly foi um caso isolado.;

A pesquisa envolve não só a clonagem de espécies silvestres, mas outros procedimentos, como inseminação artificial, congelamento de sêmen, maturação ovocitária ; preparação dos óvulos para a fecundação ; e sincronização de cios. Dois funcionários do Zoo serão treinados para fazer a coleta de DNA tanto de gametas (óvulo e espermatozoide) quanto de outras partes do corpo dos animais, como a pele.

Negociação
No Zoológico de Brasília, os animais têm diversas procedências. Alguns são encontrados em situação ilegal e outros, salvos de maus-tratos em circos. Poucos nasceram ali mesmo. A presença de exemplares criados em laboratório é algo inédito no local. ;A ideia é produzir para a visitação interna; não pensamos em soltá-los em seu hábitat;, explica Martins.

A escolha dos animais está em negociação entre a Embrapa Cerrados e o Zoológico. A princípio, não será um número elevado. ;Como ainda não começamos a estudar as possíveis espécies, fica difícil determinar qual experiência vamos começar primeiro;, alertou a diretora de pesquisa do Zoológico, Luciana Borges. Além do lobo-guará e do cachorro-do-mato, a onça-pintada também está cogitada.

Preservação

O banco de material genético da Embrapa CTZL armazena 450 amostras de nove espécies do cerrado, coletadas tanto em animais vivos quanto em indivíduos mortos em estradas. São elas:

; Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus);
; Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous);
; Veado-catingueiro (Mazama gouazoupira)
; Onça-pintada (Panthera onca)
; Gato-maracajá (Leopardus wiedii)
; Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus)
; Quati (Nasua nasua)
; Furão (Mustela putorius)
; Macaco-da-noite (Aotus nigriceps)

Memória

Embalsamada

Primeiro mamífero a ser clonado com sucesso, a ovelha Dolly nasceu em julho de 1996, como resultado de pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Com o núcleo de uma célula das glândulas mamárias de uma ovelha adulta transferido para um óvulo, era idêntica ao animal que forneceu o material genético. Em janeiro de 2002, recebeu o diagnóstico de artrite e, um ano depois, foi sacrificada. A espécie de Dolly vive cerca de 12 anos, e sua morte precoce esteve associada ao fato de ela ser um clone ; hipótese descartada pelos cientistas. O corpo está embalsamado no Museu Nacional da Escócia.