Ensino_EnsinoSuperior

Cerca de 6% dos estudantes da UnB não têm computador ou tablet

Resultado é de questionário para mapear as condições de alunos e funcionários durante a pandemia. 30% têm acesso precário ou nem têm acesso à internet

Após aplicar questionários para mapear o contexto de alunos, professores e técnicos na pandemia entre 6 e 26 de junho, a Universidade de Brasília (UnB) divulga o resultado da pesquisa que norteará ações para a retomada do semestre letivo em 17 de agostoA universidade lançou edital de apoio à inclusão digital para a volta às aulas para atender a necessidade estudantil.
 
 
 
Entre os alunos que responderam ao estudo, praticamente a totalidade têm celular enquanto 6% não têm tablet ou computador (nem próprio nem compartilhado). Cerca de 98% dos estudantes dizem ter acesso à internet fora da universidade. No entanto, isso esconde problemas, já que 30% admitem ter acesso precário ou lento ou nem chegar a ter acesso à internet que permita acompanhar atividades acadêmicas a distância — como tinha revelado a reitora Márcia Abrahão.
 
“Isso inclui pessoas com banda larga em casa, mas uma banda larga ruim. Uma parcela muito grande tem banda larga ou celular, mas, mesmo entre os que têm banda larga, 20% reclamam da qualidade”, observa o professor Lúcio Remuzat Rennó Júnior, que coordenou o levantamento.
 
Além disso, 74% do corpo discente participante depende de transporte público para chegar à universidade. Entre as recomendações que surgiram a partir da pesquisa está a adoção de políticas de apoio para esses dois requisitos: dispositivos tecnológicos e internet.
 
“Uma preocupação muito grande é não aprofundar desigualdades. Então, a universidade precisa disso para que o processo de ensino remoto não deixe ninguém para trás. É importante promover iniciativas ou planos de ação de distribuição de equipamentos”, comenta Lúcio, diretor do Instituto de Ciência Política (Ipol).
 
 

Não há sub-representação de vulnerabilidades

Como o questionário era on-line, os estudantes com maior dificuldade de acesso à tecnologia talvez fossem justamente os que teriam mais desafios para participar. A fim de resolver esse problema, a universidade criou uma central telefônica, que fez mais de 1 mil atendimentos, além de ter feito busca ativa por alunos em situação de vulnerabilidade. Apesar dos esforços, a participação não foi total, o que é considerado normal e esperado pelo professor Lúcio Remuzat Rennó Júnior. 
 
Ele explica que a taxa de participação dos estudantes foi de 50% e a dos professores, de 78%. “São taxas muito altas para pesquisas desse tipo”, afirma. “Incluir 100% da população não acontece em pesquisa nenhuma”, pondera. Para avaliar se os cerca de 20 mil alunos que participaram do questionário tinham situação diferente dos 20 mil que não participaram, a equipe fez uma verificação detalhada e criteriosa com base nos registros administrativos.
 
 
 
“Esses cadastros têm algumas informações que permitem fazer uma análise comparativa dos que responderam e dos que não responderam”, explica Lúcio Rennó. A partir de dados, como forma de ingresso, CEP (classificando as regiões administrativas com faixas de renda), gênero e ações afirmativas, foi possível concluir que a pesquisa não sub-representa os estudantes mais vulneráveis, pelo contrário. “A amostra tem mais alunos em condições de vulnerabilidade do que o grupo que não respondeu, sem dúvidas”, destaca o professor.
 
“A nossa amostra não tem viés de sub-representação, esse é um ponto fundamental. A taxa de resposta foi de 50%, mas a metade que respondeu não é a que tem melhores condições de renda. O estudo não está subestimando as necessidades de acesso à internet”, garante. Lúcio explica ainda que a pesquisa mostrou que a UnB tem um perfil muito variado e heterogêneo de estudantes. “Tem alunos com renda alta e baixa, tem muitos brancos, mas tem porcentagem grande de pretos e pardos, eles moram em várias regiões, não só nas centrais”, afirma.
 
O professor atribui a variedade a políticas afirmativas, expansão dos câmpus e dos cursos noturnos. “Ao se tornar mais inclusiva, a universidade passou a retratar, a espelhar mais as desigualdades sociais e econômicas que existem no Brasil”, analisa. Assim, há mais alunos que precisam de apoio em equipamentos de informática e acesso à internet. Considerando que não há sub-representação dos mais vulneráveis e aplicando o percentual de cerca de 6% sem tablet ou computador ao total de discentes, é possível estimar que cerca de 2.400 graduandos necessitam de ajuda para ter algum dispositivo. 

Condições domésticas

Enquanto boa parte dos alunos dependem do SUS (Sistema Único de Saúde), grande proporção dos professores conta com plano de saúde. Tanto alunos quanto professores e técnicos precisarão conciliar, no ambiente de casa, muitas vezes compartilhado, além de atividades relacionadas à universidade, outros afazeres. Entre os professores, 47% têm interferências na realização de trabalho no domicílio e 6% consideram condições de trabalho em casa como ruim ou péssima.
 
“Não tem muito que a UnB possa fazer com relação a isso, mas é importante que a comunidade toda esteja ciente de que todos nós, docentes e discentes, estamos em casa tendo de fazer outras tarefas”, afirma Lúcio Rennó. “A gente recomenda algum tipo de sensibilidade ou conscientização de que será um período de dedicação que não será exclusivo ao ensino ou trabalho. A comunidade terá de ser compreensiva quanto a interrupções”, aponta. 
 

Acessibilidade digital

A maior parte dos professores tem boas condições de acesso a computador (94%) e à internet (98%), sendo que 84% dizem ter conexão de boa ou ótima qualidade. Parcela de 18% usa equipamentos cedidos pela UnB. Apesar de a conectividade não ser problema, 31% nunca usaram o Moodle, 25% usaram algumas vezes e 30% consideram o domínio da ferramenta ruim ou péssimo. Pouco mais de um terço (34%) não sabem produzir vídeos e nunca usaram o Teams. Cerca de 12% nunca participaram de webconferências ou cursos on-line. 
 
No total, 75% dos educadores têm mantido contato com alunos durante a pandemia, principalmente com orientandos e bolsistas de orientação. Aproximadamente 10% da comunidade discente entrevistada precisa de capacitação no uso do Moodle. “Os alunos apresentam mais familiaridade e frequência de uso de ferramentas digitais que os docentes”, compara Lúcio Rennó. Fica evidente a necessidade de treinamento dos professores para lidar com aulas remotas. A UnB está oferecendo capacitação nesse sentido.
 
 
 
Uma opção apresentada na nota técnica resultante do questionário para apoiar estudantes, além de fornecer equipamentos e internet, "seria possível considerar o uso de laboratórios de informática da UnB, respeitadas medidas de distanciamento social, uso de equipamentos pessoais de proteção e higienização, para que alunos sem equipamentos e internet, além de condições ruins de estudo no domicílio, também documentadas pela Pesquisa Social, pudessem realizar seus estudos nas dependências da universidade".

No entanto, esse acesso seria restrito e poderia ser concedido a estudantes que morem nas cercanias dos câmpus (independentemente de estudarem lá, permitindo o acesso à unidade mais perto da casa do estudante) e os que morem na residência universitária, que poderiam ir a pé ao câmpus, tendo em vista a grande parcela de alunos que dependem de transporte público. 

Por trás da pesquisa

Criado em 14 de maio, o Subcomitê de Pesquisa Social tem como principal missão levantar dados sociais e econômicos sobre a comunidade universitária para basear ações e nortear os próximos passos em meio à pandemia. Em seis semanas, o subcomitê aplicou o questionário (entre e 6 e 26 de junho) e concluiu a análise de dados. No total, foram coletados 25.897 questionários, preenchidos pelos quatro grupos da comunidade acadêmica: técnicos, docentes, discentes de graduação e discentes de pós-graduação.

UnB/Reprodução -
UnB/Reprodução -
UnB/Reprodução -
Helio Montferre/Esp. CB/D.A Press -