Como o eleitor americano não é obrigado a comparecer às seções eleitorais, os candidatos precisam, além de ganhar a preferência dos eleitores, convencê-los a sair de casa e ir às urnas. Para verificar se a web poderia ajudar nessa tarefa, os pesquisadores montaram um experimento social para as eleições de dois anos atrás. No dia da eleição, um aplicativo que convidava as pessoas a votar foi enviado a 61 milhões de usuários do Facebook. Além de lembrar sobre o pleito, o mecanismo também permitia que o internauta assinalasse que já tinha votado. A grande maioria das pessoas recebeu uma versão mais simples do aplicativo, enquanto 1% delas visualizou também uma lista de seus amigos que já tinham ido votar.
Passada a eleição, os autores do estudo se debruçaram sobre os registros de votação ; disponíveis publicamente na maioria dos estados americanos ; e puderam ver quantos usuários com acesso ao aplicativo tinham participado. Eles descobriram, por exemplo, que 4% daqueles que disseram ter ido às urnas tinham mentido. Mas o dado mais importante era outro: enquanto a taxa de participação das pessoas que tinham visualizado a versão mais simples do aplicativo era igual à do público em geral, a do 1% de usuários que puderam ver quais de seus amigos tinham votado foi sensivelmente maior. Dos quase 600 mil usuários que receberam a informação mais completa, os pesquisadores acreditam que pelo menos 60 mil não pretendiam votar, mas acabaram indo por influência da rede social.
;A influência social fez toda a diferença na mobilização política, mas não se trata apenas de ver bottons escritos ;eu votei; ou um adesivo. (O que influencia uma pessoa a votar) é alguém ligado a ela;, explicou em conferência à imprensa o principal autor da pesquisa, James Fowler, da Universidade da Califórnia em San Diego.
Os pesquisadores mediram também a influência indireta da ação. Comparando dados de votação dos amigos desses 60 mil eleitores mobilizados com os dos eleitores em geral, os cientistas chegaram a um número de 340 mil pessoas influenciadas a votar. Cada indivíduo que era convencido a ir às urnas por ver as informações no Facebook, influenciava, em média, outras quatro pessoas a agir da mesma forma, ampliando o alcance da ação para muito além dos limites da internet. ;Comportamentos mudaram não só porque as pessoas foram diretamente afetadas, mas também porque os seus amigos (e amigos de amigos) foram afetados;, completou Fowler.
Além da política
Estudos anteriores já tinham mostrado que os amigos têm influência sobre os usuários de redes sociais. Faltava, porém, comparar o desejo de realizar algo com a real atitude de sair de casa e agir, indo, por exemplo, votar. Para Sinan Aral, especialista em mídias sociais da Universidade de Nova York, a compreensão de quais elementos fazem a avalanche de mensagens lançadas nas redes sociais efetivamente se transformarem em uma mudança de comportamento tem aplicações que ultrapassam o terreno político. ;Esse estudo é o primeiro passo para projetarmos intervenções virtuais que podem promover comportamentos positivos em populações humanas, ou conter os negativos;, comentou. ;Contudo, ainda há muito trabalho a fazer, especialmente modelar o grau de contaminação ou vazamento no experimento;, afirma. Isso significa dizer que os pesquisadores terão de aprender a mensurar melhor que outras influências virtuais podem afetar o resultado desse tipo de estudo.
As aplicações, quando esse tipo de modelagem estiver mais afinado, serão as mais diversas, na opinião de Aral. ;É óbvio que seja relevante para, por exemplo, publicidade direcionada e marketing viral. Mas essas intervenções também têm o potencial de promover mudanças sociais positivas, como o aumento da taxa de testes de HIV, a redução da violência ou a adoção de hábitos mais saudáveis. Dessa forma, o estudo da influência social pode ter implicações dramáticas para a economia, a política ou a saúde pública;, acrescentou.
Doação de órgãos e leitura Mesmo antes de uma comprovação como a realizada pelo estudo divulgado pela Nature, diferentes iniciativas e órgãos governamentais já perceberam o poder de influência das redes sociais. Uma das ações mais recentes nesse sentido feitas no Brasil é uma ferramenta lançada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Facebook que permite aos usuários do site expressarem a vontade de doar os órgãos.
Para utilizar o aplicativo, o internauta com uma conta no Facebook deve clicar na opção ;evento cotidiano;, localizado na parte superior de sua linha do tempo, e selecionar ;saúde e bem-estar;. Lá, verá a opção para se declarar doador. Caso ele manifeste o desejo, a ferramenta o leva a uma área na qual pode selecionar os contatos que deverão receber uma mensagem sobre a opção feita.
De acordo com um levantamento divulgado na última quinta-feira pelo ministério, a proposta tem dado certo: mais de 80 mil brasileiros utilizaram a ferramenta desde 30 de julho, quando foi lançada. Para Heder Murari Borba, coordenador do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), o número mostra a capacidade de o site afetar a sociedade de forma positiva. ;A rede social tem sido usada como uma ferramenta para campanhas sérias;, enxerga.
Outra ação governamental que busca apoio na rede é a campanha ;Leia mais, seja mais;, do Ministério da Cultura. A iniciativa planeja utilizar diferentes meios, incluindo a web, para estimular o hábito da leitura, principalmente entre as classes C, D e E. No Facebook, por exemplo, os usuários serão incentivados a colocar a capa de um livro como foto do perfil.