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Para fazer em casa

As impressoras 3D tornam-se cada vez mais populares ao permitir a produção caseira de capas de celular, brinquedos e até tocadores de MP3. Especialistas apostam que, dentro de alguns anos, essas máquinas serão um eletrodoméstico como outro qualquer

Tecnologia brasileira: Rodrigo Krug, criador da impressora 3D nacional, e alguns dos objetos que o equipamento é capaz de produzir

Há anos que a impressão 3D conquista engenheiros e projetistas como uma ferramenta ágil e precisa na fabricação de protótipos, peças industriais e até mesmo próteses médicas. Mas a possibilidade de materializar objetos de diferentes materiais atrai também profissionais de decoração, artistas e até mesmo pessoas comuns interessadas apenas em criar itens personalizados. Quem tem a impressora em casa já pode baixar na internet projetos em três dimensões de capas para celular, MP3 Players e até armas de fogo, que podem sair do computador para o mundo real com apenas um clique. E a brincadeira não é exclusividade dos ricos: uma impressora de objetos doméstica já custa o mesmo que uma televisão.

A tecnologia funciona de forma similar à das máquinas de impressão de arquivos em papel, mas, em vez de tinta, usa uma matéria-prima sólida. As técnicas variam muito, mas, basicamente, essas máquinas depositam camadas finíssimas do mesmo desenho, uma sobre a outra. Aos poucos elas vão se acumulando e, em algumas horas, formam um objeto sólido. O resultado depende da resolução do projeto e da qualidade do equipamento ; assim como na impressão de uma fotografia.

Essas máquinas ainda não estão nas prateleiras das lojas, mas uma encomenda na internet pode garantir a entrega de um exemplar em poucas semanas. Hoje, são quase 200 fabricantes no mundo, com produtos que podem custar de R$ 500 a R$ 50 mil. Alguns sites vendem, ainda, kits para a construção de uma impressora em casa, por apenas R$ 2 mil. Modelos profissionais, que custam a partir de R$ 200 mil, já conseguem imprimir projetos tão grandes como uma bola de basquete, e com uma fidelidade impressionante.

A primeira impressora 3D produzida no Brasil custa R$ 4.500, e fica pronta em oito semanas depois de feita a encomenda. A criação fica por conta de cinco pessoas, que terceirizam parte do trabalho e já entregaram 30 máquinas desde o início da empresa, há oito meses. Entre os clientes, estão designers, empresas de grande porte e até escolas. ;Parece difícil de imaginar, mas com a nossa solução de software, é necessário apenas apertar um botão. Tem um advogado de São Paulo, por exemplo, que comprou uma impressora e usa como hobby. Ele inventa soluções e imprime brinquedos para o filho;, conta Rodrigo Krug, diretor da Cliever Tecnologia e criador do aparato tupiniquim.

O desenvolvimento da máquina levou três anos, 12 protótipos e muito estudo de mercado. O modelo usa plástico biodegradável, feito de amido de milho, em 20 cores diferentes. O filamento é a matéria-prima mais popular nos modelos domésticos, embora ainda não custe menos de R$ 180, o quilo. Mas o especialista garante que o preço deve baixar em breve, e que a máquina se tornará um eletroeletrônico indispensável. ;Nosso objetivo é tornar a tecnologia cada vez mais acessível para o consumidor doméstico. Desse jeito, ele poderá comprar apenas o design e quebrar a cadeia logística. Acredito que em breve todos estarão usando;, anima-se Krug.

Programas
Uma variedade de programas de computador permitem a criação de projetos em três dimensões. O Google já oferece um software gratuito, o Google Sketch Up, voltado para modeladores de primeira viagem. Já os profissionais podem escolher ferramentas como o Blender, que também é de graça, ou o AutoCAD, usado por arquitetos na criação de maquetes. O arquivo, geralmente no formato STL, é reconhecido pela impressora e automaticamente dividido em camadas virtuais para a impressão.

Outra opção é simplesmente escanear um objeto real e criar uma cópia dele. Existem aplicativos para smartphones que digitalizam coisas e até pessoas em arquivos 3D, além de escâners que podem ser usados em casa ou na indústria. ;Chama-se engenharia reversa. Posso escanear qualquer objeto e colocá-lo no computador com sensores e câmeras. Um aparelho como o Kinect manda sinais infravermelhos que batem na peça e voltam, e o programa faz uma nuvem de pontos que dimensiona e gera o arquivo em 3D;, ensina Rafael Soeira, projetista da Ágil 3D, empresa de prototipagem de Ribeirão Preto (SP).

Nessa impressora, Rafael comanda as impressões alimentadas por um composto de alta performance, uma espécie de pó que resulta em peças mais frágeis, mas em cores e com uma alta resolução. A ferramenta é a preferida de projetistas que só precisam de uma miniatura, e não do objeto funcional. ;Temos um rapaz que coleciona carros e que costumava fazê-los com madeira. Agora, ele faz na impressão. Nós imprimimos a carcaça e damos banho de tinta automotiva. Já fizemos um projeto também para o artista Darlan Rosa, que queria ver como uma escultura ia ficar;, enumera Rafael.


Utensílios domésticos e luminárias criados especialmente para a impressão em três dimensões pelo designer francês Samuel Bernier


Sob demanda

Nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, lojas especializadas oferecem serviços similares aos pontos de revelação de fotografias ou casas de fotocópia. O cliente leva o projeto e volta poucas horas depois para recolher o objeto pronto. Logo a atividade deve chegar ainda a uma rede de papelarias dos Países Baixos e da Bélgica. O projeto pode ser feito pelo usuário ou baixado diretamente da rede. A Nokia, por exemplo, já publicou na internet as instruções para a materialização da capa do Lumia 820. O acessório pode ser personalizado pelo próprio usuário, com clipes para cintos ou buracos para fones de ouvido.

A MakerBot, uma das maiores empresas do ramo no mundo, também vende kits para a produção de mp3 players no formato de fitas cassete. Basta imprimir a estrutura e seguir os passos para a instalação dos fios. E, em breve, nem mesmo o kit eletrônico será necessário para criar gadgets em casa. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Warwick já divulgou o desenvolvimento de um material batizado de carbomorph, que pode permitir a impressão de dispositivos personalizados com fios e cabos de uma só vez.

Profissionais e empresas também apostam na técnica como forma barata de produzir objetos populares, e prometem colocar itens impressos em todas as casas nos próximos anos. ;A maioria das escolas de design hoje têm aulas de fabricação digital ou workshops de prototipagem. Uma impressora 3D dá o resultado de centenas de máquinas combinadas, e só custa cerca de US$ 2 mil;, avalia o designer francês Samuel Bernier. ;Designers, arquitetos e artistas usam impressão 3D há 20 anos, e mal podem esperar para ter o seu próprio robozinho. É como um estagiário que custa menos de 3 mil euros por ano.;

Bernier chamou a atenção em abril do ano passado, quando criou uma linha de utensílios que combinados com potes de vidro e lata se transformam em criativos acessórios de cozinha. Agora, ele divulga uma coleção de luminárias coloridas, impressas ao custo de R$ 10. Tudo começou quando a luminária da casa de Bernier quebrou. Insatisfeito com os modelos disponíveis nas lojas, ele resolveu criar as próprias coberturas, materializadas em menos de 10 horas, cada. ;Para mim, o melhor uso da impressão 3D é para produtos. Customizar e materializar objetos de que precisamos;, opina.

Na mira da lei

Por enquanto, a impressão 3D ainda é livre, mas, nos Estados Unidos, a discussão pode levar à proibição do uso de projetos não autorizados. Se a patente aprovada em outubro do ano passado for popularizada, impressoras podem vir de fábrica com um mecanismo que só reproduza arquivos permitidos. Um sistema semelhante já é usado em CDs e DVDs. Além da pirataria, a segurança também têm alimentado o discurso dos que defendem um controle legal sobre as impressões de três dimensões. O Congresso dos EUA já discute a criação de leis para evitar iniciativas como a da Defense Distributed, que publicou na internet instruções para a impressão de acessórios para armas de fogo. Por enquanto, partes essenciais feitas de plástico não resistem ao disparo de mais que alguns tiros. Mas, se a tecnologia continuar evoluindo, será possível fabricar em casa pistolas precisas que passam desapercebidas por detectores de