A tendência, assim como na época do Napster, começa pelos jovens. Segundo o estudo Music 360, divulgado pela Nielsen em agosto, o YouTube é o meio mais utilizado por adolescentes norte-americanos para escutar música. A pesquisa, que entrevistou 3 mil pessoas nos Estados Unidos, revelou que 64% dos jovens utilizam a página, comprada pelo Google em 2006, como forma primária para ouvir canções ; seguido de rádio (56%), iTunes (53%) e CDs (50%). O meio digital também é predominante na hora de comprar: 36% deles dizem ter adquirido um disco físico no último ano, enquanto 51% pagaram para baixar músicas.
Para o professor Paulo Bastos Martins, do Departamento de Midialogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as mudanças que a internet causou na indústria da música e no modo como consumimos outras mídias são naturais. ;A internet é só um meio, e todos nós temos que nos adaptar a ele. A partir do momento que você enxerga a rede dessa maneira, tudo fica mais simples. Acho que estamos encarando todas essas transformações como um mito;, defende.
O estudante Raul Alexandre Gomes Costa, 16 anos, usa o YouTube não só para ouvir músicas, mas também para descobri-las. ;Eu prefiro escutar por lá primeiro, para saber se ela é legal;, conta. Ele diz preferir o site de vídeos do Google pela variedade de opções. ;Você sabe que, se procurar uma canção lá, vai achar;, opina. Ele também diz que sempre utiliza a página para mostrar uma música que conheceu para um amigo.
Alternativas
Quando o assunto é direitos autorais e propriedade intelectual, a polêmica permanece. Para o pianista e maestro Renato Zanuto, mesmo antes do meio digital nunca houve uma fiscalização adequada. ;Com a internet, ela é praticamente impossível. Mas, no caso do YouTube, há pagamento de direitos autorais para os vídeos oficiais;, comenta. O maestro lembra que o mercado mudou de uma forma que não há como voltar atrás. ;A maior vantagem está na divulgação do trabalho por esses canais para alavancar a venda de shows, principal fonte de renda de músicos e produtores.;
A gravadora Trama, que tem Elis Regina entre seu rol de artistas, começou desde cedo a se adaptar às novas formas de consumo da música. ;Creio que as gravadoras, como conhecemos, não existem mais e adotaram uma postura diferente ao perceber que não são vendedoras de suportes físicos, como CDs, DVDs e vinis;, ressalta o filho da cantora e presidente da Trama Entretenimento, João Marcello Bôscoli. Em 2008, a empresa passou a oferecer álbuns em seu site gratuitamente para download e conta ainda com a TV Trama, mostrando o que acontece nos estúdios, e com a comunidade Trama Virtual.
Bôscoli acredita, inclusive, que plataformas como o YouTube ajudam as gravadoras, pois divulgam as músicas e há remuneração. ;Recebemos dinheiro do site baseado em nossos views;, argumenta, lembrando ainda que a Trama se sustenta pela publicidade, assim como rádios e TVs abertas. E a gravadora não para por aí. ;Nosso novo projeto será lançado este mês em parceria com o YouTube: o primeiro canal de música diário em live streaming, duas horas por dia;, anuncia.
"Com a internet, a fiscalização é praticamente impossível. Mas, no caso do YouTube, há pagamento de direitos autorais"
Renato Zanuto, pianista e maestro
Playlist instantânea
Além de sites de vídeos, páginas que oferecem acesso por streaming - sem precisar de download - são as opções. Entretanto, alguns preferem o bom e velho disco de vinil
Para o tecnólogo em web, áudio e vídeo Ângelo Roosevelt, isso acontece porque a internet está em quase todos os lugares, oferecida por wi-fi sem custo em shoppings, bares e lojas. ;Isso favorece para que o jovem crie sua playlist nas nuvens e ouça músicas, inclusive com clipes, em seus celulares;, detalha. Para Ângelo, esse comportamento ainda deve crescer com a vinda da internet 4G para o Brasil.
A estudante de publicidade Ana Paula Campos, 23 anos, por exemplo, é adepta ao GrooveShark. ;Eu uso porque eu posso deixar listas de músicas prontas e ouvi-las a hora que quiser, com qualidade de download;, defende. Já o estudante de engenharia civil Igor Felipe Silva, 22 anos, prefere o SoundCloud, onde escuta, compartilha e comenta as músicas. ;Gosto muito do acervo de eletrônicas e também ouço algumas independentes, como as de bandas de amigos meus que usam o site para mostrar seu trabalho;, aponta.
E não são apenas os músicos que utilizam a rede para difundir os sons que produzem. Nick Ellis, 42 anos, é RP do site TechTudo, CEO e sócio da Digital Drops (digitaldrops.com.br) e tem em seu perfil do Twitter a seguinte descrição: ;Hm homem com uma missão: tocar e postar 366 Músicas, uma por dia do ano; ; lembrando que estamos em ano bissexto. Ou seja, até hoje, terça, ele já pôs 255 músicas na web.
;Comecei como uma bincadeira, uma terapia, fazendo cover de músicas de outras pessoas, muitas vezes com a ajuda de amigos em outros instrumentos;, conta. Nick prefere usar um canal no YouTube para postar as músicas, e usa o Tumblr e outras mídias sociais para fazer divulgação. Os vídeos já tem quase 313 mil acessos. ;Acho muito legal as possibilidades que a internet oferece, para divulgar e procurar novas músicas, mas confesso que na hora de escutar sou mais old school e prefiro meus CDs ou pelo menos fazer download e ouvir no iPod.;
Mesmo com a facilidade de ouvir músicas pela internet, ainda tem gente que não abre mão de maneiras mais clássicas de escutar um som, como o disco de vinil. É o caso de Júlia Hammes, 23 anos, diretora de marketing da empresa pinguimap.com. ;Tenho esse hábito desde pequena, pois minha irmã mais velha escutava vinis da turma do balão mágico, sítio do pica-pau amarelo, trem da alegria e outros;, conta. Hoje, Júlia e a família têm cerca de 150 discos, sendo 50 só dela, mais a vitrola que ganhou aos 17 anos.
Para a diretora de marketing, a maior vantagem do vinil é a definição do som, mais natural, e o fato de poder aproveitar a experiência com os amigos. ;Levamos os discos pra casa um do outro e vamos às compras juntos;, diz. A paixão, entretanto, não faz com que Júlia abandone a internet. Ela explica que não se encontra tudo em vinil ; mesmo quando encontra, às vezes o preço não cabe no orçamento ; e que gosta da facilidade de poder levar as músicas do computador para outros dispositivos. ;A internet fez o que com o vinil seria impossível: expandiu os espaços para a música dentro do nosso cotidiano, mas nunca conseguiu reproduzir a mesma qualidade e não tem a carga histórica que alguns discos tem.;
Apple de olho
Outra empresa que estuda entrar no mercado de música por streaming é a Apple. Segundo o Wall Street Journal, a empresa de Tim Cook entrou em contato com gravadoras, visando licenciar conteúdo para um serviço que pudesse competir com o Pandora, forte nos Estados Unidos. O serviço estaria disponível em computadores e celulares. A fabricante do iPhone e do iPad já vende músicas pela loja iTunes e, em 2010, tentou expandir os negócios na área com a mal sucedida rede social Ping.