"O processo de escravização desumanizou o negro. Ser negro em um país de maioria negra é ruim. Nosso trabalho consiste também em elevar a autoestima da população" Viridiano Custódio de Brito, historiador e secretário de Promoção da Igualdade Racial do DF |
Durante a semana, o DF vai se movimentar em torno do orgulho negro brasileiro. O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é comemorado amanhã, mas as festividades, iniciadas ontem, vão se estender até domingo. Entre os shows em celebração à cultura afrodescendente, estão os das divas Vanessa da Mata, Renata Jambeiro e a brasiliense Ellen Oléria. Para encerrar, uma apresentação no Parque da Cidade do grupo Cidade Negra.
A Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir-DF) organizou boa parte dessas atividades. Liderada desde 25 de outubro por Viridiano Custódio de Brito, os novos ares trazidos ao órgão vêm em forma de projetos de ação. ;Nos últimos dez anos, o racismo no Brasil diminuiu. Acho que a lei ajudou, a sociedade lutou, mas quando você vê os dados, o negro ainda é o mais pobre;, lamenta.
De acordo com estudos da Secretaria de Trabalho do DF, em setembro de 1992, 36,9% da população empregada era negra. Oito anos depois, o número subiu para 67,7%. Os negros não compõem o grupo de trabalhadores com os melhores salários. Na faixa da população que ganha de R$ 250 a R$ 1 mil, eles correspondem a 52,71%. Nos intervalos com valores mais altos, os não negros são maioria.
À frente da Sepir-DF, Brito não pretende partir do zero. Ele reconhece que a antecessora teve ações importantes para os negros brasilienses. Mas Brito entende que é preciso humanizar o atendimento ao negro nos hospitais, garantir atenção especial às doenças características da etnia, como a anemia falciforme, além de transformar o Dia Nacional da Consciência Negra em feriado distrital. ;Em São Paulo e no Rio de Janeiro é assim. Por que não ter um feriado em um dia de homenagem às pessoas que ajudaram a construir esse país na capital federal?;, pondera.
Viridiano Brito adianta que planeja uma assessoria jurídica para a secretaria e a implantação do serviço Disk-Racismo, a fim de que a vítima de injúria racial possa denunciar diretamente ao órgão os agressores. Há menos de um mês no cargo, ele orientou os servidores para a realização do mapeando dos terreiros de umbanda e candomblé, e dos remanescentes de quilombos, com o intuito de valorizar a cultura negra e regularizar os terrenos. ;O processo de escravização desumanizou o negro. Ser negro em um país de maioria negra é ruim. Nosso trabalho consiste também em elevar a autoestima da população.;
Polêmicas
Dentro do planejamento de ações da secretaria, também constam alguns projetos que vão provocar grandes discussões na sociedade. Após a aprovação da política de cotas para negros nas universidades, a próxima luta da Sepir-DF é conseguir o mesmo para os cargos no serviço público distrital. ;Essa é uma questão polêmica, mas queremos ter esse debate com a sociedade. As cotas são meios de reparar os danos de 338 anos de escravidão no Brasil;, diz o secretário, formado em história na Upis e pós-graduado na Universidade de Brasília.
A questão da educação não foge aos olhos de Brito. Outra proposta da secretaria será o cumprimento da Lei n; 10.639, que determina o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas instituições de ensino fundamental e médio, particulares e públicas. Viridiano Brito diz ainda que à frente da Sepir-DF planeja realizar cursos de especialização para que os professores possam transmitir esse conteúdo aos alunos. ;Mas a especialização demora. Queremos que os professores da área de humanas saiam da faculdade sabendo o conteúdo.; Dessa forma, a ideia acabará sendo estendida às universidades, que vão ser obrigadas a capacitar os docentes na fase de graduação.