Nos últimos dois anos, a participação das domésticas no grupo de mulheres que estão empregadas caiu de 17% para 15,7%. Já o total das que tiram o sustento das vendas subiu de 16,5% para 17,6%. E essa mudança veio para ficar, na análise de Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular. Primeiro, porque elas ampliaram o nível da educação. Segundo, caiu o fluxo migratório de camadas de baixa renda da Região Nordeste para trabalhar em casas de família. Terceiro, muita pessoas das novas gerações não querem repetir as profissões dos pais.
;A filha não quer ser empregada doméstica porque sente vergonha da mãe. Pelo contrário. Tem muito orgulho. A questão é que ela não enxerga possibilidade de crescimento pessoal. Então, estuda para ter emprego com plano de carreira;, explicou Meirelles. Segundo ele, o nível de escolaridade também tem sido importante para as mudanças. ;Cada ano de estudo implica em aumento de 15% no salário médio;, assinalou. As mulheres já representam 51,5% da população brasileira (195,2 milhões de pessoas), segundo a Pnad.
Luciene Braga, 29, já passou por outros empregos antes de chegar a uma loja do Brasília Shopping. Divorciada, com um casal de filhos, precisa superar empecilhos todos os dias, para não faltar às aulas, também em uma faculdade de engenharia. ;Estudo nos fins de semana, nas folgas, de madrugada. E ainda consigo bater as metas de venda. Tudo é possível com um pouco de esforço e de boa vontade. Escolhi Engenharia porque, das carreiras mais conceituadas, foi a que se encaixou na minha vocação;, ressaltou. Sua programação diária é apertada. Às 9 da manhã, deixa os filhos na escola e uma sobrinha os busca depois. Luciene é a mais nova de oito irmãos e o orgulho da família. ;Só eu consegui estudar. Meus irmãos são caseiros em sítios de Minas. Um deles, servente, mora com minha mãe, de 69 anos, que sempre foi dona de casa;. O pai de Luciene é caminhoneiro aposentado.
Ana Paula Levay, 24, escolheu o comércio como a porta de entrada ao mercado de trabalho. ;É o local mais fácil de encontrar emprego. Em outros lugares, exigem cursos diferentes e experiência;, justificou. Começou em uma loja pequena, por indicação de amigos. Há seis anos, foi para outra maior, que lhe deu tempo e possibilidade de entrar para a faculdade de fisioterapia. Para estudar, conta com o apoio da mãe, que já concluiu o nível superior, e do pai, comerciante. Mais velha de dois irmãos, Ana Paula sonha em ser radialista ou humorista. ;Qualquer coisa ligada à TV. Estou fazendo cursos, conhecendo pessoas. Começo as aulas de locução no mês que vem;, contou.
Apesar de jovens, essas comerciárias sabem, de acordo com o local onde trabalham, manter um saudável clima de disputa, em busca de cumprimento das metas. Para trabalhar no comércio, segundo elas, não basta apenas ser bonita. É preciso consciência de que lidar com o público não é fácil. O cliente tem sempre razão. Por isso, dão algumas dicas: clareza nas informações e cortesia são fundamentais. Bom humor, alto astral, agilidade, desenvoltura, vestuário apropriado e tom de voz na altura certa são ingredientes importantes para cativar o cliente e conseguir aquela venda que faz a diferença.